Meu nome é Atena Ferreira Gagliardi, sou Médica, especializada em Cardiologia, canceriana, divorciada e tenho 32 anos. Nunca gostei muito de me definir, justamente porque tenho a impressão de que isso acaba nos limitando um pouco. Mas posso dizer que já vivi de tudo um pouco nessa vida e não me canso de ser surpreendida com o que ela pode me proporcionar. Nasci e vivi no Leblon, bairro nobre da zona sul carioca, até os meus 17 anos, e até então tive a vida que toda menina sonharia em ter. Melhor escola do país, melhores carros na garagem, 2 viagens internacionais por ano e nossa, minha vida era perfeita (pelo menos eu achava que era). Mas do dia pra noite perdemos tudo, meu pai era dono de uma concessionária de carros de luxo, e me lembro como se fosse hoje o dia em que cheguei do meu cursinho pré vestibular (o mais top na época) e encontrei meus pais discutindo na sala. E naquele dia recebi uma notícia que mudaria a minha vida para sempre: meu pai era viciado em jogos e tinha uma dívida de milhões com um agiota. Milhões mesmo, gente! Primeiro vendemos um carro, depois veio o outro.... o cursinho? Primeiro sai de um, depois sai do de idiomas e quando vi só tinha sobrado a escola porque renegociamos todas as dívidas e o nosso apartamento. Ahhh o apartamento, de frente pra praia, era perfeito! Depois de todo esse caos meu pai já tinha conseguido dinheiro suficiente pra quitar a dívida, estávamos felizes e prontos pra recomeçar do zero, mas ai fomos surpreendidos com os juros do agiota, que eram ainda maiores, as ameaças se fizeram cada vez mais presentes e meu pai não aguentou o impacto das notícias ruins e em uma noite do início do verão, pouco mais de um mês após eu ter completado meus 17 anos, ele faleceu. Foi infarto.
Foi um choque, meu pai era meu maior ídolo da vida e descobrir tudo isso não mudou em nada do que eu sentia por ele. Mas doeu, ah como doeu, e ainda hoje a saudade queima o meu peito... mas a vida precisou seguir e ela mudou da água para o vinho. Com todas as notícias ruins não consegui prestar vestibular naquele ano e adiei um pouco meu sonho em ser médica. Eu e minha família, agora composta pela minha mãe, Alexia, na época com 37 anos e viúva, e minha irmã mais nova, Serena, com apenas 10 anos, tivemos que vender o apartamento para pagar os malditos juros e com o que nos sobrou - praticamente nada - nos mudamos para a Baixada, para a casa dos meus avós maternos, Rute e Sergio.
Minha mãe era de origem simples, nascida em Nova Iguaçu e conheceu meu pai aos 15 anos, porque o meu avô, famoso Serginho (TUDO pra mim!), era funcionário da empresa do meu outro avô, Alexandre, que não cheguei a conhecer. E aí começou a linda história de amor, que mudou completamente a vida dela, em todos os aspectos, mas foi interrompida cedo.
Enfim, mas minha vida não se resume apenas a tragedias e coisas ruins. Os primeiros meses foram difíceis, mas depois que nos instalamos na baixada as coisas foram, aos poucos, se reorganizando e voltando para o lugar. Como todos os amigos ricos que tínhamos nos viraram as costas, não restou outra alternativa a não ser nos reerguermos por nós mesmas. Minha mãe, que durante a adolescência ajudava minha avó em um salão de beleza, decidiu reabri-lo na frente da casa dos meus avós. Agora imaginem: de madame do Leblon à cabeleireira em Nova Iguaçu? Foi uma mudança enorme, mas ela conseguiu. Minha irmã foi para um colégio público da região. E eu.... confesso que eu era uma boa patricinha, só sabia ser fútil com minhas amigas, namorar, beber escondido, fumar maconha no Arpoador e estudar, diante de tantos defeitos preciso enfatizar que realmente eu era boa aluna. Então como não me restou outra alternativa, aprendi a fazer unhas e pela manhã era manicure no salão da minha mãe, já as tardes e as noites eu usava pra estudar para o vestibular. Era exaustivo, mas 6 meses depois veio a recompensa. Fui aprovada no vestibular de uma faculdade particular de Medicina, que ficava em Duque de Caxias, em primeiro lugar, e consegui uma bolsa de 100% pelo FIES.
15 anos depois de todo o ocorrido aqui estou eu, depois de tantas coisas ruins, parece que a vida foi generosa pra mim porque recebi inúmeras oportunidades. Logo no primeiro ano de faculdade eu conheci o João, ele era monitor da minha turma em Anatomia e alguns anos mais velho, não muito, mas começamos a nos envolver e 06 anos depois, assim que me formei, aos 24 anos, nos casamos. Nossa vida era quase que perfeita, por ironia do destino voltei a morar justamente no Leblon, depois de formada minha vida financeira voltou a evoluir consideravelmente, e conciliávamos nossa vida amorosa entre nossos plantões, consultas e em curtir uma vida de um casal recém casado. Foi tudo perfeito até 2018, me lembro como se fosse hoje, em um dia de jogo do Brasil, pelas oitavas da Copa do Mundo, após a seleção brasileira abrir 1x0 sobre o México, com um gol do Neymar, eu contei a ele que estava grávida. Foi um dos dias mais felizes das nossas vidas, era algo que queríamos muito, porém logo depois veio o baque: o mundo foi assolado por uma Pandemia, assim que terminou a copa, e a COVID se fez realidade.
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CALMARIA • Neymar JR
FanfikceAtena acaba de passar pelo período mais conturbado de sua vida, ela só não esperava que iria encontrar a calmaria em uma pessoa completamente inesperada. instagram: @mariagarza.dix
