Eu analisava aquela porcaria de roupa no espelho me perguntando: por que Deus me odeia tanto? Me perguntando também, por que diabos meu pai tinha que fazer isso comigo, quando não existem motivos para uma comemoração? Eu odeio holofotes, odeio esses olhares de pena, odeio que as pessoas pensem que estou frágil e por isso não posso exercer a minha profissão direito, odeio não poder simplesmente fingir que nada aconteceu e dar no pé largando todas essas pessoas com cara de idiota. O único estresse pós traumático que estou sentindo vem dessas pessoas falsas. Eu não quero receber medalhas, eu só quero atirar em alguma coisa, ou em alguém, quero ao menos tentar esvaziar a minha mente de toda a merda que passei naquele lugar nojento e sujo. Levou muito de mim, não revirar os olhos com aquele discurso chato das autoridades máximas da cidade. Quem deveria estar recebendo alguma coisa, não está aqui e isso é o que mais me intriga e irrita.
Cadê a porra do homem que estava me jurando amores, que simplesmente sumiu nos últimos dias?
Quem ele pensa que é, para sumir assim?
Ele meio que plantou uma porcaria de semente da dúvida na minha cabeça ao lançar isso sobre mim. Eu só quero transar com ele e ele só quer transar se eu disser a ele que sinto mais do que tesão.
Não é que eu não tenha, mas isso não se faz poxa! Eu sou a pessoa mais complicada para falar de amor, eu não conheço esse sentimento, não fui ensinada a tê-lo, a dar e recebê-lo. Por que não podemos, simplesmente continuar como estávamos? Precisa mesmo complicar as coisas? Precisa mesmo ouvir as palavras? Eu... merda!
Tento focar minha atenção para não deixar nada passar, meu pai exibia um sorriso no rosto, a farda bem passada, os cabelos bem penteados o próprio está agindo como se ele fosse o responsável por eu estar aqui, viva, sã e salva. Ele me fez acordar cedo, me vestir e por o mesmo uniforme destinado a eventos como esse, uma saia, cabelos bem arrumados, maquiagem leve e a seriedade no olhar de quem fez algo digno de mérito.
— Para que tudo isso?
— Para você, minha querida. — Meu pai diz com aquele sorriso típico de magnata.
Que eu odeio.
O homem estava discursando sobre honra e bravura, falava sobre como os "antigos heróis" foram e são importantes para inspirar pessoas a fazerem o mesmo nos dias de hoje. Me olhava as vezes dando exemplo sobre mim, como se me conhecesse ou como se soubesse o que passei, minha vontade é de dar as costas e fingir que isso nunca aconteceu.
Quanta merda cuspida.
— Eu não gosto disso. — Murmuro. — Onde está Shawn? Era ele quem deveria receber uma medalha não eu.
— Eu não sei. — Meu pai rebate agora me olhando diretamente. — Provavelmente deve ter voltado para o buraco de onde nunca deveria ter saído.
Contenho um rosnado.
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Calibre 69 - Shortfic.
ActionNenhuma arma foi capaz de matar os sentimentos que afloraram em meu peito quando a vi pela primeira vez. Ela chegou como uma bala e atravessou meu coração, pegou o soldado sem colete, sem proteção alguma e sem que eu esperasse eu já estava completam...