Consume

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Abri os olhos, e me encontrei sozinha em minha casa de infância. Como eu vim parar

aqui? Bem, acho que não importa, o lugar está um pouco diferente do que eu me lembro,

um pouco mais escuro e... maior?

Não sei ao certo, e nem quanto tempo se passa até eu

olhar para uma janela e vejo uma versão menor de mim brincando no balanço no quintal

junto de um homem que imagino ser meu pai.

Até que de longe eu vejo alguém apontando uma espécie de arma para a dupla no quintal,

tento bater no vidro, mas nada adianta, tento gritar, mas minha voz não existia, sinto que estou sufocando quando coloco as mãos na garganta.

Fecho os olhos para não ver o que está prestes a acontecer.

Não ouço nenhum barulho.

Abro novamente os olhos devagar e vejo as três pessoas olhando pra mim com um sorriso medonho nos lábios.

🌸🌸🌸

Acordo sobressaltada e tenho a plena certeza de que estou suando, esse tipo de pesadelo vem acontecendo desde que eu perdi meu pai há um mês.

Verifico as horas no celular e ainda falta meia hora para o alarme, me sento na cama e por mais que eu não queira fico remoendo o pesadelo na minha mente, odeio essa sensação.

Passo a mão no rosto diversas vezes, mas a sensação ruim não passa, então recorro a uma salvação que sinceramente não me orgulho muito, me levanto em direção a primeira gaveta na cômoda, e busco por um beck que eu tenho certeza que está aqui. O acendo e levo em direção aos meus lábios então aproveito o máximo desse conforto momentâneo.

Respiro e inspiro várias vezes enquanto esfrego o peito na intenção de me acalma depois que apago meu cigarro e falho miseravelmente, talvez um banho funcione melhor, me levanto e vou em direção ao banheiro, evito me olhar no espelho tenho certeza que meus olhos estão tão inchados que eles poderiam facilmente saltar do meu crânio.

Sigo em direção ao chuveiro.

Tenho a impressão de que demoro mais do que

necessário, e quando saio seco meu cabelo meio de qualquer jeito e pego a primeira roupa

a vista que se baseia em uma blusa bem maior do que eu e uma calça de lavagem escura.

Finalmente checo meu celular e encontro várias mensagens que propositalmente ignoro,

exceto por uma: Mariana me chamando pra comprar ao menos um caderno pro próximo

semestre e muito relutante eu aceito.

Mariana se tornou minha melhor amiga nos últimos três anos, nos conhecemos na faculdade e desde então criamos um laço muito forte, e nos últimos tempos, ela tem sido a única luz da minha vida.

Às 9:40 uma menina alta, de cabelos cacheados de tons ruivos e com roupas alegres, invade meu apartamento.

Invadir não é bem a palavra, já que ela tem a chave.

-Finalmente decidiu me responder Ceci, te trouxe café da manhã e sei que você não tomou.

O sorriso dela poderia facilmente me contagiar em outra situação.

-Bom dia pra você também Mariana e obrigado.- Tento parecer ao menos um pouco feliz.

-Como você está, Cecília? Resposta sincera, não minta pra mim.

Amigos que se beijamOnde histórias criam vida. Descubra agora