CAPÍTULO 1

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Na noite fria e chuvosa, mesmo que em pleno verão, uma jovem andava pelas ruas, sozinha e distraída, observando a chuva sem se preocupar com as vestes molhadas e o cabelo bagunçado

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Na noite fria e chuvosa, mesmo que em pleno verão, uma jovem andava pelas ruas, sozinha e distraída, observando a chuva sem se preocupar com as vestes molhadas e o cabelo bagunçado. Estava absorta demais nos próprios pensamentos sobre tudo o que aconteceu nas últimas horas.

Horas passadas tão rapidamente que nem se deu conta do quanto estava longe de casa, nem mesmo se deu conta de que já havia escurecido. Nada importava agora, seu mundo desabou no momento que aquelas palavras saíram da boca dos tios e entraram como facas afiadas em seus ouvidos. A fatídica notícia de que sua vida havia acabado, sua liberdade já não estava ao seu alcance, ela agora pertencia a outra pessoa. Um estranho em quem não podia confiar.

A vida de Nikko era perfeita até os 12 anos quando os pais ainda estavam com ela. Era tudo tão mágico, que agora, as memórias pareciam-se com sonhos distantes da realidade enfrentada.

Se lembrava de como gostava de se sentar junto da mãe no sofá enquanto bebia um copo de leite e ouvia as incríveis histórias de heróis e princesas que a mais velha contava.

Se lembrava também de quando saia com os patins com o pai, que sempre precisava correr para se manter junto dela que aumentava a velocidade das rodas cada vez mais, e de como ria sempre que o pai a alcançava e pedia para ir devagar. Se lembrava do quanto era feliz antes de sair de uma competição de eletrônicos, dentro do carro as risadas da família eram ouvidas cada vez mais altas, principalmente a da pequena garota orgulhosa de si mesma pelo prêmio recém-conquistado na escola.

O barulho da lataria do carro derrapando e logo após um baque surdo foi só o que Nikko ouviu antes de o carro bater contra uma árvore. Eles não estavam correndo, era como se algo tivesse tirado o controle do pai sobre o volante do carro. Desorientada e em choque ela mal nota que o pai a chamava desesperadamente a mandando sair do carro antes que o mesmo explodisse. Quando a criança recobrou a consciência já estava em um quarto hospitalar. Sozinha. Perdida.

A mente estava confusa, só via flashes de memória, sem nenhuma conexão. Até que as peças se encaixaram e a ficha caiu. A mãe havia morrido, não se lembrava de ver o pai depois que foi tirada do carro, mas logo foi convencida de que ele estava morto quando foi levada para a casa dos tios.

Agora Nikko morava com Willian e Florence os tios maternos. Eles eram cruéis, sempre fazendo questão e dizer o quanto ela era inútil, o quanto ela estragava a vida deles, o quão ela estava sozinha.

A vida dela era um inferno.

Ela já tinha uma rotina diária de obrigações e deveres facilmente comparadas com a de uma escrava e a aguentava com sucesso, ficava quieta e esperava tudo acabar. Já não se importava mais se seus tios a faziam limpar a casa novamente, ou se jogavam algo nela quando se irritavam. Não se deixava abalar quando a ofendiam ou a deixavam sem comer por um ou dois dias para ensinar uma lição.

Ela só não esperava que os tios eram capaz disso.

“você só traz prejuízo nessa casa, arrume as malas, o senhor Benson irá nos dar muito em troca da sua vidinha insuportável”

As palavras da tia ainda ecoavam na cabeça de Nikko. Ela se perguntava com tudo tinha ficado assim. Se encontrava assustada e ansiosa. Era obvio que a menina não tinha uma família que lhe dava apoio e carinho, mas era inegável o talento que a menina tinha. Era quase um dom, ela enxergava tudo como todo mundo, porém ela via mais além. Nikko era dona de uma inteligência sem comparação, uma mente brilhante e certamente tinha um dom para resolver problemas que ninguém mais conseguia e tudo que envolvesse tecnologia. No entanto, nem mesmo seus dons a livram do terrível destino que lhe aguardava.

A jovem sempre se orgulhava disso, era o que fazia dela especial, o que, na mente dela, fazia os pais sentirem orgulho dela. Mas agora era o motivo de ter sido vendida como um mero objeto sem importância para um homem rico que, aparentemente, não conseguiu alguém com as habilidades dela disposto a trabalhar pra ele.

Cansada de vagar sozinha e começando a sentir o frio decidiu voltar para a casa dos tios. E durante a caminhada de volta tentou esquecer, mesmo que por poucos instantes, que tinham lhe tirado sua chance de escolha.

A realidade de um sonhoOnde histórias criam vida. Descubra agora