Em algum momento da sua vida o sentimento de enclausuramento e solidão fizeram parte da sua rotina. Independente do lugar e da hora ou de quantas pessoas estão ao seu redor você se sente deslocado, perdido, sem propósito ou futuro. Você sente como se nada fizesse sentido, como se suas ações não tivessem reações. Você sente como se nada importasse, como se você não importasse ou não fosse útil.Pensamentos como: "eu devia levantar"; "devia fazer algo que fosse importante"; "eu devia melhorar...melhorar o que?"; " por que eu deveria melhorar por nada?"; "eu não sou importante".
Esses pensamentos, esse sentimento, eram exatamente o que a jovem jogada no chão do quarto escuro pensava. Era assim que ela se sentia. Um animal enjaulado e machucado sem nenhuma força pra lutar. Ela já tinha se acostumado com isso, se era bom ou ruim não importava. Os socos, chutes, xingamentos e machucados não doíam mais.
Assim como a dor, aquela força, aquela vontade de viver, de ser livre, de lutar, não existia mais. Ela já tinha perdido tudo. Toda aquela determinação e disposição se foram nos últimos quatro meses.
Quatro meses
Cento e vinte dias de fugas fracassadas, castigos e privação social. 3 meses atrás, Elena apareceu perguntando como ela estava se sentido após o surto qu teve com a psicóloga, ela quase riu do motivo criado pelo patriarca Benson para sua ausência, ela teria rido, na verdade, se não estivesse com vários hematomas "autoinfligidos" no rosto e no corpo. Em vez disso, limitou-se a dizer que estava bem e que queria ficar sozinha. A amiga não voltou depois disso.
Os colegas de escola, Olivia, Elena e kaleb pensavam que a ruiva estava tendo recaídas constantes no processo de luto, e que tais recaídas a deixavam agressiva e perigosa para se própria. Enquanto isso Nikko lutava para traçar um novo destino para si mesma, guerreava para sair das garras do monstro que a confinava e retalhava.
Mas ela perdeu as forças e a esperança!
No momento, mais do que tudo, ela desejava evaporar. Sumir de forma rápida e imperceptível. Sem mais dor, sem mais medo, sem mais tristeza. Ela só queria morrer. Acabar com seu próprio sofrimento perpetuamente e reencontrar seus pais. Ela queria dormir e sonhar com uma casa humilde no campo, longe de tudo e todos, cercada pela natureza e pelo sussurro silencioso do vento e do rio. Ela queria sonhar e nunca mais acordar
Seria melhor assim, não é? Ninguém sentiria falta dela de qualquer maneira. Ninguém faria perguntas demais sobre a garota órfã que dormiu e jamais despertou. Ninguém iria ao seu enterro e diria palavras bonitas por que ninguém se importava com ela, ninguém a conhecia.
Talvez seu sono eterno fosse a fofoca da escola por alguns dias, talvez algumas semanas, e depois disso todos seguiriam suas vidas, até por que, ela não era ninguém importante para que sua morte causasse luto em alguém. Exceto por Elena! AH, Elena! Ela choraria, diria palavras bonitas e lembraria dela por algum tempo, mas não por toda a vida. A loira seguiria em frente de forma rápida, ela ainda teria a mãe e o irmão para oferecerem conforto pela perda da... amiga? Colega?
A morte nunca foi algo temido pela Rodrigues, na verdade, ela enxergava a morte como algo cotidiano, afinal, pessoas morrem todos os dias e, um dia, seria a vez dela. Entretanto, ela nunca pensou que ela causaria a própria morte com um pedaço do que costumava ser o espelho do banheiro e, muito menos esperou que fosse ser algo indolor.
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bip.....bip.....bip....bip.....bip....bip.....bip
Sabia que depois que passamos muito tempo sem dormir, o corpo como um todo fica cansado, incluindo os olhos? Então acabamos usando menos os músculos responsáveis por piscar e, consequentemente, lubrificando menos os olhos. Nossos olhos ficam mais expostos, dando uma sensação de ressecamento. Os olhos violetas de Nikko ardiam com a luz branca a qual foi exposta ao acordar. O barulho do monitor cardíaco parecia vir de longe e vista ainda estava desfocada.
Ela estava em um hospital. Sozinha em um quarto de hospital!
Ela desceu da maca, ainda que meio zonza, após retirar as agulhas em seu braço, se desvencilhando dos aparelhos enquanto olhava ao redor. Ela identificou três rosas amarradas juntas por uma fitinha juntamente de um bilhete. Ela não conhecia a caligrafia, porém, ela não se importou com quem havia escrito e sim com a mensagem:
Não vai ter muito tempo sozinha depois que acordar! Desça pela corda na janela e corra.
Não confie em ninguém!
F.
A ruiva não hesitou em correr até a janela e verificar a existência da corda grossa pendurada do lado de fora. El estava no segundo andar, não seria difícil descer.
Nikko respirou fundo antes de começar a descer pela corda, ela foi rápida e logo estava no chão do lado de fora do hospital. Ela estava tonta! Seu corpo doía enquanto sua cabeça parecia explodir.
A jovem reparou que estava descalça e com roupas de hospital mas não de importou. Ela correu para longe do hospital e para longe da rua movimentada logo em frente. Sem parar! Olhando para trás a cada passo, com a respiração ofegante e a visão embaçada, com dores em todo lugar e um cansaço extremo e, mesmo assim, ela não parou! Ela ignorou os pés que sangravam um pouco, e continuou correndo, ela sentia que a alguém a observava de longe e, por alguma razão, sabia que não era Benson ou Silas. Em determinado momento ela começou a chorar, ela não sabia exatamente o motivo mas ela continuou chorando e correndo. Ela correu por muito tempo antes de tropeçar nos próprios pés e não ter forças para levantar, sentia como se tivesse levado marteladas na cabeça de tanta dor. O mundo girava rápido demais ao redor dela enquanto ela continuava deitada no chão. Ela não conseguia pensar! Em determinado momento, ela achou ter visto aqueles olhos. Os olhos que atormentavam seus pesadelos desde o acidente, mas, diferentemente daquela noite, ela não sentiu medo, receio talvez, mas medo não. No entanto, o dono daqueles olhos correu quando o barulho de passos pesados se fez presente e dessa vez, Nikko tinha a certeza de duas coisas. A primeira, alguém se importava com ela, alguém misterioso. A segunda, ela lutaria por si mesma até seu último suspiro, e ela seria livre, mesmo que precisasse esperar pela eternidade.
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A realidade de um sonho
Mystery / ThrillerUma jovem órfã, assombrada pelo próprio passado, é vendida pelos tios para o dono de uma grande empresa. Lucas Benson, que não é um exemplo de bom pai ou marido, enxerga nossa jovem Nikko apenas como um meio para atingir seus objetivos se aproveitan...