Capítulo 2

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Depois de certo tempo chegou na casa de seus, não tão amados, tios. Se esforçando ao máximo para não fazer barulho por não querer acordar os tios andou na ponta dos pés até a parte de trás da casa para deixar o agasalho e os sapatos molhados antes de descer para seu quarto e tomar um banho antes de dormir. Entretanto, ouviu uma conversa vinda da sala no caminho. Reconheceu a voz dos tios, mas eles conversavam com um desconhecido que não parecia muito paciente.

- Não me interessa se ela é rebelde ou não. Eu quero ela aqui agora da forma como combinamos- disse o desconhecido sem muita paciência.

Não precisava ser muito inteligente para perceber que falavam dela. Ao tentar se afastar acabou fazendo barulho alertando os 3 adultos na sala de sua presença no local. No mesmo instante o tio foi em sua direção e segurou seu braço com uma força desnecessária a arrastando em seguida até o desconhecido.

- Aqui está ela! Como prometido, espero que sua parte do acordo também seja cumprida o mais rápido possível, senhor Benson.- disse a tia com certo desgosto na voz ao se referir à sobrinha.

Senhor Benson, um homem com feições sérias, não aparentava mais de 35 anos. Tinha um olhar que causava medo em qualquer um, principalmente na jovem à sua frente.

Nikko estava com medo. Medo do homem para o qual olhava. Medo do que viria a seguir, de como seria sua vida a partir daquele momento.

- Eu sempre cumpro com minha palavra senhora Álvarez- disse o homem em um tom de voz firme- Mocinha, se tiver algo de importante para pegar sugiro que o faça agora.- completou olhando para Nikko que ainda estava sendo segurada pelo tio.

Após isso, sem muita escolha, Nikko correu para seu quarto e numa mochila colocou seu computador e seu celular, algumas roupas e a pelúcia em forma de lobo que ganhou dos pais quando era pequena. Não demorou muito para descer novamente e de cabeça baixa.

Assim que voltou para a sala seu tio apertava a mão do Benson com um sorriso estampado na face pelo acordo que tinha se completado.

Senhor Benson logo que notou a presença da mais nova foi até ela e a guiou com certa força para fora da casa e a fez entrar no banco de trás de um carro preto. Por alguns minutos, que pareceram séculos, de silenciosa reflexão da jovem, o homem ao seu lado se pronunciou com um tom sério e indiferente que fez Nikko se arrepiar.

- Você tem celular?- perguntou e, quando não obteve resposta disse de forma quase ameaçadora- Eu te fiz uma pergunta, mocinha.

- Sim- respondeu a ruiva quase num sussurro amedrontado.

- Então me entregue, rápido- disse no mesmo tom.

Nikko logo botou a mão dentro da bolsa, tirando o celular e entregando para o homem ao seu lado. Suas mãos trêmulas deixavam seu medo e insegurança bem claros. Assim que o mais velho pôs as mãos no aparelho o jogou com toda força pela janela.

- A partir de agora, você está proibida de usar qualquer aparelho eletrônico para qualquer fim que não sejam os trabalhos que eu vou te dar, entendeu?- a jovem rapidamente concordou com a cabeça e o homem continuou- você vai morar na minha casa, com minha família e, caso alguém pergunte, você é a filha de um antigo amigo meu que faleceu. Só vai sair da casa comigo para a empresa ou com meus filhos para a escola. Não deve mencionar que eu paguei seus tios pela sua guarda para ninguém. Fui claro?

Novamente, nervosa e assustada Nikko apenas concordou com a cabeça. O resto do caminho foi silencioso de ambas as partes. A ruiva se concentrou em olhar a paisagem pela janela e logo percebeu que estavam em uma parte mais nobre da cidade. Em sua frente, ela só enxergava grandes casas luxuosas e bem cuidadas, o que só confirmou as suspeitas da moça de que o homem ao seu lado era rico e influente. Ninguém faria perguntas sobre o motivo pelo qual ela fora adotada pelo senhor Benson. Não que existisse alguém se importaria com o repentino sumiço da jovem da casa dos tios ou da antiga escola.

Por um momento a mais na vida, Nikko precisou ser forte o bastante para se acalmar e permanecer assim. Novamente ela estava sozinha e, sozinha, teria que pensar em uma maneira de se proteger das crueldades que o destino impôs a ela.

Não demorou muito para que o carro passasse por um grande portão e parasse em frente a uma mansão de aparência pouco visível graças a pouca quantidade de luz no local. A jovem foi bruscamente tirada de seus devaneios e empurrada com brutalidade para fora do automóvel por um homem grande, forte de pele escura com um rosto não muito amigável. Assim que foi arrasta para fora do carro foi, forçadamente, guiada pelo brutamonte para dentro da casa e depois de alguns minutos de caminhada silenciosa e vários tropeços por parte da mais nova, eles chegaram em um corredor mais afastado dos outros, e diferente das outras áreas da mansão pelas quais passaram, era simples, sem muita decoração ou cores. Nikko foi empurrada para frente da última porta do lado esquerdo do corredor que não tardou a ser aberta pelo homem ao seu lado que a jogou lá dentro sem nenhuma delicadeza e trancou a porta.

O quarto era grande se comparado ao seu antigo. Tudo dentro dele era das cores branco cinza e azul-claro. Além da porta pela qual entrou, Nikko notou a presença de outra, essa, porém, levava a um banheiro de tamanho médio com a mesma paleta de cores do quarto. Do lado da porta do banheiro havia um grande armário, onde a menina guardou sua pequena bagagem. A cama de casal no meio do quarto estava coberta por lençóis cinzas e na parede oposta a porta de entrada tinha uma janela com grades e vista para o jardim da casa, iluminado apenas pelo brilho da lua.

A realidade de um sonhoOnde histórias criam vida. Descubra agora