PETRICHOR

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Cheiro da chuva em terra seca.

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Flossie acorda com tapas na cara.

"Finalmente, acordou." O sequestrador a agarra pelo cabelo.

A garota não tem tempo de respirar ou entender o que estava acontecendo. Tudo que conseguiu compreender foi o fato de estar de volta no porão, junto de Finney.

Ela geme de dor enquanto é carregada até o meio do porão. Finney a observa quieto e assustado. Ele por fim a joga perto de um balde.

Flossie observa o balde de longe e consegue perceber que tem sangue dentro dele. Ela entreolha para Finney e para o sequestrador.

"Aqui, você vai conhecer o fogo do inferno." Diz ele.

Ela não responde só engole seco e continua observando o balde em sua frente. O sequestrador a puxa pelo cabelo de novo e faz com que ela encoste suas mãos no balde para tentar se equilibrar.

"Sabe o que é isso?" Pergunta ele.

"Sangue." Ela cochicha.

"É mas não é só sangue." Ele sorri e a coloca cara a cara com ele, "É o sangue dos seus amigos."

Ela paralisa e seu coração bate mais forte.

"Está com medo?" Ele gargalha, "Pois deveria."

Flossie não tem forças e nem tempo para reagir, o sequestrador pega ela e mergulha seu rosto no sangue.

Ela fica desesperada, tentando sair daquele mar vermelho. Griffin, Bruce e Robin. São o sangue deles que está entrando em cada poro da face da garota.

Flossie não consegue gritar por causa da densidade do sangue e não sabia que aquele se tornaria seu maior pesadelo.

Sempre odiou sangue, mas sangue dos seus amigos? Pior sensação do mundo.

Ele a levanta e sorri, "Gostou?"

Ela cospe o resto de sangue na cara dele e mal tem tempo de respirar, o sequestrador fica mais irritado ainda e a mergulha de novo.

É humilhante e desumano. Odeia sangue. Odeia muito sangue.

Sangue. Sangue. Odeia sangue.

Sangue. Sangue

Sangue. Sangue. Sangue

Sangue do Robin.

Sangue. Odeia Sangue. Odeia Sangue.

Sangue do Griffin.

Sangue do Bruce.

Sangue. Sangue. Sangue. Sangue.

Odeia sangue.

Sangue do Bruce. Sangue do Robin. Sangue do Griffin.

Eles morreram. Estão mortos. Mortos. Mortos que não voltam mais.

Eles não podem mais sentir a grama com o pé descalço. Não podem receber a lambida de um cachorro. Não podem sentir o cheiro que a chuva deixa na terra.

Não podem receber abraço de seus pais. Não podem mais tomar chocolate quente. Não podem mais rir com seus amigos. Não podem mais amar.

O amor é a essência de tudo e eles perderam isso. Perderam a vida. Se Flossie desistir aqui e agora, as mortes deles serão em vão.

Ela não pode deixar que elas aconteçam de novo. Finney e Billy tem que sobreviver. Vance não pode ser pego.

Então, ela para de se mexer. Para de lutar. Para de tentar fugir. Ela aceita.

O sequestrador a solta e a garota não escuta mais nada por causa do som abafado do sangue ao redor, e até mesmo dentro de suas orelhas.

Ela precisa aguentar. Precisa aguentar por Finney e Billy, mas principalmente por Robin, Griffin e Bruce.

Depois de incansáveis minutos que pareceram horas, ela sente um braço ao redor de suas costas. Não era um braço que queria machucá-la, era um braço que queria conforta-lá. Abraço.

Flossie levanta sua cabeça do balde de sangue e respira fundo, muito fundo. Finney cai para trás assustado.

Ela olha para o seu próprio corpo manchado de sangue e tem que se controlar para não surtar. Finney a abraça de novo, enquanto chora.

"Você tá viva." Ele choraminga, "Tá viva mesmo, meu Deus."

Ela sorri levemente e o abraça de volta, "Eu fingi que estava morta, ele não ia cansar até eu morrer."

"Ainda bem que é inteligente." Ele olha para ela, "Eu não podia te perder Flossie, Robin...Robin já foi o suficiente."

Ela o aperta mais forte no abraço, "Eu ainda tô aqui." Por trás do abraço, ela consegue ver o porão, e então seu olhar procura por alguém, "Cadê o Billy? Por que ele nao está com a gente?"

"Billy? Billy está vivo?"

"Eu estava com ele na outra casa!"

"Outra casa? Era aonde estava esse tempo todo?"

"É. Mas não entendi porque ele me trouxe de volta para cá."

"Ele provavelmente queria me ensinar uma lição, eu o irrito bastante."

Ela ri.

"Estou feliz que está viva." Finney se desespera, "Mas ele vai voltar. Ele vem buscar seu corpo."

"E nós vamos estar preparados."

"Como?"

Seu olhar se fixa no telefone preto ao lado da cama e ela aponta com o dedo, "Assim."

[...]

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The Sinner || O Telefone PretoOnde histórias criam vida. Descubra agora