O NOVO DONO

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Davi narrando...

Tô atordoado com o bagulho da Rocinha!
Porra, o Bin?
Que isso?
Esse maluco tá achando que é jogador pra trocar a camisa assim? Trocando de clube?
Porra!O Bin, caralho?

Impossível crer nesse papo aí, na moral!
Cheio de ódio no coração!
Nunca fui olho grande, nunca!
Pela saco, comédia do caralho!

Entro em casa e vejo a Carla chorando pra caralho, vermelha! Entendo nada!!

_O que tá se havendo aqui, Carla? O que fizeram pra você? - Meu sangue ferve, não consigo nem imaginar o que sou capaz de fazer com quem deixou ela assim! Eu sei que não fui!

_Não é nada...nada! - Ela seca as lágrimas, mas continua com o nariz vermelho; branca pra caralho, qualquer coisa já marca.

_Ah tá que tu vai chorar assim por nada!

Dou uma pausa e penso melhor...será que eu dei algum mole e ela descobriu? Balanço a cabeça.
Não, eu tô na moral, tiozão do crime.

_Fala porra! - abraço ela.
Ela desaba.
Sento com ela no sofá e ela fica ali uma cota, segurando minha camisa.
Quando vejo que já dei o tempo dela, puxo seu rosto pela mão e a encaro.

_Amor, não tem segredo pra gente, lembra? Não me fez prometer isso? Então fala agora, o que te deixou assim? Alguma coisa com seus coroas?
Ela faz que não com a cabeça e enxuga o nariz com a palma da mão; tempo depois, ela finalmente ensaia uma fala, mas se cala novamente, uma nova lágrima cai.

_FALA, PORRA! - Agora eu tô realmente preocupado!
Ela encosta a cabeça no sofá largo que escolheu a dedo e esconde o rosto.

_Eu recebi o resultado, Davi! Tá no meu email!

Exame?

Que porra de exame?

Ela tava doente?

Passei alguma porra pra ela?

Jamais me perdoaria se tivesse...mano, não!

_Que exame? - pergunto baixo, com medo.
Ela chora

_QUE EXAME! OLHA PRA MIM! QUE EXAME CARALHO? - Grito com ela porque não aguento mais aquela merda!Já cheguei aqui pilhadão, agora eu tô a ponto de explodir!

_Eu não posso ser mãe! Não posso! Eu sou seca, entendeu?Minha boca fecha e meu corpo cai,sem mexer um músculo
_Que? - ouço minha voz sair, mas não lembro de ter falado; eu estava anestesiado!

_Davi, meu sonho...e agora...acabou...não tem como...meu amor...eu não posso te dar um filho!
Ela me fala com vergonha, sem força, como se estivesse diminuído como mulher.
Eu a puxo pra um abraço e ela me aperta com força.

_Eu queria tanto! Sei que você não queria antes...mas agora que nossa vida estabilizou...eu sonhei tanto com o momento em que te daria a noticia, eu tinha tantos planos...Eu acariciava o cabelo negro dela, sentia a dor dela e, pra dizer a verdade, uma dor meio estranha percorreu meu corpo também!

Por mais que eu fosse sempre o durão que mantinha a questão de ter filhos que poderiam ficar sem pai , orfãos como eu , essa mentalidade tinha ficado pra trás.
Principalmente depois que vi meu compadre amarradão com a princesinha dele...

Agora que ela me deu essa notícia, eu realizei que durante esse tempo, eu tinha mudado; minha mente tinha mudado pra várias paradas...inclusive, seria mesmo uma parada muito foda receber a notícia de ser pai de um moleque com marra dupla , da mãe e do pai.

Ia ser foda andar com um menorzinho de moto, marolando, esperando o pão quente pra levar pra mãe; mesa posta, café da tarde, Carla dando as coisinhas na boca dele, eu esperando ela dar um mole pra dar umas comidinhas proibidas, uns biscoitos e tal!

Ela sempre deu o papo de que criaria nosso filho na pegada natureba, eu concordava com ela, mas na verdade eu iria arregar muito pro meu filho; dar vários danones, biscoitos, yakult e o caralho!Tudo que eu e meu irmão víamos as outras crianças comer e não tinha em casa.

_Nós vamos dar um jeito! A gente sempre dá! - Falei, meio desconsolado também!
Ela desencosta e me olha

_Pra você tem jeito, pra mim que não!

Eu olho pra ela e não sei o que dizer.

Ela abaixa a cabeça

_Eu não aguentaria...sabe? - lágrimas rolam - Você tendo um filho...Com outra!

_Para de falar merda! Tá falando merda,já! - Ligo o meu modo ogro, pra não cair junto com ela! Não...eu preciso levantar a bola dela!

_Eu não tô te falando que vamos dar um jeito? Você pra mim é o que importa, porra! Nunca foi um filho! Você sabe!

Ela fica quieta e me abraça novamente; dessa vez eu sinto meu coração doer, porque agora a idéia de que não era uma escolha e sim uma sentença, me dava amargo na boca e na alma!
Passamos um tempo juntos e eu fazia carinho nela, ela era tudo pra mim e agora eu amava ela mais do que nunca!

Não era pena, mas era perceber o quanto ela me amava e esse momento de fragilidade dela...tão difícil dela deixar aparecer!

Meu telefone toca e eu não atendo, mas porra...nego insiste e eu peço pra ela aguentar , marcar um dez que eu ia ver qual era.

_ Davi? - uma voz masculina

_Fala aí, quem é? Ele mesmo!

_ Tenho um recado pra você, está podendo falar?

_Depende...recado de quem?

_Do André! - a voz misteriosa responde

_Como é que é? Que porra é essa?

O Deco é tido como morto e não mandaria recado por ninguém pra falar comigo!

_Tá me tirando, otário? O André tá morto! - Cara mandadão

_ Quem tá falando nessa porra?- Insisto, agora quero saber!

Pausa, ouço um sussurro, não identifico o que é dito.

_Davi, o que eu...

_Quem é porra? - Corto ele como uma peixeira afiada de açougueiro.

_O recado é do André Yssuz - Ele fala num tom mais forte _O André pai!

Eu seguro minha respiração; tranco tudo! Caralho!

_Tua linha é segura?