O NOVO DONO

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Alice narrando...

Carla almoçou conosco e como sempre, foi maravilhoso!
A presença dela era incrível, ela tinha muita energia!
Nos contou sobre um bebê que estava abandonado , praticamente, e minha mãe quis saber onde.

Depois de nos explicar o que havia acontecido, não pude deixar perceber os olhos da minha mãe me escaneando...
A história era parecida com a minha, e ela sabia que eu estaria pensando nisso.
A Carla pediu um favor, e atendemos: Uma lista de coisas que bebês precisam.
Sabíamos bem, porque estávamos vivendo com bebê em casa há muito tempo!
Após colocarmos tudo, ela citou que o bebê estava se alimentando com um tipo de mingau e minha mãe torceu o nariz na hora.
_Existe algo que se assemelha ao leite materno, digo...em alimentação mesmo? sei lá...essa criança deve estar sofrendo tomando esse tipo de coisa, sabe?

Minha mãe segurou a mão dela nessa hora

_Você é tão humana, Carla! Eu tenho tanto orgulho de você...de como desde novinha você teve esse lindo lado materno pulsando...cuidando tão bem do Davi...dos irmãos! Você será uma ótima mãe, minha querida!

Nesse momento ela olhou pra baixo e ficamos desconcertadas, porque ela começou a chorar...chorou muito.
Eu abracei ela e ela trouxe os braços até meu pescoço.

Eu nunca tinha visto a Carla chorar!
Nunca na vida!

Ela era uma fortaleza absurda e ao ver os olhos da minha mãe lacrimejando, logo percebi que aquilo era novo pra ela também.
Duas mulheres fortes, emocionadas aqui, na minha frente!

_Ei..Ei.. vem aqui! - minha mãe puxou ela - O que está havendo, Carlinha? hein? 

Minha mãe dizia baixo, acariciando as costas dela.
Aquela cena estava me deixando sensível também e eu levantei pra buscar um suco pra Carla; ela desencostou da minha mãe e pegou o copo, meio tremula, vermelhinha de chorar.

O que ela nos contou, depois, nos levou todas, as lágrimas.
A carla não pode ser mãe...que triste...ela não pode ter um filho do homem que ama! Não pode ser mãe!

Minha mãe fez com a cabeça um sinal para que eu as deixasse a sós, atendi ; Tenho certeza que ela vai falar de adoção, e que esse assunto é meio difícil dela tocar na minha frente.

Fui pra área da piscina e sentei na borda, jogando minhas pernas na água; ainda estava triste pela Carla e estar triste era meu novo lugar comum, agora.

Será que nunca mais seria como era?
Será que nunca mais eu voltaria a me alegrar, a ser aquela Alice cheia de energia?

Penso na Carla, como ela foi de um ponto ao outro...Energia e vitalidade, até uma tristeza que parecia o luto...isso tudo ali, na minha frente!
Difícil... difícil a beça!

A Carla sempre, sempre quis ser mãe e eu lembro que o Davi não deixava...e agora, bem...agora ela descobriu que a vida não tinha deixado!

O destino prega suas peças com todos...O grande vilão!

Acho que a única que está 100% é a Luana, com o seu final feliz que tanto merecia...
Eu, minha mãe, a Carla...todas temos marcas muito profundas...
Será que é isso que as deixa forte?
Será que eu também seria forte, depois que isso tudo passasse?

Ouço meu telefone tocar e corro pra buscar ele na cozinha; vejo que minha mãe está numa conversa séria com a Carla e me retiro, de volta pra cozinha.

O telefone parou de tocar.

Quando procuro a ligação perdida, meu coração acelera!

Eu salvei o número do Ramon como "farmácia" , pro caso da minha mãe mexer...ela tinha digital cadastrada também nesse novo aparelho, afinal antes não havia porquê esconder nada.