Chegando ao hospital Curry Cabral,é que consegui compreender a dimensão que o Hiv, estava realmente a ter na nosssa sociedade,porque ao chegar á consula de infecciologia,apercebi-me ,da quantidade de jovens,que diáriamente têm que conviver com esta nova realidade,mas ao mesmo tempo vi que muitos deles,não sei o porquê,estavam a brincar com as enfermeiras,tanto que um dizia,que se ela não o tratasse bem,ele viria depois do Além para a inportunar,mas a minha grandre preocupação era o não saber nada da doença.
Fui chamado e comecei a conversar com a médica, onde me questionou,sobre,se eu sabia ou desconfiava de como tinha sido contaminado,onde e foi e em que altura.Depois de lhe responder ao que ela queria saber,começou a consulta,e disse-me que por enquanto estava tudo bem comigo,mas precisava de ser acompanhado regularmente,para se saber ,em que altura eu tinha que começar a tomar os retróvirais,e eu só lhe disse, que nunca iria tomar os medicametos,pois eu queria ser sempre o mesmo até ao fim,e por outro lado não podia,pois a minha vida,não dava,pois eu estava para começar a trabalhar no estrangeiro,e eu tinha que ir e voltar muitas vezes,e não sabia se ia conseguir consiliar a doença ao trabalho.
Depois de sair do hospital, dirigi-me ao escritório da empresa,e estava certo,ia mesmo nesse grupo uma semana depois,para a Alemanha,pensei que desse modo,a trabalhar,no que gostava eu fosse esquecer um pouco os ultimos dias,e de vedade,era isso mesmo que eu queria fazer,conhecer novos horizontes,onde eu me pudesse sentir bem.
Falei com a minha mãe, onde ela me apoiou muito e resolvi sim,ir rumo á Alemanha,nem que fosse por pouco tempo,mas muita coisa se passou de errado na minha vida,mas nem mesmo assim ,eu me arrependo de nada na minha vida,desde então.
Depois de me depedir da minha familia e amigos, fui directamente para o aeroporto,para embarcar para a cidade de Dresden na Alemanha,sabia que ia ser como recomeçar,mas não me importei,pois queria fazer novos amigos e conhecer novas culturas,ao chegar ao aeroporto,conheci os meus novos colegas,a única pergunta que eu me fiz a mim próprio, era se alguma vez eu teria coragem de contar a verdade sobre mim.
Chegamos a Dresden,o tradutor estava á nossa espera,o Zé,depois levou-nos aos nossos apartamentos e logo percebi, que era facil viver,se ninguém soubesse de nada.
Fiz grandes amigos mas nem mesmo assim eu fui capaz de contar nada,divertia-me com eles,bebiamos e iamos sempre para a discotéca juntos, e um dos meus grandes amigos foi o Zé tradutor,tanto que na segunda semana estavamos junttos a viver na mesma casa na cidade de Cotbus,uma cidade muito simpàtica e muito agradavél de se viver.
Estavamos a aranjar a casa a nosso gosto,depois começamos a tratar do nosso jantar,lembro que comemos nessa noite Calamares com arroz frito,acompanhado por uma salada verde,e bebemos um bom vinho do Alentejo,depois de muito conversarmos,ele disse que tratava da loiça,mas ao arrumar estava a por a loiça dele de parte,e eu logo lhe perguntei o que ele estava a fazer,logo pensei, que ele sabia ou desconfiava de algo que se passava comigo,e perguntei porque ele estava a fazer isso,foi. quando me respondeu, que queria que fosse assim,com a loiça sempre á parte,congelei por momentos,e a unica pergunta que me ocorreu era o porquê?E!e foi honesto ,e disse-me que era portador de Hepatite,mas nem isso me fez contar a verdade sobre mim,a unica coisa que lhe pedi era para não o fazer,porque eu não queria,e mesmo assim só ali viviamos nós os dois,nesse momento senti-me um hipòcrita,mas não iria contar nada,pois ainda não tinha a coragem que ele teve.
Acabamos de jantar e fomos a um bar Irlandês na cidade,ai bebi a minha primeira cerveja preta a Guiness, deliciosa,o Zé mostrou outro do seu lado,quando reparei ele jà estava a fazer olhinhos ao barman,logo ai percebi ,que como eu,ele tambem era bissexual.
Fomos até á discoteca e ai acabamos por nos beijar,mas eu pedi para pararmos,pois não podiamos ter nada,porque para termos sexo juntos,eu sabia que !he tinha que ser honesto com ele,se ele era interessante?Era sim,mas eu queria ter sexo,mas não com um amigo ou colega de trabalho,e felizmente ,ele conseguiu perceber esssa parte!
Voltamos para nossa casa,e foi tão bom,sem sexo,mas dormimos juntos, e conversamos até adormecermos!
Fiquei em Cotbus um ano ,foi magnifico,conheci pessoas diferentes,e durante esse ano,sim ,pratiquei sexo,mas sempre sexo seguro,estava com pena de me vir embora,mas a verdade é que fui convidado para vir passsar quinze dias a Portugal e então ia para a Holanda por uma firma nova,aceitei sim ,ia trabalhar com o meu irmão.
O Zé e os outros colegas fizeram-me a festa de despedida,bebemos comemos juntos,antes de ir para o aeroporto paramos num parque,que lindo era,jà não sentia uma paz de espirito ,como nesse dia ,há jà bastante tempo!
O Zé é que me levou ao aeroporto,despedindo-me dele,eu dei-lhe o meu fio ,que carregava comigo ao pescoço,e disse que era para nunca se esquecer de mim,porque ele tinha sido uma pessoa importante para mim,quando me perguntou se era assim tão importante para mim,porque é que eu não deixei que tudo acontecesse entre nós, ai fui honesto e disse a verdade:Sabes Zé,se eu deixasse, que acontecesse algo forte entre nós, não estava a ser correcto contigo nem comigo, pois tu és portador de Hepatite e eu de certeza que sou portador de Hiv1,e tu sabes o perigo que seria para ambos,acho que foi melhor assim,ao menos fomos grandes amigos este ano juntos.
Deu-me um grande abraço e um beijo de despedida e só me disse antes de eu embarcar
-Sabes Sérgio, da próxima vez que isso te acontecer,não decidas pelos dois,deixa a outra parte decidir também,pois só assim podes ser feliz,e eu desejo-te tudo de bom, que sejas muito feliz,estejas tu onde estiveres,menino do mundo!Regressei a Lisboa onde passei os quinze dias de férias,podem não acreditar,mas nem fui ao médico,para mim continuava bem,ir ao médico para quê?pensei eu,infelizmente sempre fui assim,e agora também é tarde,na manhã seguinte parto para fazer ainda mais seis mêses para a Alemanha na cidade de Munique,ao fim de cinco mêses tenho que regressar a Portugal,a minha mãe tinha falecido a dezoito de dezembro,vim para o enterro daquela que para mim era a maior mãe do mundo,que era das poucas pessoas que com quem ainda me conseguia abrir,e podem crêr,que depois da sua morte nunca fui o mesmo!
Em janeiro volto á Alemanha, desta vez para Nurenberg ,onde fiquei mais três mêses,sinceramente o pior tempo de minha vida,pois sabia, que sempre que voltar para casa nunca encontraria a minha mãe perto de mim!
Faço tudo a correr,pois só tenho uma semana de férias, agora sim,vou para a Holanda,nesse belo país estive perto de dois anos,diverti-me imenso,e conheci aquele que me fazia sentir bem outra vez,um amigo o Marco,o meu irmão não gostava dele,pois eu sentia alguma coisa muito diferente por ele,não sei explicar,é como se ele me enfeitiçasse com o seu olhar,apesar de o meu irmão e os nossos colegas imaginarem que nós eramos amantes,mas a verdade, é que não era verdade,sempre fomos somente amigos,é verdade, ás veses abusavamos,mas era só para os ver danados.
O tempo foi passando,entre a Alemanha,Holanda,Bélgica,Espanha e França passaram-se onze anos,nunca fui a um médico até então, o último país em que me encontrei na França,é que comecei a ter os primeiros sinais do fraqueza,sentia-me sempre cansado e geralmente com uma grande fatíga,mas dizia para mim mesmo que isso era normal,pois trabalhavamos muitas horas ,e acabavamos por dormir muito pouco,pois nos fins de semana iamos sempre para a farra.
Em dezembro de 2001 na cidade de Peronne,em França,começo a sentir o meu pulso direito sem força,mas acreditando que era um mau geito que tinha dado na mão,continuei a trabalhar,o meu irmão vendo o meu sofrimento quis levar-me ao hospital, e eu disse que estava fora de questão,pois jà sabia o que me iam dizer,e eu não queria que nem ele nem os outros soubessem da verdade,mas como estavamos quase a vir a Portugal de férias, eu iria de imediato ao médico.
Partimos de Peronne perto do dia vinte de dezembro,eu jà não mexia nem o pulso nem a mão,e estava com um peso enorme no braço,quando chegamos a Lisboa,eu não fui ao médico, pois para mim jà estava a começar,aquilo que eu chamo o fim,as minhas irmãs, é que em janeiro de 2003,disseram que não podia estar,nem continuar daquela forma,e chamando uma delas o meu cunhado,levaram-me para o hospital Curry Cabral,onde fui chamado logo de seguida,depois de me fazerem alguns exames,mandaram-me por uma máscara,porque desconfiavam que eu tinha uma Tuberculose.
Chamaram a minha irmã e disseram-lhe que eu ia ficar internado se ela sabia o que é que se passava comigo?Foi quando chamei a médica e disse que a minha irmã ainda não sabia de nada,mas que estava na hora de todo o mundo ns minha familia saber de toda a verdade,depois de a médica ter falado com a minha irmã,ela despediu-se,e disse que voltava no outro dia,mas que eu tinha que lhe explicar,o porquê de ter mentido durante esses anos todos,e eu só consegui dizer que a mãe, e o teu filho Rui, sabiam,mas que não menti a ninguém, só lhes tinha ocultado a verdade,pois não queria que olhassem para mim sempre como um coitadinho.
A minha irmã foi dormir,jà eram quatro da manhã,e estava eu ali,no hospital,de onde sempre fugi,e agora não tinha solução,tanto fugi durante estes douze anos,que adquiri a tão temída Sida dentro do meu corpo,nesse momento chorei,mas chorei de raiva ,de ódio de mim mesmo,pois eu tudo tenho feito para não contaminar ninguém, sou sempre cuidadoso com os outros,porque não fui cuidadoso comigo próprio nessa maldita noite!
Eu sei, mas não culpo ninguém, a não ser a mim próprio, mas porque é que as pessoas que me fizeram isto ,será que foi com intenção?Se foi que Deus lhe perdoe,pois por mim jà está perdoado!
Douze anos passaram,mas se pensam que isto é o fim,enganem-se,pois se se passou douze anos ,ainda faltam catorze até ao dia de hoje!!!!!
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Recomeçar Dia após Dia
Non-FictionHistória veridica que aconteceu a partir da década de 80, onde a juventude tinha grande receio de viver com o flagêlo da verdade do HIV positivo, onde geralmente o medo tomava conta dos sentimentos das pessoas, obrigando-as sem querer a descriminar...