Sabia que depois da morte do meu irmão, muita gente me ia aconselhar a desistir de ficar com o Flávio, realmente aconteceu, houve muitas pessoas a dizerem-me que desistisse que era uma loucura, mas já me tinha decidido, tudo iria fazer, para que o meu puto ficasse comigo e com a mãe!
A minha cunhada no inicio não concordou, e então decidimos esperar para irmos ao tribunal explicar que ela jà se sentia melhor, mais capaz de ter o menino em sua casa, mas a verdade é que também ela, em cada dia que que o tempo ia passando se sentia a perder a força, pois ela além de ser portadora também de HIV1 como eu, ela jà tinha tido ao longo dos anos várias doenças, chamadas as doenças opurtunistas, entre elas do sistema respiratório, a chamada gripe das aves e tinha um grave problema cardiaco, desde a infancia, o coração dela era muito pequeno, e batia muito lentamente, estava a começar a fazer exames para ver se poderia por um Pacemaquer.
Os resultados dela quanto á infecção do HIV também eram bons, como eu, ela tinha a carga viral menos de vinte e os CD4 acima dos 600, a unica preocupação dela era mesmo com o coração no momento.
O natal estava a chegar e ela pediu se podia passar connosco, é claro que sim, ainda por cima tinha ficado só nesse ano, mas também, as festas sempre passavamos juntos.
Com o meu sobrinho estava tudo bem, mas quando se lembrava do pai, ai sim começava a chorar e só dizia que tinha muitas saudades do seu pai, é muito normal ele só tinha então dez anitos.
Em Maio de 2013, a minha cunhada foi internada no hospital Curry Cabral, no pavilhão F, doenças infectocontagiosas, porque ela tinha muitos liquidos e estava muito inchada, e queria ver o filho, visto que o menino só tinha dez anos telefonei ao hospital para saber se havia alguma maneira de eu levar o puto a ver a mãe, primeiro disseram que não, mas depois visto que ela se podia movimentar disseram que sim, mas que o menino tinha que ir somente até ao jardim, que é entre a enfermaria e o hospital de dia, e assim foi, no fim de semana estava a entrar no mesmo sítio de onde saíra á onze anos atrás, quando lá estive internado, não guardo boas lembranças desse sítio, mas não podia fugir, tinha que o fazer, pelo menos pelo meu sobrinho.
Era um local do hospital que para mim é sinistro, é mesmo uma enfermaria que se sente um certo receio, pois temos que usar sempre a máscara quando entramos, para proteger os doentes, muitos deles estão muito debilitados, que a minima infecção que poderemos levar para dentro, pode ser fatal para muitos dos pacientes que ali se encontram.
Quando chegamos, já lá estava o amigo da minha cunhada, depois de termos posto a conversa em dia, e de o Flávio estar á vontade no hospital perguntei se precisava de algo, ela só me dizia para eu lhe trazer garrafas de água, era a unica coisa que precisava, ela sentia um grande orgulho no filho, mal chegamos foi á procura da médica dela e da enfermeira Gabriela para o conhecerem, eu vi que ela estava radiante pelo filho estar perto dela nesse momento, brincaram no jardim, ele fez-lhe pulseiras, e foi depois comprar um gelado para ele, um bolo e um sumo para a mãe, chegando ao fim da visita, disse-lhe que iria falar com a médica no dia seguinte, e que no fim de semana regressaria com o miudo, e assim foi durante dois meses e meio, o tempo que esteve internada dessa vez!
Dias antes de ter alta, fui novamente falar com a médica, garantiu-me que ela iria sair do hospital nos próximos dias, fiquei satisfeito pois estava quase a chegar o aniversário dela, e também a festa de fim de ano do rapazito, e podem ter a certeza que ele ia ficar feliz, por um lado por a mãe ter alta médica e por outro por ela se encontrar entre nós, a ver quando ele recebesse o Diploma do quarto ano.
Festa do final do ano lectivo estavamos todos presentes, eu tinha-lhe feito um fato de jornal, porque nesse ano o tema era a Reciclagem, não sei se era o puto ou nós que estavamos mais contentes, ele estava com o primo Miguel, e conseguiam transmitir toda a alegria e a euforia em que se encontravam nesse momento, era fim de ano léctivo e férias á porta, o que podiam crer mais!
Depois de ter acabado a festa de fim de ano lectivo eu e a minha cunhada dirigimo-mos para casa, mas ao meio do caminho reparei que ela mal conseguia andar, e perguntando eu o que se passava com ela respondeu-me que estava muito cansada de caminhar, nesse momento ela tentou descansar e relaxou um pouco, ao mesmo tempo que me ia dizendo que a sua médica, tinha-lhe dito para ela descansar o mais que pudesse, pois ia precisar de energias para fazer os exames para ver se lhe metiam um Pacemaquer, mas o ela sentir cansaço constante, isso ia ser cada vez mais constante, porque ela tinha o problema cârdiaco muito grave.
Chegando a casa em quanto esperavamos os miudos ela começou a falar duma forma comigo, que nunca tinha acontecido antes, pois para dizer a verdade, nós os dois não morriamos de amor um pelo outro, mas tolerávamos as nossas diferenças, ás vezes com muitas dificuldades, pois ela e eu, chocavamo-nos porque a nossa maneira de pensar era completamente o oposta um do outro, mas mesmo assim conseguiamos dialogar, principalmente pela nossa doença que era a mesma ou pelo bem estar do meu sobrinho!
-Sérgio eu preciso de falar contigo, de uma situação que eu própria não estava de acordo, porque pode não parecer mas eu amo muito o meu filho.
-Mas nunca disse o contrário, eu sei que tu e o meu irmão gostam muito do menino, nunca fui eu a por isso em causa, mas diz lá de que me queres falar?
-Sabes eu tenho-me sentido muito sem forças, e eu queria saber se tu ainda estás interessado em ficar com o Flávio, mas tens que me garantir que nunca vou deixar de estar com o meu filho, pois eu sei que neste momento eu nao poderei dar o conforto ao meu filho que ele merece, e também sei que se fores tu a ficar com o poder paternal do meu filho, ele ficará sempre protegido se me acontecer algo mais grave, e também sei que sempre estarei perto dele sempre que for possivel.
-Ó rapariga sabes que podes sempre contar comigo nesse sentido, eu nunca te afastei do teu filho nem será agora que o farei, mas tu sabes que para isso acontecer tu tens que estar de acordo, porque também vais assinar o mesmo documento que eu, e terei então que começar a tratar de toda a documentação minha, do menino e mesmo alguma tua, para então começar-mos o processo de comum acordo.
-Não te preocupes, assinarei todos os papeis, mas promete que deixas o meu filho aos fins de semana ir para perto de mim, e nas férias sempre que for possivel também, pois quero ir este ano visitar a minha mãe e a minha filha ao Norte, e gostava que o Flávio viesse comigo.
-Não haverá problema nenhum nisso, tu melhor que ninguém sabes, que para mim a familia é o mais importante de tudo!
Depois de almoçar todos juntos, chamamos o puto para lhe explicar a situação, para ele foi um bocado díficil de entender, mas depois de termos dito como iria ser a situação daqui para a frente, ele entendeu que ele ia ficar comigo mas sempre iria estar na companhia de sua mãe, sempre que fosse possivel nos fins de semana e mesmo grande parte das férias.
Passados alguns dias, comecei a tratar de tudo, idas ao tribunal para saber como é que as coisas estavam, e na segurança social para começar a dar entrada ao pedido de Apadrinhamento, que sinceramente eu não supunha como seria, porque era a primeira vez que me encontrava numa situação daquelas, apesar de muito recioso estava muito esperançoso que tudo nos iria correr pelo melhor, a minhs sorte é que sempre fui muito óptimista!!
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Recomeçar Dia após Dia
Phi Hư CấuHistória veridica que aconteceu a partir da década de 80, onde a juventude tinha grande receio de viver com o flagêlo da verdade do HIV positivo, onde geralmente o medo tomava conta dos sentimentos das pessoas, obrigando-as sem querer a descriminar...