2° Capitulo- O medo da verdade

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São 16:30, aproximadamente, sai a correr da camioneta que me trazia a casa, sem rumo e sem saber onde ir, comecei a correr, as minhas pernas tremiam, tinha calçado as minhas botas á texana, de repente encontrei-me no único onde poderia encontrar respostas, no posto médico da minha área, onde tudo afinal de contas começou, mas apesar de lá estar não me conseguia concentrar, e não sabia realmente o que ia á procura, com um pouco de receio pedi para falar com a minha médica de familia, por tanto azar não se encontrava nesse dia, mas vendo-me ali naquela aflição tive sorte, pois fui atendido pela médica que me mandou fazer os exames, a Dra Lilia, que logo de seguida me mandou entrar no seu consultório.
-Boa tarde Sérgio,como se tem sentido?
-Boa tarde Doutora,vim aqui á procura de respostas, sabe é que os meus exames deram positivos.
-Eu sei, o laboratório ligou para o posto a pedir outra cardencial para lhe fazerem a contra análise da colheita do seu sangue.
-Então já sabia de tudo? E agora Doutora, o que se faz, e também quero saber o tempo que tenho para viver?
-Sérgio, sei que é uma situação díficil para si, mas agora tem que viver e acreditar que isto não é o fim de nada, mas sim o princípio de uma nova etapa da sua vida, onde tem que fazer uma vida diferente, uma vida saudável, para não adquirir as chamadas doenças oportunistas, que ai sim, poderá ser o fim, tem que pensar que ter Hiv pode ser o mesmo que ter diabétes, tem que começar a ter uma vida de comportamentos diferentes, principapmente em relação á alimentação e ao ter sexo com terceiros, para se proteger de doenças e para proteger também os outros, mas vamos fazer o seguinte, amanhã de manhã você vem aqui ao posto e fala com a minha colega, a sua médica de familia, e ai ela vai conduzi-lo à consulta de infecciologia do hospital Curry Cabral.
-Está certo Doutora, eu aqui estarei logo pela manhã!
Despedi-me da médica, e ao vir para casa, parei, e entrei na igreja, para falar com Deus, e vendo que estava a chorar, o padre perguntou-me o que se passava de verdade, eu contei tudo o que se passava, inclusivamente como é que tudo aconteceu, e eu acabei de o questionar como é que eu poderia ter filhos, e ele a única coisa que me respondeu, é que eu sabia o que a igreja achava dos contaceptivos, onde lhe respondi: -Então Sr. Padre, se eu usar preservativos aos olhos da igreja, serei um pecador, mas por outro lado se não os usar, aos olhos da sociedade serei um assassino, o que o Sr. acha melhor? E ele respondeu-me: -Sabe filho, isso depende de si, o que quer e como deve de fazer a sua vida daqui em diante.
Sai da igreja directo para casa, mas eu não sabia como poderia ter ou começar a conversa com a minha mãe ou com a minha irmã.
Ao chegar a casa fui para o meu quarto, onde precisei de estar completamente só, sem ninguém a questionar o que se passava, depois do jantar um dos meus sobrinhos estava em minha casa, ele praticamente é da minha idade, perguntou-me se eu queria ir com ele ao café que havia perto de nossa casa, e eu aceitei, precisava de me abrir com alguém da minha familia, e bem que pode ser o meu sobrinho Rui, pois se eu lhe contar e lhe pedir sígilo, sei que guardará com ele, até eu saber como contar a todos da minha familia!
Ao irmos para o café, um café onde a malta jovem se encontrava, chamado -"O FAZ CONFUSÃO",o Rui começou a ver que se passava algo comigo, e ao chegar sentamo-nos, e ele começou a falar, e podem não acreditar foi uma conversa, para mim muito díficil, mas ao mesmo tempo senti-me, como se estivesse a tirar uma certa culpa de cima, o peso que carregava nesse momento era um fardo realmente pesado.
-Rui nós vamos falar de uma coisa que se passa comigo, mas tens que garantir que não contas a ninguém, pelo menos por enquanto.
-Diz o que é que se passa, tem algo a haver com os teus exames?
(Naquele momento fiquei sem palavras, tudo o que eu quero é dividir esta parte da minha vida, mas as palavras não chegavam a minha boca).
-Sim tem, eu hoje fui buscar os resultados, e tive uma surpresa e decepção ao mesmo tempo, os meus exames deram Positivo para HIV.
-O que vais fazer agora?
-Não sei ainda, amanhã vou falar com a minha médica, só depois é que vou contar á tua avó, sinceramente não sei como vai reagir, mas tenho que lhe contar.
-Ok, se precisares entretanto de falar com alguém sabes bem que estarei sempre aqui.
Foi díficil, mas á para a primeira pessoa que contei, ele reagiu normalmente, só peço a Deus que seja da mesma forma com todos os outros. Deitei-me mas quase nem dormi, estava estava ansioso, levantei-me e fui á medica de familia, que só me disse, que tinha que ir para a consulta no hospital, pois ela mesmo que me quisesse ajudar, não tinha como, pois ela na altura não conhecia nada da doença, nem mesmo nunca tinha tido um caso de HIV nas mãos dela. Eu agradeci, e sai rápido dali, pois não tinha outra solução, tinha que falar primeiro com a minha mãe. Ao chegar perto de casa, aproveitei e chamei a minha irmã, que trabalhava mesmo em frente á nossa casa, e pedi-lhe para ir num instante á casa da nossa mãe, que precisava de falar com elas com alguma urgência, e assim foi, ali estavamos os três á espera que eu falasse o que eu tinha para dizer de tão importante que não podia esperar até á minha irmã sair do trabalho.
-Nós temos que falar, não sei como dizer mas está relacionado com os meus exames...
-Mas o que se passa meu irmão?-Perguntou a minha irmã.
-Os exames que eu fiz, desta vez nao foi o resultado que esperava...
-O que é que queres dizer?
-Desta vez os meus exames deram positivo.
-Então o que vais fazer agora?
-Agora vou ter que ser seguido no hospital, para começar a fazer tratamentos, se esse for o caso.
Depois de a minha irmã ter saido argumentou a minha mãe: -Tu achas que é esse bichinho que nem o consegues ver que te vai destruir meu filho? Tu és um rapaz forte, vais ver que vais ultapassar esse teu problema, não te podes é ir abaixo, e se queres um conselho filho, vive a tua vida sem prejudicar ninguém, e com o tempo vais ver que a tua doença, não é nada daquilo que dizem, não tenhas medo, e acredita sempre mas sempre, que Deus estará sempre a teu lado!
Depois da conversa com a minha mãe e irmã, e o meu sobrinho Rui, não tornei a falar sobre a minha doença com ninguém, pois estava á espera de uma reacção, como tinha visto várias vezes e vários casos na televisão, em que os Séropositivos eram descriminados pela própria familia, e comigo não aconteceu assim, só tenho que agradecer a Deus, pois todo o medo de contar a verdade, tornou-se a parte mais simples, por isso decidi que as pessoas mais importantes já sabiam, e agora está na hora, de por em prática o que a minha mãe me ensinou, -Viver o melhor que puder!!

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