| E D A |— Número 325.
Tudo bem, fique calma. Dessa vez vai dar certo. Já deu certo!
É a sua grande chance, você só precisa relaxar e ser você mesma, ou melhor, não ser você mesma.
— Número 325.
Não seja você mesma. Vai funcionar. Tem que funcionar. Precisa funcionar. Eu preciso tanto que dessa vez, só dessa vez, funcione...
— NÚMERO 325!
É tão alto que todos a minha volta param o que estão fazendo. Eu paro o que estou fazendo – mentalizando boas energias para quando a minha vez chegar. Olho ao meu redor, como alguém consegue se atrasar para algo assim?
Antes de voltar para meu mantra pode ser bom conferir quantos ainda estão na minha frente, puxo minha senha - presa no meu anel do humor - e…
— SOU EU! — salto da cadeira em direção a recepção — 325!
O olhar que recebo de Leyla é tão desanimador que chega a me dar cãibras, mas eu já tinha dito que hoje é meu dia de sorte? Pois deveríamos ter começado justamente por aí. Sem chances do olhar desesperado de Leyla me abalar. Na-na-ni-na-não! Hoje não!
— Você de novo?
— E-rr — engasgo — o último não deu muito certo… — Leyla acerta a própria testa enchendo as bochechas pálidas de ar. — Mas está tudo bem, não se preocupe. 25 é meu número da sorte.
Ela estuda a senha e me encara com desconfiança, meio que me dizendo "desde quando?". Oras, eu sei qual é o meu número da sorte. Não por acaso nasci no dia 25 de dezembro, e meu sobrenome é Christmas e esse é meu trabalho de número 25 (se eu ignorar os que deram errado), e eu meio que tenho vinte's e cinco's anos.
— Eda, eu simpatizo com você, sabe disso. Mas já pensou em seguir outra área? Não tenho certeza se o DAG é o lugar certo para você. Já tentou o DAA?
Ela me olha com tanta seriedade que me sinto um pouco intimidada, não quero ser grosseira com Leyla, mas não cabe a ela decidir qual departamento me encaixo melhor. Afinal, cada um escuta seu próprio chamado e esse trabalho tem um milhão de luzes piscando para mim, sei o que é ou do que se trata? Não, mas isso não importa. — Leyla, talvez não se lembre disso, mas estive nos arquivos durante um verão inteiro e aquele lugar nunca mais foi o mesmo depois que passei por lá.
Infelizmente não é de um jeito positivo. Não posso pisar naquele andar.Vejo seus olhos se fecharem, provavelmente ela não vê mais esperanças para mim, mas Leyla é míope ela com certeza também não pode ver todo o meu potencial. Dando-me as costas ela sinaliza para que eu aguarde e desaparece atrás da porta. Não demora muito até que o som abafado das vozes lá dentro passe a chamar atenção de quem está aqui fora.
Todos - sem exceção - estão me olhando. Sorrio fraco para alguns, verdadeiramente envergonhada.
É por isso, justamente por esse tipo de olhar de descrença que preciso fazer funcionar dessa vez. Todas as vezes que saio para um trabalho é como se estivesse levando junto as esperanças de todo um departamento.As pessoas não acreditam que eu seja capaz, não depois de tantos desastres. E no fundo, eu quero que dê certo para provar para mim mesma que eles estão errados.
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Um anjo chamado Natal
FanficÁs vezes nosso coração se parte em tantos pequenos pedaços que reconstrui-lo se torna cansativo ao ponto que o melhor pode ser deixar para lá. Isolar-se e deixar que o mundo gire sem que você participe dele. Mas, por mais doloroso que pareça resist...