𝗖𝗮𝗽𝗶́𝘁𝘂𝗹𝗼 𝟰

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Os tremores de ansiedade e o suor nas palmas das mãos fizeram Megumi sentir-se como um garoto na puberdade prestes a chamar uma garota para o sair.

A decisão foi parcial, discutiu mesmo sobre os pontos positivos e o que poderia desencadear um bom pedido de desculpas vindo da parte dele. Iria se dar bem com Aya, pedir desculpas e pronto, acabou a história e ambos não precisariam mais conviver em um ambiente hostil, mas apesar disso ainda desfrutava de uma insegurança e sensação de estar sendo patético, imagine só se a senhorita zombasse dele feito uma cretina.

E mesmo se fez, estaria dentro de sua razão. Ela não era obrigada a aceitar de bom grado um pedido de desculpas de alguém que particularmente fora um infeliz sem tamanho.

Pensando melhor, o estranho seria se ela aceitasse.

Megumi suspirou pesadamente, encostando-se na poltrona de couro branco, levando os olhos e ouvidos a acompanharem o lento tiquetaquear do relógio, cada simples taque o causava tremores, a cada batida do relógio velho de madeira escura o aproximava das três horas e seu coração não poderia estar mais elétrico, palpitando como se estivesse prestes a discursar para uma multidão enfurecida. A confusão de sentimentos foi guiada cegamente pela culpa ameaçada pelo garoto em dois.

Por que depois de tanto tempo agitado feito uma babaca egoísta e melancólica teve de escolher justamente a garota mais indecifrável que já teve a oportunidade de conhecer como uma cobaia perfeita para o plano de redenção estúpido dele?

Megumi não pretendia criar uma lista com o nome de cada pessoa com quem deveria se redimir, já era tarde demais para fazer isso e algumas coisas precisavam ficar no passado para serem resolvidas de fato, e caso forçar algum tipo de redenção ou mudança estúpida para compensar algo, era capaz de afastar ainda mais as pessoas de si. E também não é como se ele quisesse de repente ser rodeado de pessoas, ser adorado nunca foi um desejo mas era uma questão de dar o devido valor a aqueles à sua volta, sendo eles importantes ou não.

Seu devaneio olhando o relógio se tornou nada mais do que meras lembranças quando o barulho da porta do clube dominou o ambiente e a figura da garota de olhos castanhos preenchia o lugar inteiro. Ela usava o traje uniforme e os cabelos eram lisos ao invés de ondulados, como geralmente usava, tinha dois livros presos embaixo dos braços e encarava o celular escrevendo algo com uma única mão, sem se preocupar em encarar a única alma viva além daquelas malditas sala.

Todos estavam assistindo o tempo titular de basquete fazer sua estreia na temporada de primavera, Megumi ainda tinha esperanças da garota ir assistir o jogo, aquilo seria a desculpa perfeita para ele adiar aquela situação com uma probabilidade imensa de ser vergonhosa ou estranha.

Eles estavam sozinhos. Completamente.

Ele a observou de soslaio enquanto fingia ler um livro, a garota sentou-se no acento acoplado à janela colocando na superfície acolchoada a mochila, abrindo-a retirando de lá um livro de capa preta e o título em letra cursiva dourada, Romeu e Julieta estampava a capa em uma edição de luxo. Esse era o livro do mês para os debates, aqueles cujo Megumi não fazia questão de participar.

Tentaria puxar conversa fiada, era exatamente assim que via Yuuji resolveu uma situação constrangedora.

— O que está lendo? - Disse mesmo já sabendo o nome, com o encosto firme no encosto da poltrona apoiando o queixo na palma da mão.

— Se você sabe ler, consegue ver o que está escrito na capa. - Aya não tirou os olhos do livro por um segundo apenas o respondeu em um tom firme.

Ok, ele merecia essa.

— Não sabia que gostava de ler romances clássicos - ele estava perdido, nunca havia puxado conversa com alguém, principalmente com alguém que o odiava.

𝐅𝐑𝐈𝐄𝐍𝐃𝐒, megumi fushiguroOnde histórias criam vida. Descubra agora