𝘾𝙖𝙥𝙞́𝙩𝙪𝙡𝙤 𝟮𝟯

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Esse é o décimo primeiro caderno que escrevo, a cada ano que passa desde sua partida, mais palavras sôfregas entram na comunhão de saudade e rancor que é este diário.

Dessa vez eu o apelidei de “o indevoto”, creio eu que seja apropriado levando em conta certas partes da minha vida atual. Acho que você gostaria de saber que sua filha, além de mentirosa, é indecisa. Com um fetiche extremo em colocar mais pessoas em sua vida sabendo que não é estável o suficiente para fazê-las ficar.

Mas disso, você sabe, sou igual a você. Em todos os aspectos, querendo ou não. Meus cabelos, mesmo tingindo-os de castanho regularmente, ainda se parecem com os seus. Cheios e ondulados, livres e rebeldes. Meu corpo desde que comecei a crescer, toma as mesmas formas que o seu, meus seios são pequenos e pontudos, quase  não tenho nenhuma curva sensual, sou alta e meio desengonçada, não sei ser elegante. Nisso nós somos diferentes.

Nunca serei tão perfeita quanto você.

E antes me doía como uma facada constante, ser comparada com alguém que já não existe mais, um padrão cada vez mais elevado pela saudade. Queria ser amada como você foi, seguir seus sonhos para tentar ser a sombra do que um dia já foi Aiko Aikyo.

Hoje, detesto que me vejam em você. Cada vez que me comparam ou dizem que estaria orgulhosa de quem estou me tornando, tenho vontade de regressar, de voltar à estaca zero, só para decepcionar você.

Mas posso tentar ter uma vida melhor. Não me submeter a uma vida de merda como você fez. Contando a você, de onde quer que esteja, os meus hoje.

Meu último diário foi encerrado no dia em que eu e Naoya nos beijamos, desde então, não escrevi mais. Aconteceram muitas coisas, coisas das quais não mencionarei, não valem a pena serem contadas a alguém tão irresponsável, talvez minha frivolidades agradem seus olhos fúteis (se é que você vai ler isso algum dia).

2.

Hoje percebo que nunca me apaixonei.

Acho que nunca me apaixonei, mamãe. Passei a tarde com Nobara e a escutei falar sobre uma garota de outra escola. Do internato para garotas do outro lado da cidade, o lugar onde a tia Anko trancou Aimi.

Pensei em Naoya, no ano passado, quando nós nos beijávamos escondidos no armário do ginásio, ou quando nos trancamos no banheiro da festa de uma amiga e eu sentia pela primeira vez que minhas curvas não precisavam ser maiores para ser desejada.

Mas aquilo não era paixão, eu amava Naoya, como um amigo, mas o desejava como outra coisa.

E não me apaixonei por ele. Gosto do seu sorriso, da falta de um neurônio ou dois naquela cabeça de atleta. Gosto de como é animado, de como alegra qualquer um e faz com que o mais sombrio dos corpos torne-se radiante perante a sua luz.

E ainda sim, não o amei.

Pensei em Kiha um garoto mal caráter que me agarrei atrás de um dos prédios da escola. Ele me trazia adrenalina, mas não paixão. Era um fogo que me queimava de dentro pra fora, meu segredo favorito.

Mas ainda não me apaixonei.

Apesar de ter uma péssima fama, só tive dois garotos na vida, gosto de falar sobre relacionamentos e dou conselhos como já tivesse um, como se fosse uma grande expert nesse assunto. Mas na verdade, só sei beijar, nunca fiz nada a mais, mas falo como se sim. Talvez por isso acreditam o contrário.

Talvez por isso não tenha me apaixonado.

Não conheço pessoas o suficiente, nunca sai da bolha onde sou um constante alvo, não sei o que sentir amor romântico por alguém.

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⏰ Última atualização: Oct 01 ⏰

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𝐅𝐑𝐈𝐄𝐍𝐃𝐒, megumi fushiguroOnde histórias criam vida. Descubra agora