𝗖𝗮𝗽𝗶́𝘁𝘂𝗹𝗼 𝟮𝟬

2.9K 284 239
                                    

No início, a dor da rejeição não doeu tanto quanto pensou que doeria. Foi mais como um ego ferido misturado com lámurias por uma esperança agora inexistente, uma quebra súbita de expectativas.

Triste, obviamente, mas ainda sim tolerável.

Mas o que Naoya não sabia era que a dor da rejeição viria com força apenas quando a visse com um outro alguém. Quando a prova viva de que existia uma pessoa que realmente era capaz de fazer tudo aquilo que ele não fez fora simplesmente jogada em seu peito. Não sabia o que sentir, não sabia ao certo se sequer tinha o direito de sentir algo ao ver Aya entrando no carro de Megumi.

Não sabia como decifrar o que sentiu quando Aya olhou para Fushiguro com aqueles olhos de amêndoa suplicantes, em como foi doloroso vê-la sorrir para ele.

Mas não sentiu raiva ou inveja. Apenas triste. Frustrado consigo mesmo.

Naoya estava cansado de sorrir quando tudo o que queria era parar de fingir que não estava sofrendo. Era como uma máscara costurada ao seu rosto, sempre alegre e confiante, quando tudo o que Naoya sentia era um sentimento constante de fracasso, como se todos os passos que tomara em vida eram errôneos. Nada, de fato, parecia certo com ele.

Ser apaixonado por sua melhor amiga não era nada fácil. Ter sido rejeitado por ela era pior ainda. Agora, vê-la com um outro garoto era um misto de sentimentos confusos.

Naquele momento quis muito ter reações clichês, ter ficado com raiva, ter sido dominado pela cólera, sentido inveja dele, mas tudo o que conseguia pensar era que Aya nunca esteve tão alegre por conhecer alguém. Em como ela se sentia leve perto de Megumi, sem aquela hesitação constante, quase imperceptível, que tinha com outras pessoas e até mesmo com ele.

Naoya por um momento quis ser ele. Queria poder entender Aya como o garoto entendia, queria vê-la sorrir para ele do mesmo jeito que ela sorria para Fushiguro...

Mas Naoya nunca seria Megumi.

E Aya nunca o olharia da mesma maneira que olha para ele.

O jardim da frente parecia mais arejado que os fundos, poucas pessoas circundavam o local e as poucas que ainda estavam eram mais tranquilas, fumando os próprios cigarros junto de seus próprios pares. Naoya sentou-se na varanda, cansado demais para voltar e fingir que não estava péssimo. Gostaria de seus cigarros, mas haviam ficado na jaqueta lá no andar de cima, no quarto de Aya. Não iria entrar naquele cômodo por um bom tempo, era doloroso demais ver coisas que remetiam a ela.

Não que precisasse entrar lá para lembrar dela. Tudo remetia a Aya, porque ela era tudo para ele.

Era primavera e Aya amava flores, gostava de montar os próprios buquês e presentar seus amigos com eles. Aya também adorava noites de lua cheia, pois foi em uma delas que Aya aprendeu a andar de bicicleta. A música que tocava era a favorita dela, gostava de dançar animada rodopiando pela pista enquanto bebia seu drink de morango favorito. Ela detestava cigarros também, por isso Naoya sempre os escondia no bolso de dentro da jaqueta e nunca os fumava perto dela.

E ninguém, além dele, sabia dessas coisas. Porque ninguém a conhecia como ele.

Entretanto, isso não importava. Ao mesmo tempo que a conhecia tão bem quanto a si mesmo, não tinha coragem para demonstrar que sabia de todos esses pequenos detalhes, nunca teve peito o bastante para dizer a ela que sabia sim que ela se sentia mal pelos boatos, que sentia-se excluída perto de outras pessoas, que detestava a solidão.

Também não teve coragem de dizer que ficaria ao lado dela nesses momentos difíceis, que enfrentaria cada pesar junto a ela.

Tinha medo de perdê-la mais do que já perdeu, achou que a melhor solução seria agir normalmente, como se um dia eles não tivessem sido como unha e carne.

𝐅𝐑𝐈𝐄𝐍𝐃𝐒, megumi fushiguroOnde histórias criam vida. Descubra agora