𝗖𝗮𝗽𝗶́𝘁𝘂𝗹𝗼 𝟭𝟰

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As sombras enraizadas que pairavam durante a formação do caráter de uma criança sempre será o maior dos pesares na vida dela.

Era arcaico o medo entrelaçando-se ao ódio, unidos e tão fortemente interligados um ao outro que a parte mais difícil é identificar o início, o meio e o fim, mas talvez nem tenha. Algo assim se perde entre as células, encrosta nos ossos e circunda o coração.

Sua primeira reação ao ver pai foi caminhar até ele e tirar sua irmã do caminho, que ele fosse o alvo de sua fúria, não Tsumiki. Ela não tinha culpa de carregar o mesmo sobrenome que aquele monstro, nenhum dos dois tinha.
Da última vez que vira o pai sentia-se pequeno, frágil perante a muralha que Toji Fushiguro era, mas agora era diferente, ambos carregavam a mesma altura, não era grande e robusto como ele, porém, era olho no olho, sem brechas.

— O que está fazendo aqui? - sua apatia era lancinante.

— É assim que fala com seu pai? - dera um sorriso sarcástico, carregado por uma mácula conturbada.

Megumi começou a avançar lentamente, evitando que brechas fossem soltas e Toji entrasse na casa.

Não sabia o que ele estava fazendo ali ou como conseguiu desviar da polícia. Semanas atrás o homem foi dado como foragido, era de se esperar que Toji não desse as caras por um bom tempo, mas nada costumava sair como planejado.

— Ainda tem coragem de se considerar um pai? - o garoto trincou o maxilar, podendo sentir a tensão da irmã esvaindo, tocando na pele dele como um aviso para abaixar o clima.

— Oh, assim você me ofende - o homem tentou entrar, dando apenas um passo mas Megumi não se moveu, permaneceu feito um muralha.

Toji sorriu levemente com desafio, com aqueles olhos iguais aos do filho se tornando fendas mortíferas. Megumi não tremeu, não deu abertura para ver suas fraquezas, era o espelho perfeito de sua frieza e bravura.

Toji estava vendo a semente de sua criação criar frutos. Megumi era literalmente o que foi criado para ser.

— Criou coragem de um homem e parou de esconder o rabo entre as pernas? Olhe só para você, Satoru realmente fez um bom trabalho.

— Ande, diga o que quer. - seus punhos se cerraram, a calma letal estava tentando ir embora e a raiva tomava cada vez mais espaço em seu corpo.

Toji suspirou, entortando a boca daquele jeito condescendente dele, a cicatriz que marcava seus lábios era apenas uma amostra de que o corpo ferido daquele homem não se deixaria amedrontar por qualquer coisa. Nem por seu próprio filho.

— Não seja tão rude, garoto. Saiba que você tem muito mais a perder aqui do que eu. - Fez questão de sussurrar no ouvido do filho, vendo-o se encolher levemente, temendo pela irmã. — Vamos adiantar aqui, ninguém quer que isso acabe em tragédia.

Megumi, mesmo contra sua vontade, deu espaço para ele entrar e fechar a porta. Sinalizando com os olhos para Tsumiki ir para trás, não se aproximar e em hipótese alguma tentar interferir. Toji não machucava apenas duas pessoas no mundo, ele mesmo e Makoto, sua ex-esposa e mãe de seu filho, o resto, não sentiria remorso algum em machucar e o garoto tinha plena certeza disso.

— Quero ver a sua mãe. - sem rodeios, com aquele tom passivo-agressivo que acendia um ódio profundo no garoto.

— Já se perguntou alguma vez se ela quer ver você? - Megumi disse sereno, não demonstrando sua angústia e medo. — Desista de uma vez. Você não vai tê-la de volta mesmo se colocar o mundo de cabeça para baixo.

— Ah, colocar o mundo de cabeça para baixo é a minha menor tentativa. - Toji estalou a língua, passando a mão no próprio pescoço antes de fitar o garoto — Você e aquele cara me denunciaram, estou certo? Esconderam sua mãe de mim e ainda por cima quiseram me prender? Ainda acha minhas tentativas um exagero?

𝐅𝐑𝐈𝐄𝐍𝐃𝐒, megumi fushiguroOnde histórias criam vida. Descubra agora