A féra da Floresta.

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Quando o sol se levantou Davi já estava de pé e pronto para sair, ele amarrou as botas com mais força e amarrou seus Dreads com um habitual pedaço de tecido preto.  Ele apenas parou para lavar o rosto e encher seu cantil com um pouco de água de um riacho que corria ali perto e seguiu ao lado do mesmo comendo alguns biscoitos antes de apertar os passos, agora que sua perna havia descansado um pouco talvez ele conseguisse até correr um pouco. 

- Que ótimo! - Disse com tristeza. - Esse riacho com certeza deve desembocar no lago das lágrimas. - Era como chamavam a lagoa de águas azul escuras a onde a velha Ana e Petúnia haviam morrido. - A vovó Ana com certeza estaria gritando comigo agora... "Davi! O que está fazendo com essas roupas encharcadas?" - Davi riu sozinho. 

Para ele sempre foi difícil passar por aquele lugar, tudo lembrava a vovó Ana.  A idosa criou o garoto até seus treze anos quando foi morta pela mulher de cabelos azuis que havia levado  seu amigo a pouco. Como era irônico o fato das pistas o estarem levando ali, uma pena que ela fosse tão forte, se não Davi acabaria com ela sozinho mesmo, mas só de encontrar a sua toca já ficaria muito feliz e talvez desse a sorte de encontrá-la dormindo, com certeza facilitaria seu trabalho. 

No entanto ele não teve tempo para terminar seus biscoitos e devaneios de assassinato. Um urro grotesco e gutural soou a poucos quilômetros de distância. Seu corpo paralisou por um instante e toda a floresta pareceu parar junto com ele, até mesmo os pássaros pararam de cantar,  o silêncio era absoluto como se a floresta soubesse que algo terrível havia invadido. 

Um calafrio correu pelo pescoço de Davi e ele sabia que aquilo não terminaria bem, não aquilo terminaria em uma tragédia. Ele começou a correr o mais rápido que podia.  Outro urro, agora um barulho duro de corpos se chocando. Ele não sabia o que estava acontecendo direito mas uma coisa era certa a assassina de olhos vermelhos estava envolvida,  ele conhecia muito bem o barulho surdo de madeira retorcida que ela produzia em quanto corria. 

A mata era densa e Davi tinha de empurrar os galhos e arbustos para conseguir passar, mas sua bolsa estava se enroscando entre a folhagem. Os barulhos só aumentavam e ele estava cada vez mais perto da confusão. Ele largou a bolsa e disparou por entre a mata que, impiedosa, ia causando cortes e arranhões por todos os lados, Davi continuou sem parar, o barulho estava tão alto que já ditava as batidas de seu coração. 

A luz batia com força na clareira que se abria,  os olhos de Davi se esforçaram para enxergar o que estava acontecendo. Uma cabeleira azul chutando Tiago no chão e puxando uma imensa raiz pontuda do mesmo com uma raiva estampada no olhar. Ela gritou com o tronco em mão e foi na direção de Tiago. 

Davi correu na direção dela desembainhando sua espada para poder cortá-la, mas Tiago gritou.

- Não! Atrás de você! 

A azulada se virou para ele usando a própria raiz como um escudo. A espada de Davi se fincou tão fundo na madeira que ele não teve como a puxar de volta rapidamente, teve de abandoná-la e se afastar. Davi não conseguia acreditar, ele tinha ouvido mesmo seu amigo avisar aquela bruxa? Não, devia estar sonhando não era possível! 

-  Pra trás idiota! Ele ainda está aqui! - Rosnou furiosa.

- O que?! - Disse Davi perplexo. 

- Davi faz o que ela está mandando, não dá tempo de explicar! 

- Mas que porr* ...

- Ali! Cuidado! 

Gritou  Suzy puxando a espada de Davi do fundo da raiz que estava no chão e cortando em diagonal  um enorme tronco de árvore que se mexeu como se estivesse vivo e quisesse acertar os três. Davi apenas deu alguns passos para trás no momento em que agarota o salvou de ser esmagado, Tiago ficou em pé e puxou Davi para perto de si. 

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