29

1.7K 131 10
                                    

Valentina

Eu encarava a luz que iluminava o teto do quarto como se esperasse que ela me contasse uma história que me fizesse pegar no sono. Mais uma vez, eu me encontrava numa noite silenciosa e cheia de insônia... Parecia como assistir um mesmo filme vezes seguidas.

A diferença se deu pela companhia ao meu lado.

Luiza estava tão acordada quanto eu. Eu diria que seus olhos estavam até mais atentos que os meus, muito provavelmente por ela ter conseguido dormir na noite passada, diferente de mim.

Não fazia muito tempo que eu e ela havíamos nos deitado, mas já estávamos a alguns minutos sem dizer uma palavra sequer uma para a outra, apenas tentando digerir a conversa com o advogado.

Por mais que minha mente tentasse pensar e focar em qualquer outra coisa, como a forma que era possível ver a luz das estrelas pela janela que não estava sendo tampada pela cortina essa noite, ou no cheiro de baunilha que vinha dos cabelos da Luiza, nada parecia mais interessante ou pertinente do que repetir a conversa que tivemos com Javier Pérez, o advogado, há mais ou menos uma hora.

As palavras dele, misturadas com as nossas, estavam em um loop infinito em nossas mentes.

Quando Luiza atendeu, ele logo pediu que a ligação passasse a ser de vídeo. Nesse momento, nós percebemos que não seria um assunto simples a ser discutido. Ela, ainda que trêmula, não demorou para pegar o notebook e colocá-lo na mesa de centro, se sentando no sofá de frente para ela e, consequentemente, de frente para o computador.

Nós conseguíamos ver ele naquele momento. Seus cabelos grisalhos, o óculos no rosto, a barba falha... Até os pequenos detalhes pareciam dar um ar mais dramático para o que falaríamos.

Eu conseguia entender o seu Espanhol, uma vez que ela fazia questão de falar lentamente para que eu lhe acompanhasse. Luiza não precisava, falava com ele fluentemente, diferente de mim, que o mais próximo que estive do Espanhol foi nas aulas que minha mãe obrigava eu e o Igor a participar.

Javier estava sério. Coçava a barba com frequência e ajeitava o óculos - que sequer havia saído do canto - diversas vezes seguidas. A angústia em suas primeiras palavras era torturante. No começo, ele falou sobre a ligação que ele e Luiza fizeram mais cedo - a tal ligação que eu não fui avisada - e comentou sobre como, naquele momento, estava por fora de muita coisa que estava acontecendo, mas que agora, era diferente.

- Os seus sócios do Centro de Artes me ligaram hoje mais cedo, um pouco antes do meu horário de trabalho acabar... - Ao ouvir aquilo, Luiza ergueu os ombros, tensionando a postura. Eu não fazia ideia do que aquilo significava, mas pude perceber que não era um bom sinal, apensas pela sua reação. - Eu até questionei o motivo para eles não terem falado diretamente com você, mas eles ignoraram essa pergunta. Depois que eu dei uma checada nas minhas redes sociais, coisa que eu não fazia tem tempo, entendi o motivo...

Seu tom não era irônico, mas sim assustado. Luiza disse que estava abismada e com medo da repercussão negativa da reportagem mentirosa. Por mais que estivéssemos esperando uma reação mais esperançosa de Javier, ele apenas concordou que a situação era mesmo complicada.

Até ali, único ponto que nós serviu como um alívio foi ele ter dito que sua equipe já estava estudando toda a situação.

Já não aguentando mais aquela enrolação, Luiza foi direta ao perguntar o que os sócios falaram para o advogado. Entretanto, Javier parecia dedicado em nos fazer sentir em uma sessão de tortura. Nesse momento, ele pediu que ela recapitulasse tudo o que eles conversaram mais cedo, pois agora ele analisaria com um olhar mais técnico do que da primeira vez, que não sabia de muitos detalhes como agora.

NÓS A SÓS | Fanfic Valu - Stupid Wife Onde histórias criam vida. Descubra agora