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Luiza

          Eu estava sentada na cadeira que ficava rente a mesa do computador, na sala de estar. Olhava entediada pra plantinha verde - que eu não sabia o nome - e seca em cima da mesinha de centro. A casa estava um silêncio absurdo, o que me deixava angustiada. Duda havia voltado a frequentar o restaurante depois de quase dois meses da morte de Igor, o que todos nós consideramos como uma grande conquista.

Nós não a apressamos, foi tudo no tempo dela e por isso foi tão leve.

Esse silêncio me deixava angustiada e isso é meio surpreendente até para mim, pois eu sempre gostar de ter um tempo só pra mim, mas eu tenho que admitir que me desacostumei a ser sozinha desde que voltei para o Brasil. Aqui você não tem muito essa opção, já que as pessoas são calorosas ao extremo. E foi por não saber lidar com a ausência de barulho e de conversas avulsas que eu resolvi fazer algo que já deveria ter feito a um bom tempo, mas adiei por estar passando, nada mais nada menos, que pela conturbada da minha vida.

Não que essa fase tenha passado...
No caso, ela ainda tá aqui, só que mais escondida. A questão é que eu parei de me importar tanto.

- Oi, oi, oi. - Aquela voz voltou a soar vinda do computador. Eu dei um espasmo de susto, deixando de encarar aquela pobre plantinha e voltando a atenção pra vídeo chamada. - Agora voltou... eu acho. - Caio estava olhando atentamente para sua tela, tentando ajustar, pela quarta vez, sua internet.

- Qual sua operadora, Caio? - Perguntei prendendo o riso. Era engraçado seu desespero pra manter a internet estável. - Troque imediatamente, por favor.

- Eu estou tentando há meses...

- Se você quiser, nós fazemos essa ligação depois, sabe? Quando você tiver uma internet descente...

- Luiza... - Ele parou de mexer com agonia as teclas de seu computador e passou a me olhar ofendido, paralisado. Eu permanecia segurando o riso.

- Acho que você travou de novo... - Falei e soltei uma gargalhada em seguida, revirando o olho.

- Você é muito audaciosa! - Disse, me apontando o dedo. - Me esqueceu durante todo esse tempo no Brasil e agora, que finalmente me liga, já quer me abandonar de novo.

Eu continuei gargalhando até um olhar defensivo tomar conta. Eu sei que ele não está verdadeiramente magoado, mas eu não tiraria sua razão se estivesse. Eu não falo com Caio desde que ele me deixou no aeroporto em Madrid e isso se configura muito bem como ser uma péssima amiga, mas ele me entendeu depois de uma boa explicação sobre tudo o que aconteceu nesses últimos meses.

As reações dele sobre as "novidades" foram bem variadas. Ele se mostrou completamente apaixonado pelas crianças e me disse que queria conhecê-las. Eu, mesmo não sabendo como faria e se faria isso, garanti que faria acontecer. Para equilibrar as emoções, ele destilou bons minutos de insultos para Carol.

- Eu não sou psicólogo e minha formação em geografia, certamente, não me faz capaz de diagnosticar psicopatia em ninguém, mas dios mio, ninã! - Suspirou perplexo - Sua irmã é um maluca completa.

Não tinha outra escapatória a não ser concordar com ele e rir do sotaque espanhol que atacava seu português nos momentos de emoção. Caio também me atualizou sobre algumas novidades de sua vida, como ter sido aprovado no mestrado e estar pensando em, finalmente, pedir Lucía, sua namorada há quatro anos, em casamento.

Eu fiquei muito feliz quando ele disse isso, pois também sou próxima de Lucía e já escutei muito ela falar sobre seu sonho de se casar com Caio e construir uma família. Imaginar os dois se casando me fez querer muito não perder a chance de presenciar isso ao vivo na Espanha e, para que isso aconteça, eu preciso me resolver por completo no Brasil.

NÓS A SÓS | Fanfic Valu - Stupid Wife Onde histórias criam vida. Descubra agora