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Valentina

Sabe quando você passa tanto tempo aflita, sem esperança e esperando sempre o pior, que quando, finalmente, começa a se sentir verdadeiramente bem, a sensação é até estranha? Pois é. É por exatamente isso que eu estou passando. Eu tinha a sensação de que as coisas dariam errado a qualquer momento, mas algo me dizia - talvez minha intuição ou só o real desejo que tudo ficasse em paz - que se tratava apenas de um medo irracional e que existia a chance de tudo estar entrando nos eixos mesmo. Mas esse medo, apesar de tudo, era plausível, afinal, passei meses esperando que algo bom acontecesse e sempre o contrário acontecia. Hoje espero o pior, pois parece um bom jeito de me defender de decepções.

Expectativas geram frustrações.
Realismo era a melhor saída.

A questão é que agora, finalmente, mesmo com essa sensação estranha, as coisas pareciam caminhar para algo concreto, algo que me deixasse bem, ainda que eu esteja dentro de um carro com a pessoa que me faz lembrar a cada dois segundos que nem tudo estava como deveria. Minha mãe mexia distraída no celular e isso me fazia querer aproveitar cada momento de silêncio que isso me dava, mesmo sabendo que duraria pouco tempo.

- Seu tio, o Osmar, vai se casar de novo, sabia? - Minha mãe perguntou, tirando a atenção do celular por alguns segundos e me olhando curiosa. - Já é a terceira vez...

O silêncio durou pouco demais dessa vez.

- Não estava sabendo. - Respondi, dando de ombros.

- Imaginei... Você mal liga para a nossa família, Valentina.- O desdém que ela trazia na voz era irritante. - Ele vai se casar com uma menina super nova... - Eu conseguia olhar pela visão periférica que ela negava com a cabeça em desaprovação. - Eu acho tão feio quando as pessoas se envolvem com alguém tão mais novo, sabe? A diferença grotesca de idade é algo que realmente... Não consigo nem resumir em palavras. - Ela falou com um tom de nojo exacerbado.

Eu ri ouvindo aquilo.
Ela iria cair dura se soubesse que seu filho não pensava nem um pouco parecido com ela.
Será que eu deveria lhe contar um dia?
Talvez ela merecesse ouvir que o "irmão perfeito", digno de ser usado como exemplo para mim, não era nada do que ela pensava.

- Do que está rindo? - Indagou confusa.

- Eu não estou rindo.

- Mas estava. - Rebateu de olhos semicerrados. Eu estava inclinada para olhá-la nos olhos. - Eu escutei você rir.

- Foi impressão sua, mãe. - Dei de ombros.

- Hum... Espero. Você sabe como eu odeio que me escondam as coisas.

Engoli a seco sua frase.

            Minha mãe voltou a mexer no celular e eu soltei todo o ar do meu pulmão. Já fazia mais de meia hora que eu dirigia aquele carro e isso estava me cansando. A presença de minha mãe não me ajudava muito bem a lidar com as coisas.

Mas o silêncio auxiliava.

- Ele nos chamou ir.

Mas durava pouco.

- O tio Osmar? - Questionei, lamentando mais uma vez a duração minimalista do silêncio.

- Sim, Valentina. Era sobre isso que estávamos falando. - Bufou impaciente. - Você não presta atenção em nada?

Respirei fundo, tentando não colocar para fora - da pior maneira possível - toda a minha chateação diante da péssima maneira que ela me tratava.

- Ele nos chamou para o casamento?

NÓS A SÓS | Fanfic Valu - Stupid Wife Onde histórias criam vida. Descubra agora