—Conseguiu alguma coisa? Diz que sim e alegre um pouco meu dia—Perguntou Olivia já sabendo que não teria uma resposta positiva.
—Infelizmente não, desculpa, a cada dia tá pior—Respondeu Roger com a voz cansada—Fui mais longe ainda, mas não encontrei nada.
—Mas que bom que você voltou, essas idas e vindas são muito perigosas. Teve muitos problemas hoje?—A chefe do agrupamento perguntou preocupada—Já perdemos duas pessoas neste mês, nesse ritmo logo teremos muito poucos mais voluntários.
—Hoje foi tranquilo, felizmente não encontrei nenhum Observador e nem selvagens—Falou Roger se jogando em uma cadeira próxima—Mas alguém voltou das buscas? Ou fui o primeiro a chegar?
—Agnes chegou uns quarenta minutos antes de você, e também não conseguiu encontrar nada, os outros devem chegar logo.
—Espero que esse quadro mude, ou vamos ter que sair daqui, será nossa única solução, infelizmente não temos muitas opções—Disse Roger preocupado, ele sabia que teriam que sair daquele lugar, algo que seria muito difícil e perigoso.
—Se continuar mais uma semana assim, vamos fazer uma reunião e decidir o que faremos—Respondeu Olivia com o semblante muito preocupado e cansado.
—Está bem, vou procurar a Agnes, ela deve estar comendo agora.
—Deve estar, eu vou resolver umas coisas, depois nos falamos melhor—Finalizou Olivia se retirando da sala de reuniões improvisada.
É sempre assim, todos os voluntários voltam sem trazer nada, com os ânimos nas últimas, todos os dias se arriscam, se desgastam fazendo longas caminhadas em vão, não encontram nada, uma vez ou outra conseguem alguma coisinha, porém tem sido raro, e nunca é em grandes quantidades. Quase todos estão propensos à decisão de partir para outro lugar, mas também essa é nossa única opção, ou todos morrem de fome, já ouvi relatos que em um outro agrupamento faziam canibalismo, chegaram nesse nível por conta da fome, as pessoas perderam completamente a sanidade. Nesse novo mundo coisas absurdas e terríveis estão acontecendo com frequência. Não vai demorar e atrocidades parecidas se tornaram coisas normais para muitos. Aos poucos o mundo está se desfazendo em vários sentidos, o fim da humanidade não está muito longe, e infelizmente o final está sendo pior do que imaginávamos.
—Agnes, como vai indo? Não vi você esses dias—Roger falou enquanto se sentava ao lado dela.
—Rapaz...Eu nem sei dizer, tô vivendo e você?—Respondeu Agnes.
—O mesmo, os dias como sempre estão sendo sem resultados, não tenho encontrado nada, esta sendo frustrante.
—Estou na mesma, pelo jeito teremos mesmo que partir para outro lugar logo logo—Falou Agnes terminando de comer e jogando a colher na tigela.
—Ficaram sabendo da última?—William entrou na conversa e se sentou de frente para os dois, William era um jovem de 21 anos que parecia sempre estar agitado e procurando alguém para conversar.
—Qual?—Agnes perguntou curiosa.
—Sabe aqueles três adolescentes que sumiram? Não lembro o nome deles.
—Eu soube deles, mas não sei quem são—Respondeu Roger.
—Sei sei, o que tem eles?—Perguntou Agnes, ela conhecia um pouco esses adolescentes.
—Então, acharam os corpos deles não muito longe daqui, foram mortos por Observadores, ainda me pergunto o motivo deles resolverem sair.
—Burrice, eles sabiam o perigo que é estar do lado de fora, todos sabem disso, morreram por estupidez—Falou Agnes um pouco revoltada.
—Psé, espero que isso não vire costume, mais pessoas decidam sair, mas acho difícil de acontecer, por conta da notícia das mortes dos três, vão ficar com medo—Disse William enquanto mexia com a colher a comida na tigela, provavelmente estava sem fome naquele momento.
—Mas não é nada fácil ficar aqui dentro sem poder sair, ainda mais quando se é jovem, eles não devem ter aguentado permanecer nesta "prisão" mesmo que estar preso nesse lugar seja a opção mais segura—Falou Roger em tom desanimado.
—É verdade—Concordou William suspirando.
—Vou dormir agora meninos, se cuidem e tomem cuidado sempre, boa noite—Falou Agnes se levantando—Amanhã tenho trabalho a fazer.
—Boa noite, eu vou ficar aqui mais um pouco—Disse Roger.
—Vou dormir também, tô morrendo de sono já, boa noite para vocês—Falou William e se retirou.
Essas conversas que tenho com esses meus companheiros de agrupamento, são uns dos poucos momentos bons que tenho, ter pessoas para conversar, mesmo que sejam sobre coisas triviais, me faz esquecer um pouco as preocupações e meus medos. Mas Tentamos não nos apegarmos muito uns aos outros, porque um dia estamos bem, no dia seguinte podemos estar mortos, a morte passou a ser algo muito mais frequente, e ter que superar tantas perdas pode nos deixar louco. Claro que não é algo tão simples assim, não se apegar às pessoas, é difícil, chega a ser involuntário, aos poucos você vai criando apego, e quando menos percebe já é tarde demais, não tem como reverter esse sentimento. Confesso que já me apeguei a algumas pessoas aqui, lutei contra isso, mas não venci, foi mais forte que eu, agora não tem mais o que fazer, apenas aceitar, e eu fico feliz em estar com essas pessoas, não vou mentir, não estou arrependido de ter criado uma relação com elas.
Normalmente não durmo muito tarde, mas hoje estou sem sono, é raro acontecer, ainda depois de um dia cansativo, vagando por aí atrás de recursos, quase todos os dias, quando chegou estou acabado e necessitando muito da minha cama, porém hoje isso não aconteceu. Eu dias assim eu leio livros, aqui no agrupamento a muitos, com o tempo fomos juntando e juntando, agora temos em uma grande quantidade. Ler é o melhor divertido que tenho nesse novo mundo que vivo, me faz emergir dessa realidade terrível que se instalou e vai permanecer até não sei quando. Já li quase todos, tem uns muitos bons, logo estarei relendo eles novamente. O que estou lendo no momento é O Homem Invisível, do H.G. Wells, é uma leitura muito boa, uma pena só ter esse livro desse autor aqui. Eu sempre peço aos outros que também saem para procurar mantimentos, para que tragam os livros que acharem pelos lugares que passam, sempre que encontram algum trazem consigo. Me pergunto se um dia essa parte da história da humanidade estará em um livro, provavelmente não, é difícil acreditar que um dia esse mundo voltará ao que era. Mesmo que esses extraterrestres deixem nosso planeta, a humanidade vai se reerguer? As poucas pessoas que sobreviverão vão conseguir restaurar toda essa destruição? As chances ao meu ver são completamente nulas. É impossível ter um mínimo de esperança para esse mundo, nosso querido e amado lar, que agora não somos mais donos dele, esse direito foi arrancado violentamente de nós, e não conseguimos resistir, fomos fracos, somos fraco. Com o tempo todos foram se conformando com a dominação, e o que fariam? Não tem como lutar contra esses malditos alienígenas.
Mas chega de ficar pensando nisso, só vai me deixar mal, mais do que já estou. Enquanto eu estiver lendo o sono pode aparecer, e espero que apareça mesmo, amanhã eu preciso acordar bem cedo, vou ter que ir a lugares mais longes, a cada dia aumenta o percurso, mas tem outra alternativa no momento. Tomara que até o final dessa semana essa questão seja resolvida, algo precisa ser feito, e logo, ou todos aqui vão passar por muitas dificuldades. Então certas decisões tem que ser tomadas, decisão essa que é sair todos daqui e ir para algum outro lugar, com mais recursos, será algo difícil de fazer, mas tem que ser feito com urgência, as comidas, os remédios, e outras coisas necessárias, já estão em pequena quantidade, e tem diminuindo muito rápido, por conta da falta de reposição. Temos que sair daqui o quanto antes, ou esse lugar vai virar um inferno.
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ESFERAS ( Em Andamento )
Ficção CientíficaA história é sobre uma terrível invasão alienígena, que dizimou 70% da população, e os poucos sobreviventes se escondem com medo e pavor, será esse o fim da humanidade?