ESFERAS ( Em Andamento )

CAPÍTULO 7

       A noite já se instalou completamente, e que maravilha o céu está aberto, é algo surreal ver tantas estrelas acima de nossas cabeças, é quase impossível resistir a atração que elas exercem, como se ordenasse que olhássemos para elas, e nós obedecemos sem um mínimo de resistência. Mas temos que nos manter em alerta, a qualquer momento podemos encontrar um Observador, a noite fica mais difícil para enxergamos, devemos redobrar nossa atenção, não só por causa dos alienígenas, mas também por conta dos selvagens, esses loucos sedentos por violência se aproveitam que agora o mundo é um lugar sem leis, punições, sem nenhum tipo de segurança para as pessoas que só querem sobreviver, só tornam o que está ruim em pior ainda. 

    Eu estou ficando preocupado, pelo caminho que estamos indo, têm rastros de pneus e pegadas de cavalos, e são recentes, de horas. Nos afastamos da direção que esses rastros iam, mas mesmo assim estou receoso, podem não ser selvagens, mas as chances são altas, muito altas, o que me alívio um pouco, é que não parece ser um grupo grande, porém isso não muda o fato de não serem muito perigosos, sempre estão fortemente armados, com variados tipos de armas, e o que temos? Duas pistolas, a minha Glock G22 e a SIG Sauer P226 da Agnes, contra um grupo de selvagens muito bem armados não teremos chance alguma, não sei se Henry tem alguma arma, não cheguei a perguntar, mas não vai fazer muita diferença, somos três contra um grupo com o armamento muito maior que o nosso.

—Henry!—Chamou Roger—Você tem alguma arma aí?

—Não, eles pegaram minha arma quando fui expulso—Respondeu com o semblante um tanto sério, parecia ter se lembrado de algo que não queria.

—Ah, Sim, sério? Além de colocarem você para fora, deixaram você sem nada para se proteger...Esse pessoal não tem piedade alguma hein—Falou Roger surpreso com o que fizeram com Henry.

—Psé, fizeram isso—Disse Henry, aparentando não estar com vontade de dar continuidade nesse assunto.

—Não sei se isso vai te incomodar, mas eu poderia fazer umas perguntas sobre esse lugar que você estava? A Torre—Perguntou Roger, ele queria muito saber como é esse lugar de onde Henry veio.

—Melhor deixar para outra hora—Henry respondeu seriamente, realmente ele não queria falar sobre isso.

—Tudo bem, não tocarei no assunto—Falou Roger voltando sua atenção para o caminho que seguiam.

—Acho melhor mesmo não falarmos sobre isso, ele fica muito incomodado—Falou Agnes bem baixo para só Roger escutar.

—Sim, ele não gosta nem um pouco desse assunto—Respondeu Roger—Provavelmente deve ter tido experiências ruins naquele lugar.

—Do pouco que já sabemos, não parece ser um lugar nada agradável—Disse Agnes imaginando como deve ser essa Torre.

—Se depois ele quiser falar sobre, vamos descobrir mais, por enquanto devemos evitar tocar no assunto—Falou Roger.

    Não julgo Henry por não querer falar sobre a tal Torre, tem coisas que realmente queremos esquecer, lembrar só vai nos deixar mal, então tentamos ao máximo não relembrar certos momentos. Realmente entendo o lado dele, provavelmente passou por situações terríveis, e não é fácil falar sobre, ainda mais com pessoas completamente desconhecidas, qualquer um ficaria desconfortável. Mesmo por termos dado comida e água, e aceitarmos vir conosco, ele não é obrigado a dizer pelo o que passou só para apaziguar nossa curiosidade. Eu confesso que estou muito intrigado com ele e esse lugar de onde este homem veio, Agnes certamente está como eu, mas vamos respeitar a decisão dele.

    Metade na noite já deve ter se passado, caminhamos por todo o dia praticamente, paramos poucas vezes para descansar, e não encontramos nenhum local propício para o agrupamento, mas ainda é o primeiro dia, sabemos que não será fácil, isso pode levar semanas ou meses, e ainda nem sabemos se vamos encontrar mesmo. Logo mais vamos ter que achar um lugar para dormir, não será uma tarefa fácil, temos que estar bem seguros enquanto dormimos, estaremos totalmente vulneráveis, tem que ser um local onde será muito difícil de algum Observador ou selvagens nos encontrarem. Tem noites que nem consigo dormir, com medo de ser capturado, sem falar dos pesadelos, esses são frequentes, você pensa que com o tempo isso passa, mas não, nunca param de te atormentar, você apenas tentar se acostumar, é o único jeito de tentar lidar com essas coisas. Não tem como ter pensamentos bons e positivos em um cenário como esse que vivemos, basicamente você só pensa que poderá morrer a qualquer momento por um alienígena ou por selvagens, e que a comida está acabando, porque se as coisas continuarem do jeito que estão, todos do agrupamento sofrerá com a fome, impossível ficar com a mente tranquila e ter uma boa noite de sonho, não dá.

—Precisamos dormir ou não vamos ter forças para o próximo dia—Falou Agnes quebrando o silêncio—Mas não vejo nenhum lugar bom para isso.

—Estava pensando a mesma coisa—Respondeu Roger—Mas vamos continuar seguindo em frente, quem sabe achamos.

—Se esse é o problema, vocês podem dormir, eu fico acordado de vigília—Propôs Henry.

—Você precisa dormir mais que nós, estar aparentando muito cansaço, não se preocupa, vamos encontrar um lugar—Protestou Agnes, ela via mesmo que ele estava bem fatigado.

—Não se preocupem comigo, eu estou perfeitamente bem—Insistiu Henry enfaticamente.

—Não! Todos vamos dormir, estamos precisando, e sim, você é o que mais está precisando, não somos cegos—Falou Roger encerrando essa questão.

—Tudo bem, vocês que sabem—Respondeu Henry e completou com algo que deixou todos atônitos—Estão ouvindo isso também? Esse som ao longe, parece vir de trás de nós.

—Agora que você falou, estou ouvindo também...E parece sons de carros vindo, selvagens!!! Só podem ser eles, isso não é nada bom, devem estar seguindo nosso rastro—Disse Roger pensando no que fariam.

—Vamos para aquele lado, onde o terreno é mais difícil para carros passarem—Falou Agnes apontando para o local que não estava muito distante—É a nossa única opção no momento.

—Nossa única opção mesmo, comecem a correr, eles não estão muito longe—Disse Roger e os três começaram a correr o máximo que podiam.

    Era de se esperar, eu já desconfiava que isso podia acontecer, aqueles rastros eram recentementes, eles estavam caçando, e agora estão vindo atrás de nós, nossa única escolha mesmo é ir para o local que dificulta os carros deles de nos perseguir, pelo menos não terá carros para nos alcançar, claro, se der tempo de chegar lá. Uma hora isso aconteceria, é quase algo inevitável, essas selvagens sempre ficam vagando por aí atrás de suas vítimas, e coitados dos que são pegos, o fim dessas pessoas que são capturadas por eles, enfrentam as piores coisas possíveis que um ser humano pode fazer com o outro, e eu espero muito que esse não seja o nosso final.