Dois

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“E tudo isso, todas as escolhas que tiveram ao longo de suas vidas, os levavam diretamente aquele momento tão importante para o início de duas almas destinadas”

Kyojuro ainda não sabia o que dizer, estava preso naquele momento. Foi como se tivesse tido um vislumbre de todo o seu futuro com aquele ômega que acabara de conhecer.

-Você é uma mãe muito bonita Tanjiro – o alfa sorriu esperando uma resposta, mas temendo que o ômega ficasse desconfortável, limpou a garganta e continuou – tá sentindo algum mal estar? Tá com fome? Quer descansar?

Tanjiro sorriu com a preocupação do grandalhão a sua frente, e negando com a cabeça respondeu:

-Não, apenas quero refazer meu ninho. Pode me ajudar a achar um lugar seguro e confortável?

Kyojuro corou com a possibilidade de ajudar o ômega com alguma coisa a respeito do ninho.

-Ah, certo! Meus soldados montaram um acampamento aqui perto. Você pode ficar na minha tenda, é grande, confortável espaçosa e-

-Soldados?! – o ômega interrompeu

-Alguns reinos não gostam da minha forma de liderar... não aceitei me casar com nenhum de seus primogênitos e como você já deve saber, isso sempre acarreta em conflitos. – Vendo que o ômega não responderia, continuou – Fui ensinado desde pequeno que não deveria me submeter a tudo o que os outros querem que eu faça. Eu sou um verdadeiro protetor do amor, e se não há afeto e carinho em uma relação, eu me nego casar com quem quer que seja...e então, alguns reinos declararam guerra, mas por sorte meu reino é o mais populoso e com maior quantidade de soldados.

-Espera, você começou uma guerra apenas por que não queria se casar?

O alfa sorriu em compreensão.

-Não é isso Tanjiro. Essas pessoas não querem que eu me case com seus primogênitos apenas por casar, tem sempre um motivo de interesse por trás. E no meu caso, eles querem tomar o meu trono, é assim que funciona em reinados. Já perdi as contas de quantos ômegas tentaram me seduzir em festas, com o plano de me matar depois.

-Uau... isso é tão... triste. Deve ser ruim viver com medo de morrer a qualquer instante.

Kyojuro pareceu refletir. Nunca tinha pensado nisso, realmente, vivia com medo de morrer? Não, ele não se importava muito. Tinha medo de morrer por não ter herdeiros, e por consequência não poderia saber que tipo de pessoa ficaria no seu lugar assim que partisse. Tinha medo de que seu reinado que demorou tanto tempo pra se erguer e se tornar o que é hoje, ficasse em mãos erradas. Mas não iria falar isso ao ômega, não agora.

-Um pouco... sabe, quando senti o seu cheiro fiquei com tanto medo – Tanjiro o olhou surpreso, sem uma resposta formada – pensei, o que um ômega está fazendo aqui? Será que ele viu as atrocidades que aconteceram no campo de batalha? Fiquei com medo de estar correndo perigo e sem nem pensar duas vezes saí pra procurar o dono de um cheiro tão maravilho – como se fosse álcool sendo jogado no fogo, Tanjiro corou até as orelhas, o alfa apenas riu com graça – fico feliz de ter te encontrado – o alfa olhou para o bebê no colo da mãe – e ele também.

Voltaram a andar, sem nem perceber que tinham parado um instante pra conversar. Um súbito desejo de carregar o ômega nos braços encheu a cabeça de Kyojuro com pensamentos estranhos. Não queria assustar o ômega, sabia que muitas coisas aconteceriam se apenas seguisse seus instintos e ele não queria se apressar. Então apenas reprimiu esse desejo intenso e ficou de olho em qualquer movimento que indicasse dor ou desconforto no garoto ruivo.

-É bom sabe que você não se deixa levar pelas vontades dos outros. Deve ter muita força de vontade dentro de você.

O alfa riu.

-Eu me esforcei muito pra ser o melhor rei que meu povo já viu, não posso deixar tudo desandar por questões de interesse.

-Eles devem te amar muito né? - o ômega estava curioso pra saber sobre o povo do norte. E Kyojuro estava feliz pelo seu interesse.

-Se não, então eu vou me esforçar mais pra ser amado.

Sorrisos sinceros foram lançados ao ar, Tanjiro não sabia o motivo de estar tão bobo, mas não queria que aquilo mudasse.

-O acampamento é logo ali – apontou pra onde tinham algumas fogueiras e lamparinas que começavam a ser acendidas e penduradas nas árvores. Já era quase noite, Kyojuro queria muito caçar algo para o ômega comer, mas logo ficaria escuro e precisava ajudá-lo no ninho. Então pensou em apenas dar o que os soldados caçaram e algumas frutas.

Tanjiro estremeceu ao ver tantos alfas em um lugar só.

-Não se preocupe, meus soldados são o meu reflexo. Alguns já até tem seu companheiro ou companheira. Os que não tem, não vão te tocar ou se aproximar sem que você permita.

Tanjiro sorriu e assentiu. Apesar de ter um certo medo natural de alfas, confiava genuinamente na palavra daquele ao seu lado. E sabia que estaria protegido na presença dele.

Quando adentraram o acampamento, por incrível que pareça, todos o cumprimentavam de forma respeitosa ou sorriam amigavelmente pra si. Tanjiro pensou estar no paraíso. Tantos alfas ali para lhe proteger e nenhum deles eram asquerosos como os do reino de onde viera.

Kyojuro farejou o ar e sorriu ao sentir o cheiro do leite materno, o filhote estava mamando enquanto parte de sua capa cobria os seios do ômega. Essa, sem nem sequer uma dúvida, fora a melhor coisa que Kyojuro já viu. A cena mais linda já presenciada pelos seus olhos. Ômegas eram incríveis, os seres mais belos e especiais já criados pela mãe natureza.

Guiou Tanjiro até a sua barraca e lhe entregou comida e algumas roupas, mesmo o ômega dizendo que não precisava, o alfa ansiava pra ter o seu cheiro cobrindo o bebê e a mãe naquele ninho.

Com muita relutância, o ômega pegou as roupas e Kyojuro o ajudou a montar o ninho.

Tanjiro desenrolou o bebê e lhe deu um banho, aproveitando pra tomar um também. Vestiu-se apenas com a capa do alfa e forrou sua camisa no meio do ninho deitando o filhote ali. Pegou um dos cobertores que o alfa lhe deu e se deitou abraçando com cuidado seu filhote.

Kyojuro teve que controlar sua vontade de se aninhar ali com os dois. Respirou fundo e foi ficar de prontidão na frente da barraca. Por algum motivo, queria mostrar ao ômega que ele era um alfa protetor e atento na esperança de atraí-lo.

Enquanto o alfa - que nunca tinha nem tocado em um ômega antes - não sabia o que estava fazendo, Tanjiro sabia exatamente quais as intenções nos atos do alfa. O lobo de Kyojuro clamava, chorava e implorava por si e sem que o alfa tivesse conhecimento sobre, Tanjiro podia escutar o chamado.

O ômega deu um sutil sorriso. Nunca pensou que realmente encontraria o parceiro que foi destinado a ser seu. Achava Nezuko muito sortuda por ter encontrado Kanao, mas nem imaginava que um dia chegaria sua vez. Pensou que seu destino fosse viver toda a sua vida sendo tratado como lixo por Inosuke, sendo obrigado a ver o alfa chegando com marcas de chupão no pescoço e cheiro de variados ômegas todos os dias. Mas ali estava ele, em um ninho formado com roupas do alfa mais gentil que já conheceu, enquanto o mesmo estava de guarda do lado de fora. Estava com certeza no paraíso.

Já Kyojuro estava sério do lado de fora, vigiava o ômega e seu filhote como se houvesse algum perigo iminente. E mesmo sabendo que não tinha nada com o que se preocupar, o alfa estava pronto pra atacar qualquer um que ousasse ser um incomodo pro seu ômega no ninho.

O ômega fungava o cheirinho do bebê, ronronando vez ou outra. Sentia-se imensamente e genuinamente feliz em finalmente ter seu filho nos braços, apesar de ainda sentir falta da barriga grandinha e de poder acariciá-la.

As coisas caminhariam por uma trilha diferente agora, e Tanjiro podia sentir isso. Estava realmente, muito feliz.

O Rei gentil (RenTan Mpreg, Uzuzen Mpreg)Onde histórias criam vida. Descubra agora