│6│dorado

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"Onde quer que haja sofrimento, o terreno é sagrado." É a única frase que paira pela minha mente enquanto observo meus sapatos – os mesmos que eu tanto reclamara no início da noite – pisando no sangue vermelho-escuro que goteja do tórax aberto, a poça sendo tão grande que me alcançou mesmo estando metros de distância.

Meus olhos correm pelos traços recém apagados, tentando desvendar que divino futuro estava reservado aquela doce criança, seus sonhos, seus gostos, sua vida. Era impossível não associar a Eve, eu não a vi morta pessoalmente, não fui ao seu enterro e mal estive consciente durante o período de luto, mas eu imagino que estaria como os pais da garota. Um casal não muito jovem, que aparentemente tiveram problemas para engravidar e aquele sendo o seu pequeno milagre, eles tinham feito um escândalo quando foram trazidos pela polícia local, se jogando no chão e urrando de dor.

A mãe, frágil, teve uma síncope logo em seguida e o pai a seguiu até a ambulância. Haviam várias destas agora, após o desmaio de Harry muitos vieram assustados e um a um foram se deparando com a cena que parecia ter saído de um filme de terror, as pessoas se eriçaram e tudo se tornou uma grande confusão de gente correndo com medo do assassino estar por perto, outros horrorizados com a imagem bárbara, passando mal e pra variar os curiosos que tiravam fotos e queriam chegar perto pra tocar. O meu chamado bastou para que diversas ambulâncias, caminhões de bombeiros e a polícia civil montassem guarda pelo perímetro.

Em uma dessas ambulâncias, Harry se encontrava apagado. Ele acordou chorando e meio histérico e como isso era muito prejudicial ao bebê os paramédicos acharam melhor seda-lo.

A minha noite "perfeita" foi tão tragicamente desfeita, ao menos meus filhos estavam em segurança. Chequei meu celular, lendo as mensagens de Liam de que minha equipe estava a caminho, outra de Gemma, para aliviar o peso no meu coração:

Gemma: Eu vou moide :3

Ao olhar para eles um sorriso automático se forma. Digito rapidamente sabendo que meu trabalho precisa de toda a minha atenção agora.

| Louis:
Por favor, cuide bem deles.

| Gemma:
Eu sempre cuido. Sou a super tia! 😎

| Louis:
Você é.

O guardei no bolso traseiro, a brisa fria soprova contra meu rosto bagunçando todo o meu cabelo, tratei de jogar a franja longa para trás, cerrando os dentes quando o contato da aliança fria com minha têmpora se fez presente.

Como esse desgraçado se atrevera a fazer isso, justamente no dia de Harry e ainda por cima para que ele pudesse ver?

E o pior, matar uma criança.

— Com licença, senhor. — O delegado da polícia local se aproximou receoso, os polegares enganchados nos passadores de cinto.

— Pois não? — Disse focando os olhos na calçada úmida, após uma garoa fina que só agravou para o sangue se espalhar.

— Acho que seria melhor se liberássemos os civis e começássemos as buscas pela região.

— Liberar os civis? — Perguntei e o homem me apontou a entrada da galeria, onde os convidados se acumulavam num falatório sem parar sobre o fato de estarem todos detidos lá dentro.

— Por que estamos desperdiçando nosso tempo com eles? São apenas vítimas.

— Não, não são. Um deles fez isso. Eu vou descobrir quem foi. — Digo lhe dirigindo um olhar severo — Continuem fazendo o que eu mandei e não toquem em nada, o FBI está chegando.

ANDRÔMEDAOnde histórias criam vida. Descubra agora