│26│sagitta

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Se dependesse de mim, eu não estaria aqui.

Julgamentos são sempre enfadonhos e repetitivos, um falava uma coisa e o outro dispara um: Protesto e era obrigado a reformular toda a frase. Estávamos na metade da segunda semana e nada apontava para uma absolvição, não quando a promotoria trazia duas vezes mais testemunhas de acusação.

Em algum ponto foi exigido avaliações psiquiátricas de nós dois. Gemma tinha problemas com raiva e autocontrole, isso era sabido por todos, agora eu, seria uma caixinha de surpresas. A hipótese de um desequilíbrio mental surgiu com o depoimento do nosso psicólogo, Dr. Pendergast, claro que ele viria animadamente fincar os últimos pregos no meu caixão.

De seu assento elevado, ao lado do juiz, ele parecia muito profissional em sua roupa social e óculos de grau. Um homem respeitável.

— Louis sempre teve grandes oscilações de humor e comportamentos impulsivos e sem sentido. Sem falar de sua grande resistência em buscar tratamentos adequados ou de fato, se abrir. Basicamente ele ia até mim para assegurar que estava bem.

— Ele procurou o senhor voluntariamente? — O promotor indaga eloquentemente, se aproximando de Adam.

— Não, não, foi uma exigência do FBI após o atentado que sofreu, eles temiam algum estresse pós-traumático.

— E ele realmente sofre de um?

— Sim, mas também apresentava resistência em se medicar. Nos últimos meses ele havia demonstrado uma súbita mudança de comportamento, porém, também começou a insistir que seu marido, Harry, sofria de um transtorno raro.

— O suposto Transtorno dissociativo de identidade?

— Exatamente, o que é ilógico, em anos atendendo-o nunca demonstrou indício algum de ter dois ou mais alters. Ele é literalmente uma das pessoas mais doces e expressivas que eu já conheci, na verdade, senhores, se me permitirem, gostaria de sugerir que fossem realizadas avaliações psiquiátricas com os réus, em especial o senhor Tomlinson.

E foi assim que tive toda a minha vida, passado e presente revirados. Um grupo de psiquiatras e neurologistas me monopolizaram de todas as formas possíveis, só era liberado nos momentos das audiências.

Minha cabeça ainda doía quando entrei na corte naquela manhã. Me instalei em meu assento e ali permaneci cabisbaixo, até sentir um toque em meu ombro, virei o pescoço e dei de cara com dois pares de olhos azuis.

— Spen! Blay! — Exclamei, descrente que depois de tanto tempo os tinha tão perto.

Para melhor representar a linda família feliz e unida, "Harry" os trazia diariamente, talvez fosse realmente para passar a imagem de família inofensiva ou para me lembrar que os tinha com ele e poderia facilmente feri-los se eu não colaborasse.

— Papai! — Os dois disseram, se empurrando para conseguirem se enrolar no meu pescoço. Minha mãe sorriu, os segurando.

— Oi, como estão? Eu senti tanta falta. — Beijo cada um, notando como parecem crescidos e fisicamente bem.

— Bem. — Spencer respondeu puxando minha gravata — Que é isso?

— Isso é uma gravata. Eu preciso usar aqui.

— Onde é aqui? — Blake resmungou, coçando os olhos.

— Aqui é... É um lugar que o papai precisa estar por enquanto, mas já vai se resolver.

— E a gente vai pra Disney?

Aproximo o rosto do rostinho minúsculo de Spencer.

— Sim, nós vamos pra Disney.

ANDRÔMEDAOnde histórias criam vida. Descubra agora