Eu nunca pensei que sairia dessa vivo. A mais remota possibilidade de sobreviver não passou pela minha cabeça, por mais que houvessem momentos em que dei a minha vitória como certa, no meu âmago fantasiava que ele conseguiria me levar junto. Que estaríamos condenados e pagaríamos por nossos pecados lado a lado.
Mas eu estava errado e apenas ele partiu.
E eu continuei aqui, existindo.
Existir é uma tarefa árdua quando você não tem mais energia para isso. Mesmo nos momentos mais caóticos da minha vida tentava focar no futuro, naquilo que me reservava, nas possibilidades e a única que me resta no momento é uma cela fria de segurança máxima no hospital psiquiátrico de onde eu escapei. De volta ao manicômio.
De início, me convenci de que era tudo um sonho. Uma realidade maluca e traiçoeira que minha mente criou enquanto estava cochilando na banheira me atrasando para o trabalho, qualquer coisa que não fosse acreditar que isso era real, porém, dias se passaram, mais precisamente duas semanas. Duas semanas mais tarde e não acordei desse pesadelo.
O médico veio até aqui e teceu elogios a minha recuperação, ele começou a tirar os pontos e segundo ele, mês que vem vou estar novo em folha, dentro do possível. Com isso, recebi alta e estarei retornando o quanto antes a minha sentença perpétua.
Sem visitas, sem notícia alguma do mundo externo. Tudo o que sabia além destas paredes é que os carros de reportagens continuavam acampados diante do hospital, eles abordavam quem quer que desse as caras a procura de uma exclusiva, mas não havia mais nada para saber sobre mim a essa altura.
E o que de fato não sabiam, eles inventavam.
— Você tem cinco minutos. — Craig, o federal responsável por ser meu cão de guarda dentro do quarto disse, tirando minhas algemas atreladas a cama.
Ele foi bastante generoso em concordar que eu tivesse alguns instantes de privacidade no banho de hoje.
Logo estarei preso a uma camisa de força e coisas como esfregar minhas próprias costas deixarão de ser uma preocupação.— Eu vou estar bem aqui, faça alguma gracinha e eu te dou um motivo pra ficar mais uns dias por aqui. — Ele reforça sua fala balançando a Glock e eu reviro os olhos.
— Nossa, você me pegou! Eu tenho tanto medo de levar um tiro. — Resmungo entediado, entrando no banheiro.
— Muito engraçadinho, Tomlinson. Sem gracinhas!
Dito isso, ele bate a porta e sei que ele está grudado no outro lado da madeira e tudo bem, não tenho interesse em fazer nenhuma gracinha além de tomar o último banho em um lugar livre de malucos. Com cuidado puxo a camisa, seguida das calças, dedilho superficialmente meu peito, a cicatrização estava muito boa, um corte limpo e bem fechado, o médico comentou que era quase como se não quisessem me matar realmente. Em parte sabia que era verdade. Apesar disso, respirar continuava sendo trabalhoso.
Abri o chuveiro e entrei debaixo da água morna, me servindo apenas de uma mão, uma vez que a outra ainda estava com as bandagens, era intimamente frustrante saber que eu nunca mais poderia dar o dedo do meio para ninguém. Os dois se foram. Não, eu não seria sentimental quanto a isso, quando o que me fazia falta mesmo era minha aliança, ela teve de ser levada, assim como os anéis de Harry, tudo era uma arma em potencial em minhas mãos.
Todos me tratavam como se eu fosse o homem mais perigoso na face da terra quando não passava de um policial que levou a sério o treinamento, nada além disso. O perigo real estava na minha falta de limites, quanto a isso todos nós concordávamos.
Me aproveitei ao máximo da sensação de poder fingir ser normal, apenas um homem qualquer tomando um bom banho antes de começar o dia, eu era bom nisso. Em imaginar.
VOCÊ ESTÁ LENDO
ANDRÔMEDA
HorrorLouis Tomlinson era um dos mais renomados detetives do FBI e tudo isso graças a sua ficha impressionante de casos resolvidos, porém nos últimos dois anos o brilhante detetive se via preso no mesmo caso: Um assassino em série que vinha propagando o t...