Wandinha x Xavier - Don't Blame Me

Midnight rain.

— SÉRIO, O QUE FOI AQUILO LÁ EM BAIXO? - Enid gritou desacreditada após Wandinha fechar a porta de seu quarto.
Wandinha se senta na cama com uma cara nada boa e Enid faz o mesmo.
— Primeiro de tudo, nunca mais eu deixo você me fazer de cobaia. Segundo, pare de gritar. E terceiro, eu também não sei. - Wandinha diz sussurrando a última frase.
— Goody ficou com a cara fechada o tempo todo, não sorriu nem com o buquê de rosas que ganhou de sua mãe. - Enid relembra.
— Têm razão.
— Você tem noção de que o namorado da sua irmã disse que você estava bonita? - Enid se levanta e vai em direção ao banheiro para colocar seu pijama. Dormiria na casa de Wandinha aquela noite. - Você viu a cara de tacho que ela ficou? - gritou risonha do banheiro.
— Calada, Enid! - Wandinha a repreende. - Isso não foi engraçado, ok? Goody é minha irmã, Xavier é namorado dela e aquela situação não foi nada agradável. Para ninguém!
— Diz por você, eu A-D-O-R-E-I. - Enid diz soletrando e sai do banheiro vestida com seu pijama de unicórnio. Wandinha faz cara de nojo.
— Eu só quero esquecer. Fique calada e vá dormir, ficarei acordada para escrever um pouco e preciso de silêncio. - Wandinha diz indo em direção ao seu guarda roupa e tirando um vestido de camisola preto e meias listradas.

Ao se olhar no espelho do banheiro, admirou o penteado que Enid havia feito; ele realmente estava bonito mas aquelas trancinhas em forma de tiara estavam a machucando então optou por desfazê-las deixando o cabelo solto e livre assim como sua franja. Retirou toda sua maquiagem, escovou seus dentes e ao colocar seu pijama seus olhos caíram no colar que havia ganhado dele.
Ao retornar para seu quarto, notou que Enid já dormia na sua cama e achou engraçado o fato da amiga estar abraçada com um coelho de pelúcia. Foi em direção à sua máquina de escrever tentando esquecer daquela noite, ela não havia sido desastrosa mas em parte constrangedora e diferente, o elogio de Xavier ainda estava martelando sua mente sombria e isso não era bom. Não mesmo.
Wandinha ficou um tempo escrevendo e quando faltou criatividade, ela focou seu olhar na janela notando o início de uma tempestade, amava a chuva e em como as nuvens do dia seguinte ficavam escuras e carregadas. Se levantou e saiu do quarto com cuidado para não acordar a figura colorida que dormia, desceu as escadas e foi em direção a grande janela que ficava na sala para observar a chuva. Aquilo não foi o suficiente para Wandinha já que a mesma decidiu ir para sua varanda e sentou-se no pequeno degrau da entrada. Sorriu ao observar os pequenos relâmpagos que davam no céu e as gotas grossas que caiam sobre seus pés, fechou seus olhos diante a sensação gelada que ia contra sua pele mas que ao mesmo tempo era agradável para ela.

X.

— Está louca? - Digo ao ver sua figura pequena sentada olhando pro nada enquanto tinha suas pernas sendo molhadas pela chuva.
— Me erra. - Wandinha diz com seu humor de sempre.
— Vai adoecer, acho melhor você entrar. - Me aproximo dela.
— Na minha certidão de nascimento constata que meu pai se chama Gomez Addams. - Ela se levanta e coloca seu olhar assassino em mim.

Eu poderia ter retrucado mas estava ocupado demais observando em como ela estava linda. Seus cabelos surpreendentemente continuavam soltos mas sem as trancinhas no topo, seu rosto limpo e natural, o contraste de sua pele com a cor da roupa que usava. Aquela imagem seria uma ótima inspiração para meu próximo quadro.

— Por quê disse aquilo mais cedo? - Wandinha me pergunta com seus olhos curiosos.
— Se refere ao elogio? - Pergunto já sabendo de sua resposta.
— Não faça perguntas óbvias que já sabe a resposta.
— Você acabou de fazer uma. - Retruco. Ela me olha sem entender. - Você sabe que é bonita mas me perguntou o porquê de eu ter falado aquilo.
— Eu não sou. - Ela retruca e após um pequeno silêncio começava a se preparar pra sair mas eu a puxo devagar.
— Sim, você é. Até demais. - Sussurro as últimas palavras mas ela escuta pois no mesmo segundo desvia seu olhar do meu, parecia envergonhada.
— Não tem casa? - Ela diz mudando de assunto e cruza seus braços.
— Goody me pediu pra dormir aqui. - Analiso.
— Ok. - Ela diz me olhando.
— O colar. - Digo sorrindo e olhando para seu pescoço, me senti genuinamente feliz por ela não ter jogado fora.
— É. Ele não é tão feio assim. - Wandinha diz com um pequeno bom humor e me olha.
— Vamos para a sala? - Digo notando a chuva cada vez mais forte e consequentemente o tempo mais friento.
— Vou porque quero e não porque você sugeriu. - Wandinha diz emburrada. Sorrio ao vê-la indo em direção ao sofá e fecho a porta.
— Não conseguiu dormir? - Me sento próximo a ela que na mesma hora se afasta e me olha atentamente.
— Não. Sinto meu cérebro se esmagando dentro da minha cabeça. Isso me agrada mas gostaria que não acontecesse hoje. - Ela diz calmamente enquanto eu arregalava os olhos.
— Não vai me perguntar o porquê de eu estar acordado? - Digo divertido.
— Não me interessa saber. - Wandinha fala de maneira carinhosa, como sempre.
— Ok, eu já deveria imaginar. - Sorrio e foco na chuva que caía lá fora.
— Goody está brava? - Wandinha se pronuncia depois de uns minutos e me olha.
— Por que estamos falando dela?
Eu não sei o porquê de ter falado isso mas que se dane. Noto que Wandinha apenas assentiu se virando para frente e observando a chuva, assim como eu à minutos atrás.
— Quer escutar música? - Sugiro.
— Vamos acordar todos da casa. - Ela diz balançando sua cabeça.
— Eu não sei em que mundo você vive, mas saiba que nós estamos no século 21 e a tecnologia nos trouxe os fones de ouvidos. - Tiro do meu bolso um par enquanto ela olhava curiosa.
— Nunca usei. - Ela disse analisando com uma curiosidade genuína o objeto em minhas mãos. Era fofo.
— Quando sua irmã me disse que você era a pessoa mais estranha do planeta eu não acreditei mas acho que agora eu entendo. - Digo rindo e noto que ela fecha sua cara.
— Se acha isso de mim assim como ela, guarde para si pois eu não perguntei em nenhum momento. - Ela se levanta e eu por impulso pego em suas mãos. Wandinha me olha espantada.
— Ei, fique. Por favor. Me desculpa, eu não falei na intenção de caçoar do seu jeito. - Digo arrependido e ainda segurando suas mãos.
— Regra número 1 de como evitar a morte: não toque em Wandinha. - Ela se livra brutalmente mas continua ali me encarando.
— Ok, marrentinha. Vou colocar uma música para escutarmos. Quando sentir sono, pode subir. - Digo conectando o fone no meu celular e rezando a Deus que ela aceitasse minha ideia.
— Não me chame assim! - Ela diz brava mas se senta no mesmo sofá. Longe até demais, só pra constar.
— Já escutou "Midnight rain"? - Mostro a ela informações da música.
— Taylor Swift? - Ela diz. - Nunca escutei essa, mas Enid me força a escutar algumas músicas dessa vadia. - Ela diz revirando os olhos despreocupada.
— Oh, temos uma hater da Taylor? - Ele diz sorrindo.
— Não sou hater, eu só odeio música pop. - Wandinha diz indignada me olhando com um olhar divertido, e eu juro que vi nascer um pequeno sorriso nos lábios dela.
— Vou acreditar em você. - Dou uns tapinhas no sofá indicando para que ela se aproximasse. O fone não era uma corda.
— Quê? - Ela diz sem entender.
— Arreda, vem cá. O fone não vai ir até você, Wandinha. - Mostro a ela até onde dava.
— Hm. - Ela diz e se aproxima de mim receosamente.
— Toma. - Entrego à ela um lado e coloco também. - Vou colocar a música, se não gostar pode me falar.

Ela concorda com a cabeça e dou o play. Enquanto a música tocava, olhávamos para a chuva que caía lá fora em silêncio. Wandinha não disse nada até quando a música acabou, apenas me olhou e perguntou se tinha como repetir a música e eu sorri dizendo que sim, colocando na opção de repetir sem parar. Ficamos ali, no sofá, compartilhando o fone e observando a chuva. Ela não me matou por fazê-la escutar música pop.
Depois de um tempo, acordo sentindo um desconforto no pescoço e percebo que havia cochilado. Olho sonolento para a tela do celular indicando que era 2h25 da madrugada. Sinto um peso em minhas coxas e olho para baixo notando que Wandinha dormia em meu colo, ela ainda escutava a música e tinha um leve bico em seus lábios. Admiro seu rosto por minutos, pela primeira vez aquele anjo da morte parecia uma pessoa indefesa, serena e delicada. Tiro cuidadosamente o fone de seu ouvido e penso mil vezes antes de fazer o que fiz segundos depois. A carreguei até seu quarto e fiz questão de conferir se ela estava bem agasalhada com duas cobertas que achei. Ao voltar para o quarto de minha namorada, encaro Goody que dormia tranquilamente e solto um suspiro.

Eu não curti tanto esse capítulo mas eu espero que seja o suficiente para vocês. Amo ler os comentários e gosto de interagir com vocês, continuem.
C.