Sexta-feira 13.

285 32 55
                                    

— Wandinha, eu preciso do meu celular! - Pugsley grita do outro lado da porta.
— Bom, eu sempre fui uma grande admiradora de gatos. Principalmente os pretos. Que raça você pegou? - Wandinha tagarelava no telefone sequer se importando com a gritaria de seu irmão no corredor. Ao escutar mais uma reclamação, a garota afasta o celular da orelha e silencia a ligação. - Pugsley, só mais uns minutos! - Ela responde de forma autoritária.
— Você disse isso à cinco minutos atr... - Pugsley é interrompido com um barulho estrondoso fazendo com que ele se assustasse e corresse dali. Wandinha simplesmente havia atirado uma de suas botas contra a porta.
— Aconteceu algo? O que foi esse barulho? - Xavier pergunta do outro lado da ligação.
— Nada, Xav! Só o meu irmão me perturbando. Como sempre. - A menina mente enquanto se deitava de bruços. O celular estava sendo segurado com suas duas mãos enquanto a mesma balançava as suas pernas com um sorriso bobo. Ela se sentia esquisita.
— Tem certeza? - Xavier pergunta novamente e como resposta recebe um resmungo da menina fazendo com que ele desse uma risada. - Bom, eu encontrei ele na rua. Não sei dar muitas informações ainda mas o levarei num veterinário.
— Ele é de que cor? Preto? Ruivo? - Wandinha pergunta enquanto rolava a cama completamente agitada.
— Hm... - Xavier sussurra e se afasta do celular. Uma movimentação na linha é perceptível e logo a respiração do garoto se faz presente novamente. - O peguei, analisando de perto ele é preto e tem os olhos da mesma cor. Me lembra você.

Wandinha sorri largamente ao escutar aquilo de Xavier e silencia a chamada por alguns segundos para que soltasse um leve grito desacreditada. Ao perceber o que havia feito, a própria arregala seus olhos e se senta na cama retornando com o celular em suas mãos.

— Wandinha? - Xavier a chama receoso.
— Estou aqui. - Imediatamente a menina responde ainda empolgada pelo o que havia escutado a minutos atrás. - Perdão, fui tirar as tranças. Você sabe, dor de cabeça.
— Que susto! Achei que tivesse desligado. - Ele suspira aliviado. - Está sem as tranças? Uma foto serviria de grande inspiração para um ótimo quadro novo. - Sugere.
— Não se empolgue. Sabe que eu não sei mexer, sequer tenho noção de como tira foto! - Wandinha confessa um pouco frustrada.
— Posso te ligar por chamada de vídeo? - Xavier pergunta esperançoso.
— Tem como? - Ela diz confusa afastando o celular e o encarando.
— Sim. Vamos conversar olhando na cara um do outro. Eu vou desligar e retornarei com a chamada em vídeo, ok? - O pintor diz e no mesmo segundo encerra a ligação sem esperar que Wandinha respondesse.

A menina rapidamente arregalou seus olhos e correu em frente ao espelho, começando a desmanchar suas tranças de maneira desesperada. Enquanto tentava melhorar sua aparência, se xingou repetidamente em sua cabeça e amaldiçoou sua própria vida por ter mentido. Detestava ficar com seus cabelos soltos e ainda mais na frente de Xavier. A menina arrumou sua franja e utilizou alguns dos instrumentos para a prática de tortura que Enid havia esquecido em seu quarto, no caso os tais instrumentos era apenas um rímel; delineado e um lápis preto de olho. Ao escutar o celular vibrando, Wandinha morde seu lábio inferior sentindo-se apreensiva. Estava bonita? Xavier gostaria do que iria ver? Um toque mais agudo fez com que ela despertasse de seus pensamentos posicionando o celular na sua cômoda e logo se sentado no banquinho que havia ali. Ao analisar a tela, clicou num botão verde deduzindo que seria o correto a se fazer; ao ter a visão do garoto com metade de seu cabelo preso enquanto vestia uma blusa suja de tinta e tinha um gatinho adorável em suas mãos, concluiu que sua dedução estava mais do que certa.

— É esse o gato? - Wandinha quebra o silêncio um pouco constrangida. Ela se intercalava com o olhar entre o celular e o espelho à sua frente enquanto mexia em seus cabelos na tentativa de ajeitá-lo.
— Ei, Wand! Sim, é ele mesmo. Parece ser um filhote. - Xavier sorri analisando a garota. Wandinha vestia uma blusa triangular que deixava sua clavícula exposta, os olhos verdes gravavam cada detalhe daquela imagem para colocá-la mais tarde em mais uma de suas telas.
— Certo, você já decidiu o nome? - Wandinha pergunta voltando a sua atenção para o celular. A menina encarou a tela esperando pela resposta mas não obteve nada já que Xavier estava igual um imbecil a encarando com um sorriso fraco nos lábios. - Thorpe? Me responda!
— Porra. - Ele sussurra baixo ao sair do transe.
— Por que não me respondeu? Me ligou pra ficar calado? - Wandinha pergunta com sua sobrancelha arqueada e os braços cruzados. Típico. 
— Eu me distrai. Você está diferente, não sei. - Ele coça a própria nuca desviando o olhar.
— Estou ridícula, Xavier? Exagerada? Não entendi, o que há de errado? - Wandinha dispara um tanto nervosa enquanto se encarava no espelho.
— Addams, você está linda de morrer! - Xavier sorri observando a figura gótica e sua feição nervosa que era um tanto quanto fofa. - Eu quis diferente de um jeito bom, não há nada de errado.
— Certo. - Ela se recompõe encarando o garoto de volta.
— Certo. - Ele repete a encarando sorrindo.
— Pare de me olhar assim! - Wandinha desvia o olhar sentindo seu rosto pinicar.
— Se sente envergonhada? Eu tenho a capacidade de te deixar nervosa, Addams? - Thorpe apoia seus braços em suas próprias coxas e encara a garota com um sorriso canalha.
— Você é ridículo. - Wandinha retruca olhando de canto para a tela do celular.
— Você é esquisita. Do jeito que eu gosto. - Xavier diz analisando as expressões da menina.
— Você... você gosta? - Ela diz de forma atrapalhada e com uma feição confusa.
— Impossível não gostar, Addams. - Ele sorri.
— É assim que conseguiu beijar minha irmã? Com essas palavras fofinhas? - Wandinha diz irônica deixando um pequeno sorriso aparecer em seu rosto.
— Talvez? Continuando assim eu vou conseguir beijar você? - Xavier de forma direta enquanto apoiava suas costas no assento que estava.
— Xavier? - Wandinha diz perplexa.
— Que nome você acha que eu devo colocar no gatinho, Addams? - Thorpe pergunta desviando do assunto propositalmente.
— Como você pode ser tão... - Xavier a interrompe.
— Me responde, amor. - Ele pega o gato que passava próximo ao seu lado.

Wandinha respirava ofegante enquanto tentava raciocinar o que estava acontecendo naquele momento. A cada palavra que saía da boca de Xavier, sentia uma sensação de queimação em sua barriga e suas mãos suavam frio. Ela se perguntava se estava delirando.

— Que tal... sexta-feira 13? - Ela sugere olhando para Xavier que já a encarava à minutos esperando pela sua resposta.
— Sexta-feira 13? Exótico. - Ele sorri levantando o gato com suas duas mãos. - Sua mãe te batizou com esse nome portanto se chamará assim.
— Espera, mãe? - Wandinha diz com seus olhos arregalados. - Thorpe, pode ir tirando essa ideia da sua cabeça!
— É só uma brincadeira, Wandinha. Por que fica tão nervosa? - Xavier pergunta colocando o peludinha em seu colo.
— Brincadeira sem graça. Não cuido nem de mim quem dirá de um gato. Você me deixa nervosa e irritada! - Ela bufa pegando o celular e logo indo até a cama.
— Você me deixa nervoso só que de um jeito muito bom, sabia? - Ele sorri.
— Não e nem quero. - Wandinha diz emburrada se deitando de lado e ajeitando o aparelho em suas mãos.
— Quero que venha aqui em casa. Amanhã. - Xavier fala enquanto se levantava indo até o sofá.
— Na sua casa? Sonha. O que eu farei aí? - Ela pergunta sem entender.
— Se eu falar você não vai querer vir, poxa. - Ele diz com uma falsa cara triste.
— Xavier? - Wandinha ergue sua sobrancelha.
— Você virá. Passarei na sua casa às 23h15, avise seus pais que dormirá na casa de Enid. - Xavier diz tudo tranquilamente.
— Você enlouqueceu? - Wandinha diz tensa. - Eu nunca faria isso e nunca irei à sua casa!
— Mais tarde você terá conhecimento qual foi o motivo pela qual eu enlouqueci. - Xavier diz jogando seu cabelo pra trás. - Amanhã, 23h15. Eu te buscarei!

Antes que pudesse responder, Pugsley invade o quarto fazendo com que Wandinha erguesse seu olhar para o encarar.

— Já se passaram mais de 2 horas! - Pugsley diz batendo o pé e cruzando seus braços.
— Certo, perdão. - Ela sussurra olhando para o irmão e logo voltando sua atenção para o celular. Wandinha suspira se levantando da cama. - Não me faça arrepender, Thorpe.

Essa é a última coisa que o garoto escuta já que a mesma encerra a ligação. Ao que Pugsley se retirou do quarto, Wandinha se joga na cama com um sorriso largo em seu rosto. Suas mãos em suas bochechas coradas na tentativa de disfarçar a vermelhidão por ter se lembrado de Xavier referindo-a como mãe pais do seu gato, acabavam por denunciar tamanha felicidade e sentimento ainda não descoberto pela menina.

Oi, saudades de atualizar!
C.

Wandinha x Xavier - Don't Blame MeWhere stories live. Discover now