Possível aliança?

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O navio de Roque Brasiliano, uma imensa embarcação com centenas de subordinados. Eu, um novato, jamais imaginaria que logo na primeira semana seria chamado para conversar com o capitão. Suas palavras mudaram minha vida.

Sua sala era repleta de mapas pendurados nas paredes, fios de varal espalhados com folhas aromáticas e uma mesa repleta de canetas e anotações. Ao fundo, uma imensa vidraça que lhe dava visão do mar. Frequentemente sua silhueta podia ser vista dos corredores ali, fumando e contemplando o horizonte.

- Soube que bateu numa dama da noite. - sem rodeios, disse ele, fumando um cachimbo e sem me olhar. Havia acabado de fechar a porta atrás de mim e contemplava o cenário da sala atípica.

- Sim, me desentendi com uma prostituta e a agredi. - respondi com certa vergonha pelo ato.

- Escute, você acha que somos diferentes delas?

- E muito.

- É mesmo? Vivemos caçando prazer e dinheiro, como todo mundo. Como elas também. Pense, num trabalho honesto também não se oferece seu tempo, esforço e atributos físicos e mentais em prol do lucro da empresa? Não é diferente, se olhar com atenção.

- É diferente. Elas se sujeitam a transar com qualquer um, é desonroso.

- A maior parte das pessoas detesta seu serviço, porém o fazem por precisar. Se você vê desonra como fazer algo que não goste, seriam então todos estes trabalhadores desonrados?

- É... diferente. Elas são interesseiras. - argumentei, nervoso com as acusações desmedidas.

- Oh, são? Não é uma troca de favores? Elas querem dinheiro, você quer prazer. Tudo é uma constante troca, é besteira usar conceitos como "interesseira". Você presume que devam sentir algo diferente por alimentar a ilusão que é especial, mas não é. Nem os especiais são.

- Isso nem faz sentido, capitão.

- Geralmente os fatos não fazem sentido para quem gosta de defender o próprio lado. - retrucou. - O que fez foi errado e uma desonra para nosso bando. Não somos animais.

- Somos piratas.

- Justamente por isso. Temos que ter o mínimo de decência e ombridade, senão perdemos a humanidade. Se estiver frustrado com a vida, evite descontar nos outros. Tente achar a chave do problema.

- A raiva nem sempre deixa.

- Concordo. - se levantando, apaga o cachimbo e vai até um pé de cidreira. - Esta planta morreu. Adoeceu até a última folha, e eu a plantei novamente mesmo assim. Uma última folha, regada com afinco, cuidado e café de adubo se reergueu e hoje é maior do que antes.

- Seus poderes controlam plantas, assim é fácil. - revirei os olhos. Ele riu.

- Nenhuma destas aqui está sob meu domínio, é questão de valores. Eu aprendo com as plantas, com sua pureza e sabedoria.

- E elas te ensinaram a não bater em prostitutas pois somos iguais? - debochei, cruzando os braços.

Ele caminhou até mim, me encarando por meio minuto em completo silêncio.

- O mundo é um lugar perigoso, é preciso ter raciocínio e poder para não morrer fácil. Se não consegue se livrar de conceitos supérfluos como a moral dos rótulos comuns, jamais chegará longe o bastante.

- E onde seria... longe o bastante?

- Ainda estou descobrindo. Por exemplo, em três horas estaremos na mesma ilha que Barba Negra. Ele saqueou alguns navios e ilhas da região e fez um cerco com sua frota numa ilha próxima. Sabe o que quer dizer? - balancei a cabeça - Que ele está vulnerável. Cercos são medidas para obter algo que precisa evitando batalhas, então ou estão cansados, ou doentes ou pior.

Dominantes - A Guerra de Port Royal livro 2 - CruzadaOnde histórias criam vida. Descubra agora