Meu irmão está morto. Eu... Não pude fazer nada. Ele... Ele... Eu... Eu vou trazê-lo de volta. Claro, eu consigo fazer isso, eu tenho quatro doutorados. Afinal, afinal, eu... Eu sou útil, não é? Sou inteligente, o imediato! É minha função dar apoio para ele...
Músculos podem ser costurados, muitos têm até espasmos após a morte. Ossos se curam, tendões também, e eu posso costurar as veias e artérias. Sim, sim, se pudemos colocar máquinas no céu e abaixo da água, se podemos fazer até isso é claro que eu consigo. Eu... Eu consigo.
Victor pensava em todos os procedimentos numerosas vezes, tendo recolhido o corpo e cabeça de seu irmão e levado ao navio. Limpou cuidadosamente o pescoço, para evitar infecções da lâmina. Pacientemente limpou o sangue que corria teimosamente para fora do corpo, pensando em como era bom ter o mesmo tipo sanguíneo em metade da tripulação.
Mal ligou para as lutas seguintes, com os arranjos tecnológicos do Grão Duque do Crime vencendo a habilidosa Mary Read, seguido pelo combate histórico e insanamente difícil que deu a John Avery uma vitória sobre o inacreditável Roque Brasiliano. Mesmo que o rádio estivesse ligado com a narração das lutas seguintes, estava mais preocupado com remendar seu irmão que com Júlio Verne desistindo contra Hornigold, tampouco como sua saída do torneio dava vitória para Sayyida AlHurra, ou quem sabe Portuga Bart triunfando sobre Thomas Tew.
Eu usarei o melhor da ciência para fazer isso, é óbvio que eu consigo. Era tudo que se passava em sua mente enquanto ao fundo o narrador anunciava o sucesso de Grace O'Malley contra Bartholomew Roberts e Nathaniel Gordon ao mesmo tempo. Verne entrou na sala, vendo o amigo em completo choque, visto que estava tentando curar um morto.
Mesmo a vibrante última luta da primeira rodada de Calico Jack vs François L'Ollonais, que desistiu após ver que ia vencer quebrou o silêncio sepulcral que chocava o escritor amigo de Hebad Victor. Mary Read, entrando no navio com Jijo, também manteve-se em silêncio.
Ele estava morto, não havia o que ser feito. Porém... como... como dizer isso a alguém que estava tão avidamente dedicado a tentar trazer de volta quem amava? Seus corações apertavam, seus punhos cerravam, aquela era uma cruzada, uma guerra santa pessoal para Victor. Ele era o representante da ciência que usaria tudo ao seu dispor para vencer a natureza, o fim inevitável de todas as coisas que ele visava contrariar. Sim, aquele era um mundo de milagres, de feitos impossíveis como virar fumaça, não havia motivos para... Não...
Não iria adiantar. No fundo de sua alma ele sentia isso. Tentava nomear esse sentimento de insegurança, um conformismo doentio por influencia da sociedade ignorante. Bem, a sociedade era mesmo conformista e ignorante, todavia aquilo era algo que nem sua ciência era capaz de fazer.
Mary Read chorou. Sem medo ou orgulho, como os homens do bando, expressava sua tristeza angustiante pela perda súbita e profunda de seu amigo Baduzones, o homem que quase morreu para salvar sua ilha... o seu capitão. Johnson não prestava atenção nas lutas, amargamente pensando que se conseguisse realizar seu sonho, seu capitão não estaria presente.
Sadie teria de enfrentar Sherlock, entretanto o detetive obviamente desistiu, optando em voltar ao navio com o máximo de bebida que pudesse comprar. Anne Bonnie surpreendeu a todos quando venceu Hornigold num ataque surpresa, e as lutas foram seguindo até a rodada final.
Uma luta quádrupla. Cheng I, Anne Bonnie, o Grão Duque do Crime e Sadie, a cabra. Havia uma chance real de ter um membro de Baduzones como rei, podendo dar uma vida mais tranquila aos demais. Sadie lutava por isso. Aquele homem que mal a conhecia a acolheu por ser amiga de um dos seus membros. Não a rejeitou mesmo que ela fosse trazer mais problemas com sua recompensa, tampouco a menosprezava por seu gênero. Baduzones havia tocado seu coração, e agora ele estava morto.
Fabiane... a tradutora pirata nunca saiu de sua cabeça. Thomson, Alejandro, Alce, Vlachos... todos os seus membros, desde as cabras da ilha deserta onde fora abandonada até o bando maior queimado vivo por Roger, todas as vidas confiadas a ela pesavam em seus ombros. Ela se sentia miserável, uma arauta do caos e emissária da morte, uma desgraça que respirava e espalhava o mal aonde ia. Tantas mortes ferviam em seu coração, e a frustração de não poder proteger cada um deles afiava mais e mais o fio de sua espada.
François notava isso. Tendo treinado brevemente a moça meses atrás por reconhecer seu talento no ataque ao leilão no meio do ano anterior, achou prudente direcionar sua possível sucessora com seus ensinamentos. E como eles falaram sobre falhas. O passado do francês como escravo, a perda de sua família e amigos era uma dor intensa que o direcionou para proteger certa ilha uma vez, e ter falhado naquilo o atormentava até hoje. Cada vez que olhava para seu marido e sabia que ele era ameaçado por uma maldita organização que controlava o mundo pelas sombras ele se odiava.
Como pode ser tão forte e ainda falhar no que mais precisa?
Semelhante pensamento assombrava o imediato de Baduzones. Se ele, com toda sua força monstruosa podia ser morto facilmente, como garantir a segurança dos demais membros caso ele ficasse como capitão?
A aura nunca fora algo inacessível, meramente difícil aos humanos sem o conhecimento de sua existência. A manipulação da energia de tudo ao redor, da força das estrelas até sua própria alma sendo projetada de forma física era impressionante, mágica, segundo alguns. Entretanto Victor a via como científica. Converter a energia em algo manipulável através de objetos, alimentos e sua vontade projetada.
Ao saber que Sadie e Jijo puderam quebrar o poder de Henry Every ao serem transformados em objetos, sua confiança sobre sua tese aumentara. Baduzones treinara meses e meses antes de chegar no nível que estava, e Förogo mostrara aos piratas o quão longe aquele poder poderia ir. Logo, se o rival de seu irmão podia se regenerar sem problemas, toda a tripulação poderia tentar reaver a vida de seu capitão.
E eles tentaram, como tentaram. No entanto, era inútil. A alma já havia deixado o corpo, nada podia ser feito. Bêbados naquela mesma noite, em luto vagando a esmo pelos mares, Mary comentou sobre a carta. Um lampejo de esperança brilhou nos olhos de Victor. Ele não ligava para as formalidades piratas que seria de bom tom todos participarem no dia seguinte, com a coroação oficial do Grão Duque do Crime por vencer o torneio, não, eles iriam até a sede da O.M.S.C.A.
- Iremos juntar todos os aliados que pudermos e destruir aquela merda de organização. E eu... vou fazer um pacto com o diabo. - A frase gelou o sangue de todos os presentes. - Ele certamente irá querer ser livre, então que ele traga Baduzones de volta para isso!!
- Mas... - Mary tentou falar, tendo a mão de Victor levantada ao vento num gesto circular a assustando.
- Enquanto eu for capitão, é isso que faremos. Vamos esmigalhar aqueles merdas e trazer de volta o capitão. - Entra na sala de comando, anotando os nomes das ilhas que Mary conseguiu falar antes que se esquecesse.
Ninguém no navio sabia o que dizer.
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Dominantes - A Guerra de Port Royal livro 2 - Cruzada
AdventureCom seu bando formado rumo ao leilão, a saga de Baduzones continua. Velhos conhecidos e novidades imagináveis tornam o leilão pirata único, e a caça ao tesouro levará o mundo inteiro para uma perigosa cruzada.