Capítulo 7- Carreiras

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E assim colocaram um pedaço de mim ali para sempre.

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Camila PVO.

Um mês havia se passado, e ainda lembro como foi voltar para nossa casa, eu, Lauren, Aurora e Artenisio, sabendo que Anthony jamais entraria por ela novamente, como doeu passar nos cantos da casa e imaginar sua presença ali, correndo, brincando, entrar em seu quarto e ver tudo como ele havia deixado, seus brinquedos, suas roupas, o seu cheiro.

Hoje eu retornaria como diretora do hospital, não aguentava mais ficar em casa olhando para os cantos presa na própria fossa. E mesmo que minha vontade seja zero, eu ainda tenho dois filhos pequenos para cuidar e estava bastante preocupada com eles.

Aurora por sua vez nos primeiros dias achou que era algo normal, mas começou a perguntar sobre a ausência do irmão, e fomos dizendo que ele estava no céu como estrelhinha e ela repetia a mesma pergunta o dia inteiro.

Artenisio se trancou no quarto, não saia para nada tínhamos que obriga-lo a comer, tomar banho, descer para a sala para ver um pouco de televisão, mas até nesses momentos dava para ver o quanto ele se encontrava perdido.

E Lauren? Mal nos falávamos. Ela passava o dia no escritório trancada, fazendo Deus sabe o que, os poucos momentos que saia era com o tio que estava hospedado em uma pousada perto e voltava com cheiro de bebida.

Chego faltando dez para as sete, já conferindo a escala, todos estavam a postos para me receber de volta no trabalho, diferente da primeira vez que estive aqui, parecia tudo em ordem.

Dinah nesse tempo tirou uma licença, simplesmente viajou com Normani para pegar um ar, todos estavam tentando aprender a viver a vida sem Anthony.

Minha mãe? Se afundou cada vez mais na bebida. Essa era uma preocupação que eu estava evitando ter nos últimos dias.

Sophia quem assumiu algumas responsabilidades com Ally e Taylor sobre o mandato de Lauren.

Taylor ficou na mesma pousada que Marcus para ajudar até com as crianças, mas Artenisio não saia do quarto para nada, se isso perdurasse eu iria leva-lo ao CAPS.

A verdade sobre o meu trabalho é que eu não me achava mais capaz de salvar ninguém, eu havia perdido o que tinha de mais precioso e agora não sei como olhar na cara das pessoas e dizer que tudo vai ficar bem.

Lauren indiciou o Sousa por má conduta médica, ele está fora do quadro de médicos e com um processo a responder, correndo o risco de não exercer mais a medicina.

- Bom dia Dra. Como você está? - Liz me pergunta entrando em minha sala.

- Sobrevivendo. – Me limito a dizer.

- Eu não posso imaginar pelo que está passando, mas me coloco à disposição. – Ela estava sendo muito gentil, a agradeço e ela se retira de minha sala.

Por um momento fecho meus olhos e vejo meu filho ali em meus braços, me olhando, pegando em meu rosto, uma lágrima solitária sai de meu rosto quando Luna entra, limpo-a rapidamente, mas sabendo que ela percebeu.

- Dra. Acho temos um novo caso de covid. - Paraliso.

Covid a essa altura do campeonato seria o fim para mim, eu não sustentaria o peso disso.

Coloco a máscara e me retiro da sala até o paciente, que já está em atendimento.

A orientação é o isolamento e mais testagem de pessoas da família que tiveram contato ou estavam com sintomas.

Ligo para casa, ninguém atende, ligo novamente, até Neuza atender com Aurora chorando ao fundo.

- Porque ela está chorando? – Já fico preocupada, já odiava ver meus filhos chorando, imagine agora.

- Porque ninguém quer brincar com ela. Dona Lauren está no escritório e Artenisio no quarto.

- Faz disso, leva ela ao parque, coloquem máscara, e avise para os demais que coloquem também se forem sair. Está começando novamente os casos de covid. – Oriento que leve Catarina para passear.

Lauren PVO.

Camila saiu para trabalhar hoje, de todos nós ela era sem dúvidas a mais forte, estava preocupada com Artenisio, mas não conseguia fazer nada.

Meu celular vibra era uma mensagem do tio Marcus.

Vamos sair hoje para beber?

Olho para aquela mensagem e penso, nada mais importava, respondo que sim, estava precisando.

Já era de noite quando Camila havia chegado, e eu estava me vestindo para sair, não tinha mais a luxuria de antigamente, para mim, nada mais fazia sentido.

Me encontro com meu tio na pousada em que ele estava hospedado.

-Entra aí. – Ele me dá espaço para entrar. – Tem cerveja no freezer, como você está?

- Sinceramente, eu sinto que minha vida perdeu o sentido, parece que eu não sinto nada, tudo o que eu pensei saber, ou sentir, hoje parece nada comparada a dor que eu sinto. Eu não consigo fazer nada, vejo meu filho mal, não consigo consola-lo, vejo Camila precisando de apoio, não consigo nem ser carinhosa com minha esposa. Parece que eu perdi tudo. – Desabafo já com lágrimas nos olhos.

- Minha sobrinha, tenho algo aqui comigo que as vezes ajuda, mas não sei se seria bom te dá. – Fico curiosa para saber o que é, e ajuda?

Ele retira do bolso duas balinhas brancas. Não precisava ser um gênio para saber o que era aquilo, o que veio automaticamente na minha cabeça foi repreender, aquilo era errado.

- O que é isso? – Digo assustada me levantando da cadeira que estava sentada.

- Você sabe o que é, quer experimentar? – Por um momento eu hesitei, mas me perguntei porque as pessoas usavam drogas? Era para esquecer alguma coisa, eu não tinha mais nada a perder.

Ele faz duas carreiras e me entrega uma nota de cem enrolada como um canudo, repito o que ele fez, e quando sinto aquela sensação, um alívio sem instala.

Até o Para Sempre- Especial: Nunca Vou Te DeixarOnde histórias criam vida. Descubra agora