Olho ao redor e todos estão aqui. Meus amigos da escola, antigos vizinhos, todos os garotos com quem já estive e eles me olham como se eu tivesse a praga, olhos atravessados e bocas tortas em escárnio. Enojados comigo. Mais a frente estão meus pais, eles não choram, não parecem tristes. Estão com ódio de mim. Eles me odeiam agora, eu não sou mais o anjinho deles. Gemma não se importa, ela não vê nada além do próprio umbigo e acena para algum oficial que está no canto do tribunal.
Da onde estou eu posso vê-lo, Zayn com seu rosto esculpido pelos deuses e os cabelos com seu brilho negro me cegando por um momento, até que eu reconheça Perrie Edwards ao seu lado com a grande pedra de diamante reluzindo em seus dedos esguios. Estão noivos. Eles vão se casar. Eles se amam.
Não muito longe deles está a rica Charlotte Tomlinson, roupas finas e um penteado bem elaborado, mas ela não sorri como da última vez que a vi. Ela chora. O rímel mancha suas bochechas e seus dedos sangram, seu peito está aberto e o coração pulsa por debaixo das costelas rompidas. Levo a mão à boca. É um sonho! É um sonho!
— Senhoras e senhores, estamos aqui hoje para determinar se Harry Edward Styles é culpado das acusações de homossexualidade, levar adiante uma gravidez masculina e assassinar friamente Louis William Tomlinson.
Assassinar Louis?
— Assassino! — Charlotte grita — Você matou meu irmão! O matou para ficar com sua fortuna.
— Eu não-eu não fiz isso!
— Tem certeza? — O juiz indaga e o corpo de Louis está sendo posto à mesa. Sua pele fria, dura e arroxeada, o mesmo frasquinho entre seus dedos, vazio. Ele está morto.
Eu o matei!
— E sobre o crime de homossexualismo e manter a gravidez mesmo estando sujeito a condenação por crimes sexuais?!
Abro a boca para negar, mas sinto meu corpo pesar. Porque eu tenho uma barriga de verdade, impossível de esconder.
— Acho que a resposta é bem clara, não? Senhores, deixo a vocês a decisão!
E uma chuva de "culpado" cai sobre mim, todos aqueles que me conhecem me condenam.
— Culpado! — O juiz decreta — Levem-no para a forca.
— Não. — Grito, mas há guardas por toda parte me segurando e me arrastando para a corda que surge no centro da sala — Mamãe! Papai! — Eles não se importam, ninguém se importa.
Eles me lançam contra a mesa e eu me agarro ao corpo sem vida de Louis.
— Por favor, você precisa me ajudar. Por favor, Louis, acorde! Acorde.
— Eu estou acordado, você é quem precisa acordar. — Salto dos travesseiros, jogando os cobertores no chão e passando as mãos pelo meu rosto e cabelos pegajosos. Minha respiração está frenética e meu coração luta para sair do peito.
Levo algum tempo até me ambientar novamente. Encontrar o conforto das paredes róseas do meu quarto, as portas do closet e as cortinas da sacada sendo balançadas pela brisa cálida do amanhecer. Tudo está bem, não estou em um tribunal, ainda me encontro a salvo em Londres.
— Harold, precisamos discutir sobre essas suas longas pausas dramáticas. Eu não posso te ver, não sei se está tendo um infarto ou só me ignorando, por favor colabore. — A voz de Tomlinson torna a romper o silêncio e o encontro ao meu lado, os joelhos pressionados a borda da cama, ele usa roupas de flanela que imagino ser seu pijama, em suas mãos carrega um copo de licor — acho que deveria acrescentar alcoólatra a longa lista de qualidades dele — , mas acabo por prestar mais atenção a faixa azul em seu cabelo, puxando os longos fios para trás, deixando todo o seu rosto exposto que é banhado pela luz amarelada que ressalta o bronzeado quase extinto de sua pele, tão repleta de traços perfeitos e harmoniosos como seu pequeno nariz atrevidamente empinando, o queixo projetado, as maçãs do rosto marcadas, os lábios finos e de aspecto tão suave, o maxilar másculo com aquela rústica barba que deveria deixar um impiedoso rastro avermelhado na pele delicada e por fim aqueles olhos, de um azul glacial capaz de fazer com que qualquer um se curvasse perante a sua vontade. Imagino como era olhar para eles e vê-los olhar de volta para você, Louis Tomlinson deve ter tido um olhar fatal há uma década atrás.
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PERFUME
FanfictionNa década de cinquenta, Harry Styles é um garoto com problemas recém-chegado à cidade de Londres. Sem um tostão no bolso ele aceita o emprego, mesmo sem ter experiência alguma, de cuidador de um ex-coronel. Louis Tomlinson não perdeu apenas a visão...