• | epilogue: time of your life

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1968, Londres, Inglaterra;

Ela esteve presente desde o início, ela viu tudo.

Mas houve o tempo em que não havia nada aqui. Era um terreno abandonado, um matagal consumido pela vastidão verde da natureza. Até um homem, de condições humildes levantar um pequeno casebre com tijolos vermelhos e armar uma cerca precária. Sua primeira forma, fora a de uma fazenda, o homem vivera ali na companhia de seus animais, sem mais entes queridos, apenas prosperando, plantando e exportando para toda Londres. Até o dia em que caiu em sua velhice e não acordou mais.

O terreno fora recolhido, devolvido ao governo e por muitas décadas dado ao abandono. Até a chegada de um americano, de sorriso fácil e maneiras impecáveis. Um nobre, porém yankee. O governador Reed trouxe toda a sua elegância e desenvoltura para a terra tradicional da rainha. Seu orgulho não o permitia simplesmente viver em casas prontas que já pertenceram a homens maiores do que ele, durante uma cavalgada numa noite aleatória, encontrou o lugar, não muito distante do Tâmisa.

Decidiu que ali ergueria o seu castelo e assim o fez.

Em 1912 a mansão Reed foi construída, seguindo os típicos padrões vitorianos, mas levando consigo a extravagância americana, com torres altas de tetos pontiagudos, paredes externas de pedregulho verde escuro, cortinas roxas, lustres obscenos de tão chamativos, portões de ouro e moitas aparadas em formas de animais. O homem se vangloriava de sua bela e admirável obra, dando festas para a sociedade britânica, colocando seu nome em alta e sendo apreciado por todos, mas seu único amigo. Amigo de verdade, fora um pequenino garoto hiperativo e grosseiro, que conseguia vez ou outra vir na companhia de sua mãe, aproveitando enquanto a mesma trabalhava para ir atrás do governador que se deleitava com a companhia do jovem Louis, até o dia em que teve de lhe dar adeus quando o garoto partiu para a França. Reed permaneceu na casa, ao lado de sua esposa, onde morreu suficientemente velho.

Quando explodira a segunda guerra, a mansão fora usada como base de comando, esconderijo e abrigo para aqueles que não tinham para onde ir.

Sem um senhorio ela foi sendo entregue ao abandono, todos os móveis finos foram envelhecendo, o assoalho coberto de poeira e os cupins tomando conta das paredes, a mansão fora perdendo as esperanças de um dia servir de lar a alguém, novamente. Foi quando suas portas longas e pesadas foram empurradas e uma moça a adentrou, com ela vieram as mudanças, as cores vibrantes deram lugar a algo mais sóbrio e discreto, novos móveis mais resistentes foram trazidos, cada centímetro rigorosamente limpo e no quarto principal, ao invés da caminha antiquada e velha do governador, colocaram um grande dossel com lençóis vermelhos para comportar o corpo frágil que fora colocado sobre eles. Ela o reconheceu como sendo aquele menino de tantos anos atrás.

Por tempos tudo ficou um tanto vago, como se faltasse algo, então foi a vez de cabelos cacheados e brilhantes olhos verdes chegarem. Com ele vieram mais mudanças do que aquela mansão jamais imaginara, tempos difíceis e lágrimas constantes sendo derramadas, mas por mais difícil que parecesse, eles conseguiram alcançar a sua felicidade. Então quando aquelas portas tornaram a se abrir um pequeno embrulho com um biquinho mimado e uma franjinha loira entrara nos braços do rapaz.

O primeiro bebê que havia estado naquela mansão. Que logo fora seguido por outro e então, sem que se dessem conta aquela casa que um dia fora um terreno baldio, abrigo para desesperados e entregue a Deus dará, acabou por se tornar um lar. O lar dos Tomlinson.

A casa sempre estava atenta ao que acontecia em seu interior, principalmente as travessuras que eram recorrentes da mesma pessoa. Era até mesmo nostálgico, a forma como os olhos azuis iam escurecendo até alcançar um tom âmbar, os cabelos caramelo esvoaçantes se alongando e clareando, tornando-se dourados como fios de ouro, mas era a exata carinha arteira enquanto ela deslizava pelas longas escadas, deitada de bruços em cima de um madeirite, que tinha o costume de quebrar e fazê-la rolar pelos degraus, chorando e reclamando quando precisava fazer os curativos.

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