19 • | once in a life time

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"Sabe, o Louis é como um super-herói, normalmente eles crescem e se tornam um, mas aquele menino não, ele já nasceu assim."

.....

1934, Doncaster, South Yorkshire;

- Abra os olhos, Louis Tomlinson.

- Só mais cinco minutinhos. - Resmungo contra o travesseiro, esperando que ela tenha piedade e me deixe ter o sono dos justos.

- Mais cinco minutos uma ova! Se deixar você dorme o dia todo e já fazem dias que não vai a escola, que futuro você espera ter sem estudo? - Minha mãe continua a falar na minha orelha.

- Como se eu fosse ter um futuro. - Puxo a coberta sobre a minha cabeça, colando os joelhos no peito e querendo ser menor pra poder me encolher em uma bolinha quentinha e sonolenta. Ah delicia. Quando eu finalmente tenho um cobertor só meu não posso tirar proveito, isso é tão injusto.

- Já chega, criança! - Então minha felicidade se esvai e eu tremelico inteiro, sem o aconchego do meu cobertor e ficando só de cueca com as janelas abertas em puro inverno. Ela não tem piedade - Vai levantar por bem ou por mal. - Fico emburrado, fechando os olhos e fingindo estar dormindo. Até que ela desce a mão na minha bunda, dando um tapa tão forte que me faz saltar - Anda seu bundudo preguiçoso.

- Não fale da minha bunda, sua barriguda. - Sento, apontando o dedo para ela ofendido e Johanna estreita os olhos, colocando as mãos nos quadris e empinando ainda mais aquela barriga de melancia na minha direção.

- Eu tenho a desculpa de estar grávida de gêmeos e quanto a você? Só tem nove anos e tem a maior bunda que eu já vi.

- Devo ter herdado isso de você! - Retruco mostrando a língua e ela suspira profundamente, antes de tirar as sandálias e sair atrás de mim que corro em disparada derrubando minhas irmãs no caminho pelo bem da minha sobrevivência.

Por eu ser o mais velho, e já um homem feito, minha mãe deixava que eu levasse as minhas irmãs mais novas para a escola. Charlotte, a minha sombra de cabelo amarelo e Felicite, a menina mais esperta de todo o mundo, andavam na minha frente com suas mochilas, que eram originalmente azuis como a minha, mas eu as ajudei a pintar de rosa pra ficar como das outras garotas que continuavam a olhar daquele jeito estranho para elas.

Eu sabia o porquê. Ouvia meus pais conversando no meio da noite. Falando sobre as dividas. Também podia ver o estado da nossa casa caindo aos pedaços e a escassez em nossos pratos. Nós estávamos na miséria, mas eles jamais nos diriam isso. Eu precisava fazer alguma coisa pra ajudar.

- Bom, chegamos. Se comportem e comam todo o lanche. Principalmente você, Fizzy. Eu venho buscar vocês mais tarde.

- Do que está falando, Lou? - Fizzy vira seus olhos arregalados para mim.

- Eu tenho assuntos a resolver. - Digo empurrando seus ombros em direção a entrada - Vai logo.

- Louis! Não pode continuar matando aula, vai repetir de novo se continuar assim. - Charlotte, como a intrometida de sempre, se intromete.

- Ficar na escola não vai impedir que as bebês passem fome. A farmácia vive vazia e a mamãe não aguenta mais trabalhar com aquela barriga. Eu tenho a obrigação de fazer alguma coisa.

- Mas...

- Shiii, Fizzy. O Lou está certo. Vá para aula. - Instrui a mais nova, virando-se para mim - Eu vou com você.

PERFUMEOnde histórias criam vida. Descubra agora