15 • | the smell of your perfume still stuck in the air

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Sorri involuntariamente ao sentir uma doce e fresca brisa acariciar minha pele. Por um momento era como se a paz reinasse em minha mente e coração, tamanha era a calma em que me encontrava. O que infelizmente foi arruinado por aquela luzinha amarela, que parecia estar querendo queimar minhas córneas. Em um momento tudo estava escuro e tranquilo e de repente lá estava ela, se infiltrando nas minhas pupilas e clareando tudo de uma forma irritante e desagradável. Eu quero manda-la para longe, mas meus músculos estão todos travados e eu me sinto como se estivesse amarrado.

- Harry... - Alguém me chama, com a voz mansa - Aqui, pode me ouvir? - Repetiu, e eu consegui piscar, sentindo a pessoa afastar os dedos dos meus olhos, assim como a luz - Ótimo, temos repostas das pupilas. Consegue apertar minha mão? Pode ser de leve.

A minha visão está completamente borrada e a sua voz parece acompanhada de ecos que me impedem de discernir a quem pertence. Então apenas tento fazer o que ele pede, acreditando que isso, de alguma forma, me ajudará a voltar ao normal. Tento fechar meus dedos nos seus, contudo apenas três deles se movem de forma desordenada e dolorosa. Os outros eu não consigo nem ao menos sentir.

Uma mão se esfrega ao longo do meu braço, num gesto reconfortante.

- Tudo bem, meu amigo. Que tal tentarmos com a outra, an? - Sugere e eu posso sentir sua pele tocando a minha mão esquerda. Me concentro o máximo que posso para mover o pulso e encaixar meus dedos nos seus, o que felizmente acontece e ele comemora: - Ótimo. Bom, muito bom mesmo. Os seus reflexos estão um pouco lentos, assim como os movimentos, mas já era de se esperar.

- Q-quem...? - Balbucio, piscando mais algumas vezes, conforme minha visão vai se clareando aos poucos, deixando que eu consiga reconhecer o vaso de flores sobre a penteadeira do meu quarto. Elas estão morrendo... Eu morri também?

De repente, a imagem dos lírios é coberta pela de um corpo largo vestido em branco, cabelos negros armados e um sorriso grande e acolhedor que eu conhecia desde bem pequeno. Ele passa a mão pela minha testa, afastando meus cabelos antes de deixar um beijo carinhoso, como sempre fazia.

- Grim-m... - Me esforço para falar, porém a minha língua dói e pesa. Meu maxilar parece travado, duro demais para se permitir mover.

- Harry. - Ele me chama, mas meus olhos já caíram para meus braços enfaixados, alguns dedos das minhas mãos firmementes apertados em gesso e meu calcanhar em cima de um amontoado de travesseiros, completamente engessado e imobilizado. Eu estava sem camisa e isso me permitia ver as muitas e muitas marcas que cobriam meu corpo. Tento me levantar inutilmente por não conseguir sentir quase nada do pescoço pra baixo.

- Harry, eu preciso que você fique calmo. - Nicholas pede, se sentando ao meu lado e aquela simples aproximação causa calafrios por toda a minha pele, o ar fica cada vez mais rarefeito, assim como a imagem do quarto vai se desintegrando pouco a pouco diante dos meus olhos. É uma sensação esmagadora, que pesa sob meu peito e a única certeza que eu tenho é de que estou prestes a morrer.

- Girafinha, ei, girafinha. - A voz sopra baixinho no meu ouvido. Me segurando antes que eu caia no abismo. Por ela eu consigo respirar fundo e me acalmar, mantendo os olhos fechados, sem querer ver o mal que aqueles imbecis me fizeram.

Eu não sei ao certo o que aconteceu, no entanto ainda haviam vagas lembranças da surra, do armário, Louis e a volta para a mansão e então, mais nada. Era um compilado de tragédia após tragédia.

- Eu disse que era melhor que o senhor esperasse do lado de fora. - Ouvi Nicholas dizer.

- Como se eu fosse do tipo que recebe ordens. - Louis rapidamente respondeu. Eu podia sentir seu corpo próximo ao meu, o cheiro de seu perfume com meu nariz rente ao seu peito, suas mãos acariciando meu rosto e dando leves batidinhas - Haz, tudo bem? Eu sei que pode me ouvir, precisamos que você acorde agora, okay? Vamos, você consegue, garotão!

PERFUMEOnde histórias criam vida. Descubra agora