14 • | everybody here is watching you

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- Papai! Papai! - A vozinha grita entusiasmada de longe.

Minhas pálpebras se abrem tão suavemente, que pareço estar piscando ao invés de acordando de um sono profundo. Eu me sinto leve e descansado como nunca antes. Meus cílios fazem cócegas em minha bochecha quente, tal como todo o meu corpo que é banhado pelos falhos raios de sol do amanhecer.

Me remexo, não sentindo o colchão macio abaixo de meu corpo ou os lençóis se enroscando em meus membros. Minha cama dera lugar a grama, fresca, verde e aparada que massageia minha pele. Ao abrir por completo meus olhos eu encaro o céu, límpido, azul e belo. As nuvens pequenas e brancas se movem vagarosamente acima de mim, em formas de figuras, se dispersando e as minhas preferidas, com aspecto de algodão doce que me fazem ter vontade de lhes dar uma mordida.

- Papai, olha como eu estou indo alto! - A voz entoa novamente. Rolo meu corpo ainda vestido no mesmo pijama da noite anterior para avistar, não muito longe dali, um gigantesco carvalho, com raízes profundas, sua madeira escura e firme e grandes e verdejantes folhas vivas que sombream grande parte do terreno a sua volta. Um de seus poderosos galhos tem um balanço preso com cordas grossas, e nele está uma menininha de cabelos cor de milho, quase tão claros quantos os meus foram em meus primeiros anos de vida, seus olhos embora escuros ostentam um brilho tão luminoso quanto a luz do sol. Eles se apertam conforme ela sorri largo com covinhas profundas em suas bochechas, pernas compridas e magricelas cortando o ar e um sentimento desconhecido entorpece meu coração, quando ela olha pra mim, ainda sorrindo brilhante.

- Está vendo, papai? - A menina pergunta, e se aquela mistura clara e gritante de mim e Zayn não fosse o bastante, ela se dirigindo diretamente a mim acabou com quaisquer dúvidas que eu possuísse.

- Melanie. - Digo num sopro. Apoiado em meus cotovelos, sentindo minha barriga livre e lisa. Sem um bebê, porque este já cresceu e se tornou aquele pequeno anjo que arregala os olhos pequenos e puxados e abre o sorriso banguela, de alguma forma sendo capaz de ouvir meu sussurro.

- Sim, papai?

Eu sou pai. Sou pai dela. Aquela é a minha filha.

Minha Melanie.

- Porque não vem brincar com a gente? - Ela pergunta e por um breve instante eu me pergunto de quem mais ela estaria falando. Então eu o vejo. Em seus trajes de montaria, jovial, com os cabelos ao vento, soprando contra seu rosto corado e cheio de alegria, inundando o campo com sua risada espirituosa que contagia a pequena que ostenta a mesma risada, idêntica.

Louis a empurra e Melanie vai cada vez mais alto, suas sapatilhas tocando algumas folhas e ela sorri como se estivesse tendo o melhor momento da vida dela. Eu tenho o meu na visão de Louis a balançando como se ela fosse a criatura mais precisa de todo o mundo e na realização de que eu a consegui, ela vive e ela é tão perfeita quanto qualquer criança.

Ele deixa um beijo no topo de seus cabelos e sussurra algo em seu ouvido que a faz gargalhar e então começa a se afastar dela e caminhar em minha direção. Louis é como uma miragem, com as mãos enterradas em seus bolsos, os passos lentos e decididos, sem mancar ou vacilar. A luz calorosa do sol beijando sua pele dourada e eu me sinto enlevado por tamanho charme. Ele passa por mim, mas não me toca, ao invés disso se deita ao meu lado e é quando percebo que estamos entre um campo de papoilas brancas que se erguem com graciosidade ao nosso redor. Louis está com o rosto voltado para o céu, piscando devagar como se seus olhos fossem sensíveis a luz, o que eles de fato não são, até que seu rosto se vira, observando a mim, como se pudesse...

- Você está ainda mais lindo esta manhã, meu amor. - Diz com sua voz melodiosa e macia.

Viro meu corpo ficando frente a frente com ele e me surpreendendo ao ter seus olhos, tão intensos e azuis quanto o céu de verão, eles iluminam minha alma ao passo que suas pupilas se dilatam, o preto tomando o anil e um pequeno sorriso contorna seus lábios finos.

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