17. Lexa

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Dormi na casa de Clarke todas as noites até o dia da primeira sessão de tatuagem dela. Para uma estudante de pós-graduação, ela era incrivelmente desorganizada. Aquilo me enlouquecia; então eu resolvi o problema estabelecendo um sistema de arquivamento para papéis soltos. Eu adorava fazer coisas assim.

Eu bloqueava qualquer outro problema que pudesse ter com a bagunça dela mantendo-a nua — a maior parte do tempo. Depois do trabalho, eu ia para lá com petiscos e cerveja, porque Clarke não tinha nenhum dos dois no apartamento. Quer dizer, além de cupcakes. Isso ela parecia ter um estoque infinito.

Ficávamos juntas, eu lhe contava sobre o meu dia e ela evitava qualquer discussão que envolvesse o conteúdo de sua tese. Não que isso importasse; eu já tinha fuçado o suficiente, de toda forma, quando arquivei os textos. Concluí que Clarke achava que eu ficaria entediada, o que não era verdade, mas não forcei a barra. Baseado no que eu tinha lido e nos incontáveis livros empilhados no chão, repletos de post-its, a maior parte da pesquisa tratava de comportamentos divergentes. Por curiosidade, folheei alguns desses livros enquanto ela estava no banheiro. Além dos post-its, havia passagens sublinhadas por toda parte. Pelo que entendi, sua visão sobre algumas práticas bastante radicais de modificação corporal era bem interessante, e todas as suas ideias eram fundamentadas em princípios filosóficos. Contudo, eu não daria minha opinião, mesmo que representasse bem uma das vertentes da subcultura. Eu tinha uma coleção extensa de livros sobre assuntos que iam desde a filosofia anarquista até a história da tatuagem na literatura clássica, mas minha educação se limitava ao ensino médio. Meus conhecimentos vinham da experiência prática e das coisas que eu lia.

Além de ajudar na tese de Clarke, a semana passou como um borrão de sexo: cozinha, sofá, quarto, o resultado final era sempre o mesmo: Clarke nua, eu dentro dela. Mas chegar lá era sempre uma aventura, em parte porque as escolhas de lingerie dela nunca deixavam de me impressionar e me excitar. Tinha de todos os estilos, cores, tecidos e estampas. No entanto, algumas se destacavam na coleção. No sábado, ela saiu do quarto de cetim vermelho com bolinhas pretas, com pequenos lacinhos pretos em cada lado do quadril. Os cabelos estavam presos em um rabo de cavalo, e ela parecia uma pin-up. Não conseguimos sair do sofá. Depois que ela pegou no sono, fiquei ali com AG e fiz um esboço de Clarke naquelas peças, imaginando que renderia uma tatuagem bem legal.

No domingo, mudei a rotina e levei Clarke para fazer compras à noite, já que ela não tinha comida em casa. Seus hábitos alimentares eram péssimos, a não ser que alface-americana contasse como uma escolha saudável. Eu disse a ela que aquilo tinha o mesmo valor nutricional do ar. Ela respondeu revirando os olhos e indo para o corredor dos cereais, onde pegou uma caixa de cereal. Ela me mostrou todas as vitaminas e minerais contidos em uma porção, e reclamei daquilo também. Porque comer um cereal que destrói os dentes estava além da minha compreensão. Eu a fiz prometer que não comeria aquilo até a quinta-feira, quando eu não poderia mais aproveitar a brecha porque a sessão a colocaria fora do meu alcance.

Na terça, Clarke teve um daqueles pesadelos sobre os quais tinha me alertado. Ela já não tinha o sono muito tranquilo, para começar. Na maioria das noites, eu acordava em algum momento com seus gemidos

leves. Eles incomodavam AG, e ela ficava andando sobre a cama me cutucando até que eu acalmasse Clarke. Em algumas noites, Clarke se mexia sem parar para depois se aninhar em mim como se não conseguisse ficar perto o suficiente. Mas naquela noite foi pior, muito pior. Foi o choro leve que me acordou, no começo. Eu me virei e coloquei o braço ao redor dela, porque isso costumava ajudar.

— Está tudo bem. Estou bem aqui — murmurei e beijei o cabelo dela, ainda no bálsamo quente do quase sono.

Mas aquilo não durou muito. Clarke começou a se debater, me empurrando, e o choro ficou mais alto, mais desesperado. Aquilo era novidade. Eu a soltei e vi que seus olhos estavam abertos, mas não parecia que ela estava me vendo de verdade. Presa no pesadelo, Clarke se afastou até bater na cabeceira da cama, que ela então começou a escalar, agarrando-a como se estivesse tentando fugir. A cabeceira era de ferro forjado, bem feminina, com aqueles arabescos e cantos pontiagudos. Ela estava nua e eu fiquei com medo de que ela fosse se machucar.

À Flor da Pele (G!p)Onde histórias criam vida. Descubra agora