29. Clarke

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Eu sentia os olhos de Lexa em mim no silêncio que se seguiu. Ela deu mais um passo na minha direção, erguendo a mão, e senti seus dedos pairarem sobre meu cabelo.

— Eu nunca quis magoar você. — A dor no meu peito ecoava as palavras dela.

Os sapatos mal fizeram barulho enquanto ela andava para a porta. Depois que ela se foi, libertei o soluço que estava me engasgando. Lágrimas escorreram pelo meu rosto, embaçando minha visão. AG pulou na bancada e, depois, no meu colo. Eu me enrosquei nela, abraçando-a enquanto era consumida pelo vazio que crescia no meu peito. O carma finalmente tinha ido me cobrar. Era certo. Justo. Eu não deveria ter a única pessoa que queria porque tinha sido a responsável por matar quem eu não queria o suficiente.

Nada do que aconteceu aquela noite deveria ter me surpreendido, mas eu fiquei atordoada mesmo assim. Lexa dizia que não havia tido um relacionamento com Costia. Talvez não no sentido clássico, mas, para mim, contava, mesmo que fosse algo disfuncional. Quatro anos eram um bom tempo para se passar com alguém.

Niylah e eu ficamos juntas por três. Mesmo assim, demos um tempo durante o último ano de faculdade, quando o estresse do relacionamento à distância interferiu em nossos objetivos. Foi difícil. Doloroso. Mas eu não podia contar isso a Lexa. Já havia tantas cartas na mesa que, se eu adicionasse mais alguma coisa, as pernas não iriam aguentar. Eu não tinha nenhuma condição de lidar com algo assim. Não naquele momento.

A porta do meu apartamento se abriu. Sequei os olhos com o dorso da mão, com medo de que Lexa tivesse voltado, mas era Raven.

— Você está bem? — perguntou ela.

— Não muito. — Solucei.

Ela fechou a porta e atravessou a sala, parando no caminho para pegar uma caixa de lenços. Eu peguei um e limpei os olhos, mas aquelas lágrimas idiotas continuavam saindo.

— O que aconteceu? O que ela disse?

— Nada que devesse ter me surpreendido. Eu pedi para ela ir embora.

— É. Eu percebi. O Jasper acabou de levá-la para casa. — Raven colocou meu cabelo para trás dos ombros. — O que quer que ela tenha dito, deve ter sido bem ruim, para você estar triste desse jeito.

— Ela teve um relacionamento com Costia. Ficou com ela por anos; não parecia haver muitos limites.

Raven suspirou.

— O Jasper deu a entender que isso foi há muito tempo. Pelo que sei, Lexa e Costia não têm mais nada uma com a outra.

— Ela foi ao Inked Armor um dia que eu estava lá e ficou se jogando em cima dela hoje. É óbvio que ainda tem alguma coisa ali — respondi, pegando outro lenço da caixa. Quanto mais eu pensava naquilo, pior me sentia. — Não quero dividi-la com ninguém.

— O quê? Por que você teria que fazer isso? Foi isso que a Lexa disse?

— Não, mas e se ela perder o interesse por mim? Ela pode negar, mas quem sabe o que pode acontecer daqui a algumas semanas ou meses? Não posso me permitir ficar ainda mais apegada a ela. Não posso me machucar assim de novo. Só de pensar... — Solucei em meio às palavras e ao medo.

Raven me puxou para um abraço.

Não trabalhei nos dois dias seguintes à festa de Harper, o que foi um alívio. Eu precisava de tempo e distância de todo mundo. Lexa ligou um monte de vezes, mas deixei todas as chamadas caírem na caixa postal, com medo de não conseguir me segurar se eu conversasse com ela. Já estava difícil o bastante. Ficar longe dela doía. Depois de 24 horas de silêncio da minha parte, ela me mandou uma mensagem pedindo para ir até minha casa para conversar. Disse a ela que ainda não estava pronta.

À Flor da Pele (G!p)Onde histórias criam vida. Descubra agora