14. Lexa

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Avancei alguns passos pelo corredor e dei meia-volta. Coloquei as mãos nos bolsos. Aquilo me impediu de bater na porta antes de avaliar o que eu queria e o que seria melhor. Embora Clarke concordasse com minha desculpa esfarrapada e fajuta sobre complicar as coisas, eu não acreditava que ela quisesse que eu fosse embora. Ela me livrou da responsabilidade de tomar a decisão certa quando a porta se abriu.

— Mudei de ideia. — Ela abriu caminho. — Quero que você fique.

Dei um passo em direção a ela e hesitei.

— Tem certeza?

— Tenho.

Aquela era a confirmação de que eu precisava. Eu já estava ferrada mesmo. Passar o resto da noite ali não mudaria o que tinha acontecido. Mas aproveitar a oportunidade me pareceu um bom plano, pois eu tinha deixado claro como as coisas teriam que ser diferentes no futuro. Entrei e fechei a porta.

— O que fez você mudar de ideia?

— Gosto da maneira como me sinto quando você está aqui. Não quero perder isso.

Havia uma vulnerabilidade na confissão de Clarke, como se fosse difícil admitir aquilo.

— Não espere dormir muito esta noite — avisei, imprensando-a contra a parede.

— Achei que você tivesse dito "só dessa vez". — As mãos dela escorregaram por debaixo da minha camiseta e pelas minhas costas.

— Quis dizer uma noite.

— Está mudando a regra?

— Não avisei sobre aquelas letrinhas miúdas no final do contrato? — perguntei, passando o joelho por entre as coxas dela.

— Letrinhas miúdas?

— Aham. — Meus lábios foram brincar com a orelha dela. — As regras estão sujeitas a mudanças.

— Mas que conveniente! — Clarke tirou minha camiseta e a jogou no chão.

— Com certeza.

***

Garras afiadas no meu peito entremeadas com um ronronar suave alarmaram o limite do sono, tirando-me de um pesadelo no qual eu não queria estar. Abri uma pálpebra. O gato deitado no meu peito deu uma cabeçada no meu queixo e miou.

— Travessa?

Eu estava tão confusa. Travessa tinha fugido havia sete anos. O pânico apertou meu peito; a possibilidade de o meu pesadelo ser uma premonição do que estava por vir dificultava minha respiração. Eu não conseguia fazer meu cérebro parar de pensar nas imagens de sangue espalhado pelo edredom azul-claro e na parede atrás dele. E havia alguém ao meu lado. Um corpo quente e macio que eu sentia a obrigação de proteger. O sonho começou a se dissipar à medida que eu ficava mais lúcida.

O quarto estava escuro, uma fatia da luz cinza da manhã atravessava o chão por uma fenda na cortina, parando a poucos centímetros da cama. Mas não era a minha cama. Eu sabia por causa dos lençóis e da firmeza do colchão. Fiz carinho na gata enquanto tentava pôr a cabeça no lugar. Era AG, não Travessa. Ela saltitou no meu travesseiro e pulou no chão, aterrissando com um ruído suave. A neblina em meu cérebro se dissipou. Eu estava na cama da Clarke. Ela era o corpo ao meu lado. Nós tínhamos transado duas vezes. Eu queria de novo. Imediatamente.

Meu braço estava preso debaixo dela. A julgar pela falta de sensibilidade da minha mão, eu não tinha me mexido desde que desabamos depois da segunda rodada. Se eu havia achado que a primeira tinha sido intensa, a segunda foi como uma explosão. Uma explosão bem longa e satisfatória. Se eu ia quebrar a regra, podia muito bem extingui-la. Além do sexo, passar a noite na casa de Clarke era uma novidade, uma que eu não me opunha a repetir. Talvez dormir na casa dos outros não fosse tão ruim assim, no fim das contas.

À Flor da Pele (G!p)Onde histórias criam vida. Descubra agora