Olhares Que Beijam - LIVRO I [VOLUME I]

Capítulo 59

Hope

Quando cheguei, a mesa estava sendo posta para o jantar. Todas as vezes que nos sentamos à mesa, tento não pensar em tudo isso, mas é inevitável. Quando estou com eles, fico pensando se eles também estão pensando nisso. Talvez não, mas é o único que passa pela minha cabeça. No colégio, Justin não tentou falar comigo, nem se aproximou. Queria manter a distancia, mas confesso que fiquei triste por em nenhum momento ele ter tentado. Talvez de algum jeito isso servisse para mostrar que em meio a este caos, terá sempre alguém disposto a lutar por mim, alguém que queira que eu continue lutando, me movendo, respirando, para e por ele. Quem sabe ele tivesse tentando entrar em contacto comigo e por eu não ter o respondido tenha concluído que estou o ignorando.

Faz quase meia hora que estou aqui, reunindo forças para os próximos momentos. Queria que hoje não fosse meu aniversario, é difícil lidar com tudo isso ainda mais hoje. Sinto falta do meu celular, mais precisamente das minhas musicas, estaria neste momento escutando minha playlist favorita para estes momentos se chama: EU E OS MEUS DEMÓNIOS. Pelo nome já devem imaginar, é uma lista com musicas tristonhas, em momentos como estes me tranco no quarto e as escuto, é como se elas estimulassem mais a minha dor e fizessem passar mais rápido, porque quanto mais dor eu sinto, mais choro e quanto mais choro mais alivio sinto. Sabe quando nos machucamos e precisamos fazer um curativo na ferida, mas sabemos que coisas como álcool provocariam muita dor em certo período de tempo, mas faria a ferida sarar rápido? Então, essas músicas são como o álcool para as minhas dores emocionais, elas me pressionam tanto, choro, grito de raiva, choro, soluço até minha cabeça querer explodir do tanto que doe, mas como nas nossas feridas, o álcool faz com que elas sarem. As musicas fazem com que meu coração se acalme.

Quando desço as escadas, minha mãe está parada com a porta um pouco aberta, enquanto fala com alguém que está do lado de fora, seus cabelos estão presos em um coque mal feito indicando que estava tomando banho.

"Já ia te chamar, seu pedido chegou". Ela diz olhando para mim e se afasta da porta. Que pedido? Fico confusa, mas não questiono, ela deixa a porta entre aberta e vou lá para meu suposto pedido, faz tempo que não compro coisas online, então não faço a menor ideia do que se trata.

Quando me aproximei, meu coração bateu muito forte e muito rápido, parecia que minha respiração estava saindo em rajadas curtas. O entregador está segurando uma caixa de pizza e um chocolate. Mas não é qualquer entregador, é o mais lindo de todos. Ele está com um boné e óculos escuros, está vestindo uma camisa de uniforme de uma pizzaria. Ainda que esteja disfarçado o reconheço sem esforço algum. Afasto-me um pouco mais para o lado de fora, nos olhamos e é a primeira vez que sorrio desde a última vez que ele me fez sorrir por falar bobagens. Bobagens que me animam, eu daria tudo para ouvi las. Ao mesmo tempo em que sorrio tenho vontade de me jogar em seus braços e chorar. De dor e alegria por ele estar aqui ainda que seja ariscado.

"Aqui está o seu pedido moça". Ele fala um pouco alto de mais fazendo questão de que seja escutado pelos meus pais para que não desconfiem do entregador. Então ele segura a caixa e o chocolate em uma só mão, uma de suas mãos escondia um papel por baixo da caixa de pizza, então leva o até ao bolso do meu vestido com muita rapidez, ele fica visível, preciso amassa ló um pouco para que não o notem.

"Obrigada". Falo quase no mesmo tom em que ele falou antes, tentando conter minha voz tremula, sabe quando você esta correndo perigo, mas o que causa o perigo é bom de mais que você escolhe permanecer nele? Bom, é exactamente o que estou sentindo agora. E ficamos mantendo contacto visual sem conseguirmos falar mais nada, não que não tenhamos nada para dizer um ao outro, na verdade temos e muito.

"Algum problema?" meu pai aparece atrás de mim, olha Justin por cima do meu ombro como se o reconhecesse, mas não tem como, pois nunca antes tinha o visto.