𝗣𝗥𝗢𝗟𝗢𝗚𝗨𝗘

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Amanda Craster odiava a chuva

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Amanda Craster odiava a chuva. Os arrepios causados pelas fortes ventanias e a sensação gélida de estrar em contanto com suas roupas encharcadas a incomodavam como uma inevitável doença. Por um pensamento estúpido, esquecera qualquer tipo de proteção antes de sair, apesar de quase não ser útil em seu trabalho, e agora teria de enfrentar o desagradável clima e os perigos das ruas noturnas de Bay City.

Vagava por entre vielas, tomada pela necessidade financeira que piorava a cada semana. Ela precisava de qualquer quantia e furtar desavisados que frequentavam os mais pútridos estabelecimentos não parecia um grande desafio. Reconhecia bem quem poderia ter pelo menos um teto decente para viver e aqueles tão afundados em dívidas que seus nomes só seriam lembrados em telões de recompensa. Uma invejável habilidade que veio com a consciência sobre o poder, a chave para o controle de segredos e atitudes, mas não de pensamentos.

O poder que em seus devaneios mais cruéis a oferecia o acolhimento que tanto almejava, por enquanto, se contentava em prejudicar os fracos peões de um espetáculo milenar. Seus olhos se estreitaram em direção a uma confusão chamativa de uniformes e gritos incompreensíveis, embriagados o suficiente para não notarem a sombra feminina acompanhando‐os.

Ela dirigiu-se até eles, despertando durante o caminho uma consciência minúscula para suas artimanhas. Os cumprimentou com um sorriso ladino, se aproximando conforme a notavam
"Que noite azul, não acham?" eles a observavam confusos com a pergunta.

Suas mãos descansavam nos bolsos de seu casaco quando uma neblina azulada começou a surgir da peça, movendo-se para o rosto de suas vítimas, e atordoando-os com uma crise de tosses e gargalhadas incontroláveis. A Craster observava pacientemente até que suas consciências fossem levadas, observando os arredores a jovem vasculhou primeiro seus bolsos e então levou os dedos até seus cartuchos corticais, apesar de inabilitados para a transferência de dinheiro, havia uma falha minúscula de reconhecimento entre dispositivos que eliminava qualquer alarme ou autorização requeridas.

Apesar da ajuda de um equipamento caseiro, as transferências eram sempre demoradas e exigiam um pedaço da mesma capa. Amanda só poderia fazer a operação em um deles e contava com a sorte para ter o tempo necessário. A neblina a deixava alheia aos arredores e a jovem mal tinha noção da movimentação próxima a ela.

O frio consumia sua atenção e o transformava num latente formigamento, olhos cansados se mantiam vidrados na tela tempo o suficiente para as luzes azuis e vermelhas passassem despercebidas, tempo suficiente para a delinquente ser abordada.

Uma mão agarrou seus cabelos, forte o suficiente para não fraquejar enquanto ela se debatia como um animal louco, arrastando‐a até colidir com uma estrutura de metal. Não reconhecia a figura, o cheiro nauseante de colônia e a recente pancada confundia seus sentidos.

"Onde está meu dinheiro, sua puta?" Ele gritou em sua cara. Craster quase riu quando o reconheceu. Desde sua mudança, o mercenário se empenhava a cobrar um serviço já pago, argumentando que ainda haviam juros. Deveria ter sido mais esperta, se repreendia.

"Eu já te paguei, Zett. Não tinham juros no seu acordo!" A ladra retrucou, com as novas notícias de habitações melhores precisava poupar os poucos créditos restantes. Era a chance de mudar coisas, ter um futuro, ser melhor.

Zett achava graça na situação, estampava um sorriso largo que mostrava caninos dourados. Se apoiava em uma das pernas, como de costume, sempre que tratava de negócios tentando se mostrar intimidador. Mas a arrogância se esvaiu quando notou as luzes refletidas no rosto de Claire.

A visão o deixou atônito, seus olhos se arregalavam enquanto seguia um veículo rugindo seus motores com os olhos. Apesar do sucesso em comércios ilícitos e a reputação que o precede sua prosperidade estaria em jogo se fosse apanhado pelo popular agente da região.

Se aproveitando da distração, a loira empurrou o mercenário distraído e correu para onde pensava estar segura. Desnorteada pela pancada, os ruídos ressoavam abafados e distantes, ela contava com a sorte para estar no caminho de casa, mas já fazia um tempo que essa sorte não funcionava.

Encontrava uma confusa direção tateando as paredes e reconhecendo ruas e lojas que indicavam a proximidade de seu lar. Uma velha loja de porcelana cumprimentava Claire com seus artigos antiquados e uma caixinha de música que tocava e girava cavalos brancos incansavelmente. Descansou sua cabeça na vitrine, a torturante frustação ocupava seus pensamentos e impedia qualquer outra reação, estava perdida, atormentada, seu reflexo lhe mostrava a verdade, olhos cansados, costas curvadas de exaustão e estatura, roupas encharcadas, dois anos haviam sido cruéis com ela.

O contraste entre seu breve conforto juvenil vinha a memória em momentos assim, a melancolia a transportava pelas belezas enganadoras da nostalgia, e então ela desejava, com todas as forças que fosse outra pessoa.

O fim da melodia britânica acordou a loira, a madrugada desaparecia com os primeiros tons de manhã, ela havia dormido apoiada em uma parede. Levou as mãos ao rosto afastando o sono e observando os arredores se pôs de pé pronta para entrar em seu apartamento na rua oposta. Construções desordenadas pareciam o padrão residencial e apresentavam um conforto inexistente para qualquer um. Alguns desabrigados conquistavam espaço no exterior desses lugares, mas hoje os inquilinos das vielas pareciam dispersados.

Com exceção de uma estranha figura encolhida em sua porta.

Amanda franziu a testa e se aproximou, determinada a afastar a pessoa de sua casa.
Teria destilado sua raiva no individuo se um par de olhos arregalados não a impedissem.

Era uma criança bem cuidada o suficiente para não pertencer as ruas.

Talvez estivesse perdida após uma brincadeira, talvez havia se aventurado longe demais dos pais. Seja o que for, poderiam haver pessoas a procura da criança, desesperadas o suficiente para propor uma recompensa, esperava a loira. Esse pensamento questionável se apossava de sua mente.

Talvez um milagre tenha acontecido durante o amanhecer, a sorte parecia sorrir com ela esta manhã.

𝗡𝗜𝗚𝗛𝗧 𝗖𝗜𝗧𝗬 | takeshi kovacsOnde histórias criam vida. Descubra agora