𝗨𝗺 𝗱𝗶𝗮, 𝘂𝗺 𝗮𝗱𝗲𝘂𝘀

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— Um dia quero ver o mar.

— Aé? — Um sorriso zombeteiro cruzou seus lábios enquanto se equilibrava no recente tronco caído. Não se permita sonhar tão alto, conhecia as limitações, mas era agradável escutar desejos tão simples e ingênuos da garota à frente. Conhecia de onde ela vinha, as regras e limites impostos até o último fio de cabelo estar submerso faziam com que apenas respirar fora dos muros altos se tornasse o maior ato de rebeldia.

— É sério! Por que você não vem comigo?

— E-eu? — O rubor claro tomou conta de suas bochechas, pigarreava para mascarar o gaguejar da voz. A menina ria dos esforços inúteis para manter a postura, aproveitando a fraca brisa da manhã, sorrindo abobalhada para o sol.

— Vamos só nós dois, correr pela areia, fazer amizade com as tartarugas e até fazer um colar com con—

— Acha que a gente vai chegar lá, um dia? — Seu rosto demonstrava a seriedade que crianças não deveriam ter e, silenciosamente, a amargura penetrante de sua vida.

Ela concordou e sutilmente entrelaçou seus dedos, querendo transpassar o conforto inusual para o pequeno. — Nada vai nos separar até isso acontecer. — Sentira lágrimas brotarem lentamente quando braços a circularam e o choro amedrontado ecoou impotente na floresta. Perdidas pelo mar, as duas crianças se encontram uma na outra e se fizeram um breve farol para procurar o caminho de casa.

Cada peça movida aos olhos dos aprendizes era motivo de prender o fôlego enquanto mal conseguiam registrar a algazarra das outras crianças

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Cada peça movida aos olhos dos aprendizes era motivo de prender o fôlego enquanto mal conseguiam registrar a algazarra das outras crianças. Um pequeno balde servia de apoio para acompanhar as duas peças restantes no tabuleiro, a excitação escapava dos olhos decididos a aprenderem a jogada, mas alguém lhe encontrara e estava decidido a ralhar como as mães fazem aos seus filhos mal-educados.

— Você é maluca! Eu não consigo te defender o tempo todo, se eles te pegassem a gente ia pro buraco, pra toca do tatu, pra-

— Eu sei, eu sei, mas tinha algo em jogo lá, eu contava com algo que iria acontecer.

— Ah, claro, percebi, a única coisa que você esperava era ser pega.

O tom sarcástico a irritava, estaria aos prantos revirando seus raivosos cabelos se não estivesse tão abalado com sua decisão. — Eu vou fugir hoje a noite e quero levar Keshi comigo.

As mãos calejadas do menino apertaram seus ombros, se assustava com a maneira que sua face deformava como nunca vira antes e tomava o tom aflito que ele escondia dos menores. — Pelo amor dos Santos, pirralha, você não pensa quando ajuda os outros...

— E eu iria ignorar? Eu quero ajudar, por favor.

Exasperado, suas narinas se expandiam semelhantes as de um touro, repudiava os planos fantasiosos de fuga, mas ainda mais o pequeno estranho que a acompanhava. As lamurias obstinadas da pequena de cabelos repicados ultimamente o deixavam farto, jogaria as peças a Deus-dará se seu apego não houvesse criado raizes centenárias.

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⏰ Última atualização: Jul 12 ⏰

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