31. Choque

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Choque

Essa foi a palavra que me resumiu naquele momento. Eu nunca imaginei perder o meu pai, era a última pessoa no mundo que eu imaginei que isso acontecesse. Não tive reação, não consegui chorar naquele momento mas sabia que depois eu estaria totalmente destruída por saber que nunca mais veria o homem que daria até a vida por mim.

Florence começou a chorar desesperadamente, ela fez o maior escândalo no hospital. Kimberly a abraçava e também parecia inconsolável, Deus que me perdoe mas não conseguia ver verdade no sofrimento da Florence, para mim tudo aquilo não passava de encenação. Pode até parecer cruel, mas sei muito bem como ela pode ser tão boa atriz quando quer.

ㅡ Nós vamos encaminhá-lo para a casa de vocês assim que o corpo estiver pronto.

ㅡ Não. ㅡ Florence automaticamente se levantou da poltrona que estava sentada. ㅡ Encaminhe-o direto para o cemitério, queremos evitar mais sofrimentos.

ㅡ O que? não! Eu não admito uma coisa dessas. ㅡ Óbvio que eu não aceitaria, meu pai tem tantos conhecidos que com certeza iriam querer se despedir dele. Eu queria me despedir dele.

ㅡ Você conhece tão pouco seu pai que não sabe dos mínimos detalhes das suas últimas vontades. Cale-se e apenas obedeça as minhas ordens.

Não tive forças de responder ela, não tive ânimo algum, era como se o meu mundo tivesse acabado a minutos. Florence conseguiu acabar comigo com apenas simples palavras, como não conseguia a muito tempo. Talvez ela tivesse mesmo razão e eu não conhecesse tão bem meu pai como imaginei.

ㅡ Eu te levo até sua casa, você precisa tomar um banho para ir ao cemitério, eu te acompanho. ㅡ Matteo estendeu a mão para mim.

ㅡ Eu concordo com ele, Âmbar. Vou junto com vocês para cuidar de você. Sei o quanto está sofrendo e sei que não é bom que você fique sozinha. Não ligue para o que a Florence fala, você amava o Jacob e ele te amava mais que tudo nessa vida. ㅡ Victória me abraçou de lado acariciando meu braço.

ㅡ Vamos? ㅡ Matteo ainda estava com a mão estendida, peguei ela e levantei para irmos para casa, não sei de onde tiraria forças para enfrentar o que estava por vir.

[...]

Nós já estávamos no cemitério a ponto de enterrá-lo, essa seria a última vez que eu o veria, que eu estaria perto dele. Eu não teria mais o meu melhor amigo para desabafar, assistir filmes de comédia que eram chatos mas ele amava, não terei mais quem cuide de mim do jeito que ele cuidava. Aquela era a pior das dores, o que eu não desejo para ninguém. Pelo menos dessa vez a liberação médica foi mais rápida do que a do meu avô que tivemos que esperar horas, tive que entrar pelos fundos do cemitério por que vários jornalistas estavam na entrada principal esperando com que eu desse uma entrevista explicando o que aconteceu, mas não tive condições de dar entrevistas no momento. É até estranho que Florence não tenha passado na frente e falado com eles.

Kimberly não fala comigo desde o hospital, não sei o que deu nela mas ela ao menos olha em meus olhos e eu precisava tanto dela... Os únicos que estão comigo agora são Matteo e Victória, eles não saíram do meu lado em nenhum momento.

ㅡ Meus pêsames. ㅡ Várias pessoas vieram até nós dar suas condolências, eu estava de óculos escuros. Não queria que vissem o quanto estava abalada, nem que tinha passado o dia chorando, tentei parecer o mais forte possível, e é assim que tem que ser daqui para frente. Não posso demonstrar fraqueza alguma, não quero a pena das pessoas.

Depois de algum tempo consegui fugir de todas aquelas pessoas. Florence e Kimberly sumiram junto com William. Agora estávamos no carro, óbvio, eu, Matteo e Victória. Como disse, eles não me abandonaram em nenhum instante. Olhei pela janela do carro e as ruas ainda estavam enfeitadas para o Natal que será semana que vem, tinha tudo para ser o Natal perfeito, mas... vai ser um dos piores.

ㅡ Se quiser desmarco as reuniões que você tem amanhã e... ㅡInterrompi Victória.

ㅡ A empresa funcionará normalmente amanhã, nosso trabalho não pode parar. Eu não vou parar, confirme todas as reuniões pois estarei presente em todas elas. ㅡ Respondi com a voz firme olhando nos olhos de Victória, percebi que ela e Matteo se entre olharam meio surpresos. ㅡ Até amanhã. ㅡ Nós já tínhamos chegado no portão de casa, estávamos no carro do Matteo e não quis me despedir dele, ele me dava espaço para desabafar e sempre que olhava em seus olhos tinha vontade de chorar, e não queria que ele me visse como uma pessoa vulnerável.

Na frente de casa tinham alguns carros diferentes, estranhei aquela movimentação já que Florence e Kimberly estavam passando muito mal no cemitério. Abri a porta e me deparei com a sala cheia dos advogados do meu pai.

ㅡ Que bom que chegou, estávamos te esperando para ler o testamento.
ㅡ Florence estava no centro deles com um meio sorriso no rosto, diferente da expressão que tinha de horas atrás.

CONTINUA...

A Executiva de Nova Iorque Onde histórias criam vida. Descubra agora