CAPÍTULO UM

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Mesa três. 
Mesa três. 
Mesa três. 

Repito essas palavrinhas enquanto corro desajeitada pelas calçadas das ruas da cidade. Eu sabia que não deveria ter aceitado colocar essa maldita bota com salto alto! 

Estou correndo porque estou atrasada para um encontro. Sim, isso mesmo, um encontro. Eu, Eda Yıldız, 29 anos e mãe de uma criança de 11 anos, estou indo agora para um encontro às cegas planejado pela minha melhor amiga, Melo, que acha que estou com bloqueio na escrita porque nunca mais me permiti sair com alguém e estou, nas palavras dela, "fora de forma" para escrever um romance.

Sou escritora desde... Uh, bem, desde sempre. Minha comunicação sempre foi melhor ajustada através da escrita, mesmo que eu na maioria das vezes, quando mais jovem, guardasse o que escrevia somente para mim. 

Mesa três.
Mesa três.
Mesa três, não esquecer que é na maldita mesa três que ele está. 

Então foi apenas natural levar a literatura e a escrita como profissão. Não vou dizer que é algo fácil porque, convenhamos, imagine colocar um dos seus maiores prazeres da vida como forma de ganhar dinheiro, mas precisar cumprir prazos e metas? É terrível! Você ama o que faz, mas tem sobre a sua cabeça uma corda empresarial te dizendo o que e quando você deve escrever. 

E sinceramente? Eu estou exausta!
Exausta de prazos ridículos que não contribuem para minha liberdade e prazer como autora, exausta de não conseguir ter o mínimo de inspiração, exausta da pressão que inevitavelmente eu coloco sobre mim. Ter quase 30 anos é estar em uma fase da vida onde uma linha invisível é traçada, quando no mesmo tempo que pareço ser nova demais para me preocupar com o futuro, também pareço ser velha demais para estar em uma situação como essa, por exemplo, em um encontro arranjado com alguém que eu não faço ideia de quem seja.

Mas eu sequer estaria aqui se esse não fosse meu último ato de desespero na tentativa de sair da minha bolha e, talvez, ter alguma experiência que me despertasse a criatividade de escrever de novo. Preciso escrever um novo romance, minha assessora, a Ceren, está no meu pé há dias cobrando um novo roteiro para um novo livro. 

Eu escrevo romances, sou apaixonada pela ideia do amor e de como ele é representado nas folhas de um livro, mas sou um desastre total quando tento trazer paixões para a minha própria vida. Começando pela lista limitada de parceiros que tive ao longo da minha juventude, que é resumida unicamente no nome de uma pessoa que fodeu, quase literalmente, as listas de prioridade que eu tinha. 

Mesa seis.
Mesa seis.
Mesa seis.
Não esquecer a maldita mesa seis... 

Imagine o que é estar prestes a completar 18 anos e de presente descobrir que está grávida de um cara que, nas palavras dele, ainda não está pronto pra ser pai e que eu escolhesse como lidaria com "a situação". Sério, ele sequer conseguia falar a palavra bebê sem parecer um babaca total. Como se eu, quando recentemente havia descoberto o que era sexo, já estivesse pronta para ser mãe...

É irônico pensar em sexo porque, como já disse, minha experiência foi limitada a ele, o doador de esperma que eu prefiro não mencionar o nome. Mas ao mesmo tempo parte da minha vida é dedicada a escrever romances cheios de tensão sexual e, em segredo, publico com um nome fictício livros com conteúdo sexual explicito para jovens adultos.

É excitante a dupla personalidade.
Mas é deprimente que minha atual experiência sexual seja resumida a uma coleção de vibradores que eu guardo em uma caixa no fundo da gaveta trancada por cadeado na minha mesa de cabeceira. 

Mas crianças são seres espertos demais para que eu possa deixar meus brinquedos sem nenhuma segurança básica. Crianças de 11 anos como Kiraz, por exemplo, são um perigo para a sociedade de jovens senhonhas encalhadas como eu.

TABLE SIXOnde histórias criam vida. Descubra agora