CAPÍTULO DEZESSETE

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Pilhas de caixas estão espalhadas por todo o apartamento. Kiraz pegou as que tinham suas coisas e disse que tentaria organizar o próprio quarto sozinha, enquanto Melo disse que arrumaria os utensílios da cozinha... Como Serkan já me vendeu o apartamento com boa parte dos móveis inclusos, o que mais precisamos organizar são as roupas e a decoração. 

Serkan fica do meu lado me ajudando a todo momento, sem tocar no assunto anterior e respeitando o meu tempo. Eu sei que Melo desconfia que aconteceu alguma coisa porque desde o momento que cheguei, ela me olha como quem quer abordar o assunto, mas não quer fazer isso na frente dele ou de Kiraz. 

Quando cruzo com ela na cozinha do apartamento enquanto Serkan está colocando a cortina da sala, ela me chama. 

— Você vai precisar me contar o que aconteceu.

— Está tão na cara assim? 

— Para quem chegou aqui com Serkan do lado, seu rosto não está muito tranquilo. 

— Foi Hasan — eu explico baixinho. Não quero que Kiraz ouça nada, mesmo que ela sequer saiba o nome dele. 

— Ele apareceu de novo? — minha expressão foi resposta o suficiente para ela. — O que ele disse? 

— Ele me pressionou a contar para Kiraz, me deu alguns dias e disse que se eu não fizesse isso por bem, ele iria na justiça. 

Melo começa a ficar vermelha e eu sei que ela está com vontade de gritar xingamentos por toda parte, mas respira fundo e continua. 

— Juiz nenhum tiraria Kiraz de você, eu vou colocar todo escritório nas costas dele, ele vai se arrepender de ter aparecido. 

Ela parece convicta no que diz, mas meu medo não é esse... No fundo eu sei que Kiraz nunca seria tirada de mim. 

— Acho que o que mais tem me perturbado é pensar que eu estou tirando dela a chance de ter um pai. 

Melo parece incrédula ao me ouvir. 

— Eda, você está ouvindo o que você está dizendo? Será que eu preciso relembrar o que esse homem te fez?

— Eu sei, eu só... — não sei o que dizer. — Talvez fique tudo bem apresentar os dois, acho que preciso contar para ela...

Melo não concorda.
Eu também não concordo comigo, mas uma pequena parte de mim deseja que minha filha tenha direito a todas as experiências completas. Que ela tenha alguém para quem se apresentar nos novos projetos de dia dos pais da escola...

— Eu estou furiosa — Kiraz entra na cozinha de repente, fazendo eu e Melo nos calarmos. — Não, isso é pouco, eu estou... estou... não tenho palavras para dizer como estou agora. 

— O que foi? — Melo pergunta.

Kiraz mexe no celular irritada.

— Você não deveria ter tempo para estar furiosa — eu pego o celular da mão dela. — Você não ia arrumar seu quarto? Não era pra ficar jogando conversa fora online.

— Mãe, não! — ela tenta pegar o celular de volta. 

— O que foi que te irritou tanto? 

Mas quando começo a ler as mensagens na tela, nem de longe era algo que eu esperaria encontrar. 

Já estive tempo o suficiente na página de comentários dos meus livros para entender que, apesar das avaliações serem algo comum e normal, há muita gente maldosa na internet onde o único intuito é disseminar ódio gratuito. Como escritora eu aprecio uma boa crítica, eu gosto quando as pessoas compartilham comigo algo que elas sentiram mais afinidade com os meus personagens ou algo que desagradou, mas quando alguns comentários passaram a ser um ataque ofensivo a mim, a minha formação, eu deixei de ler o que escrevem. 

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⏰ Última atualização: Feb 13, 2023 ⏰

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