Capítulo X

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Arthur Stormwind


Se passavam dias, dias de conversas, dias de meticulosidades e longas noites de indecisão. Enquanto Pandora era objetiva, séria e aparentava ser boa estrategista, sua irmã, Katherine era doce, paciente e compreensiva, uma escolha fácil a qualquer outro monarca, mas é claro, meu pai havia deixado aquilo em minhas mãos desta vez.

          ── Como pode ser tão difícil escolher? Outros príncipes saberiam escolher com sabedoria - Ele reclamava à minha frente enquanto seus pés atingiam o chão repetidamente, sem paciência.  ── O que há de errado com você?

Os dias estavam se passando cada vez mais rápido e a cada um deles que se passava meu pai ficava mais insistente, eu precisava fazer uma escolha, e segundo ele, precisava ser a correta.

          ── Apenas preciso de mais tempo, vou decidir rápido. - Respondi rapidamente. Aquele assunto repetitivo e constante era preocupante e compreensível, se tratava da futura rainha de Echiron. Ainda que diante o dever, minha mente parecia divagar entre coisas mais distantes, mais adiante os muros do castelo em Stromberg, mais próximo da área comercial. Ela. Era ela quem não me saía da mente, desde aquele dia, o dia em que fui quase arrastado pelo soldado até a cidade.

          ── Se vai decidir rápido, creio não precisar tanto deste tempo à mais. - Meu pai enfim finalizou antes que pudesse sinalizar para que eu saísse, o grande salão com mármore liso e grandes tapeçarias vermelho sangue, cujas me guiaram até a saída, juntamente aos guardas que juntos à entrada abriam um pouco o espaço para que eu pudesse passar.

O caminho até o jardim teria sido pacífico se não fosse pelo guarda que logo à minha reta guarda surgiu como um vulto.

          ── Parece nervoso. - O tom de voz denunciava, era claro que se tratando de alguém como Johnny, eu poderia vir a esperar coisas como estas. A medida que meus passos cessavam, e eu me voltava a ele de braços cruzados, ele comprimia os lábios em uma linha fina e uma feição culpada.  ── Certo, certo. Eu estive ouvindo. 

          ── Então deve estar sabendo que perante a situação, não vão caber suas graças. - Ele assentiu, e eu suspirei pesadamente, impaciente.

          ── Tem estado muito tenso vossa alteza, e acho que sei o que fazer para ajudá-lo. - Franzi o cenho, confuso.

          ── A menos que você tenha a rainha perfeita debaixo de alguma manga sua, acho que não...


~+~


Mais uma vez, durante aquela tarde agora, eu estaria visitando o centro de Stromberg, o mais discretamente possível, Johnny me acompanhava. Paramos ambos os cavalos na entrada da vila, amarrados e seguros, quase escondidos por árvores de troncos largos. O soldado se dirigiu ao bar de sempre, onde muitas mulheres provavelmente já o aguardavam para resolução de pendências, eu conhecia meu amigo, sabia que nada era tão simples quando ele e seu jeito galanteador entravam em questão.

Havia mencionado também, uma descoberta recente, algo que segundo o mesmo "Será de seu agrado, creio eu."

O conjunto de quartos pouco longe do bar e do centro era o local demarcado no pequeno mapa que meu amigo havia me entregue. A terceira porta em uma fileira de outras portas em madeira, com desenhos simplistas que exibiam flores esculpidas na madeira, pequenas margaridas e tulipas, traços delicados ainda que feitos com ferramentas brutas. Me aproximei um pouco mais, até que fosse de alcance do meu punho para bater três vezes. A demora me causava suor frio nas mãos e nuca, sentia meu peito palpitar, e parecia uma eternidade até que a porta se abrisse lentamente e com hesitação, revelando uma silhueta mediana, com os cabelos amarrados em uma única trança comprida. Era ela.

Ao me ver, a garota pareceu desnorteada, paralisada, tanto quanto eu ao admirar seu rosto delicado ainda que sujo de algo que julguei se tratar de poeira.

          ── Eu... Posso entrar? - Questionei com um tom de voz manso, que desacreditei ser o meu. 

Ela assentiu com a cabeça, e abriu mais espaço entre o batente e a porta, para que eu pudesse passar. Ao adentrar notei ser apenas um espaço pequeno dividido entre cozinha e quarto, uma pia em um cômodo e uma cama em outro, poucos pertences no chão próximos a um espelho quebrado no quarto. Ela fechou a porta e se aproximou da única janela que havia, na cozinha, coberta por um lençol, puxou uma fresta do pano e se voltou a mim, parecia confusa com minha presença.

          ── O que vossa alteza faz aqui? Eu... Não entendo, fiz algo de errado? - Um riso anasalado me fugiu, era dócil, sem sombra de dúvidas. 

          ── Não fez nada de errado Liana. Eu me preocupo com meu povo, gostaria de ver como estava se sentindo. - Meus olhos por segundos se fixaram nos dela, assim que ela parou a minha frente, piscou rápido e jurei ter ouvido um engolir em seco, antes que sinalizasse para que eu me sentasse à cama. 

          ── Mil perdões, eu ofereceria uma cadeira, mas é tudo o que tenho. - Ela pareceu decepcionada por este fato. Sim era compreensível, o castelo era cheio de luxos e ouro. Nada que eu de fato me importasse.

          ── Não peça perdão, tudo é muito bonito aqui. - Apesar de nenhum luxo, o ambiente era acolhedor e bem organizado. Meus olhos se voltaram novamente a moça que se mantinha em pé, enquanto eu já havia me acomodado.  ── Por favor, não fique em pé, sente-se também.

Hesitante, mais uma vez, ela se sentou ao meu lado, um pouco distante. Seus olhos se encontravam com os meus diversas vezes e ela parecia ruborizar com cada encontro.

          ── Como tem se sentido? - Ela balançou a cabeça, talvez estivesse divagando.

          ── Estou bem, vossa alteza. - Tensa. Ela ainda acreditava que havia feito algo, certamente.

          ── Eu peço desculpas novamente, é inaceitável o que houve outro dia, eu jamais permitiria que qualquer um do meu povo fosse ferido injustamente. Eu optei por vir pedir desculpas pessoalmente, sem guardas, sem nada alarmante, apenas como alguém comum faria. - Os ombros de Liana se tornavam visivelmente mais leves da tensão ao final desta frase.  ── Eu pensei muito naquele dia. - Meus olhos se prenderam nos dela.  ── Eu entendo que possa parecer estranho, entendo que possa me achar louco e entenderei qualquer coisa que eu possa ouvir depois de agora, mas você... Eu vi algo em você, eu senti algo e eu sinceramente não sei como dizer o que eu posso ter sentido porque... - Eu perdi a fala, pela primeira vez na vida, o príncipe de Echiron estava nervoso demais para dizer algo.

Me encarando nos olhos, surpresa, aquela garota não disse nada também. Não, ela apenas se aproximou, vagarosamente, até que eu sentisse sua respiração em meu rosto, até que pudéssemos ouvir o coração um do outro. E então, eu juntei nossos lábios, sentindo uma euforia e misto intenso de coisas me dominar.

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