Os Oito Reinos

Capítulo XI

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Não conseguia tirar da mente o momento, mesmo a pouca conversa que houve entre ele mesmo e a jovem camponesa de Stromberg, ainda que à mesa só se mencionasse algo do qual não apreciava ouvir; seu casamento e a escolha que deveria fazer, para entregar ao povo uma boa rainha e ao mais tardar, uma contínua linhagem saudável.

          ── E é claro que Pandora parece uma jovem extremamente delicada, a própria e devida imagem da nobreza. Katherine pode parecer intimidadora, e obviamente não transmitir a imagem de pureza e obediência que deve se ter uma rainha, mas suas feições imponentes são cativantes. - O rei que ao retomar os olhos ao filho mais velho, após tomar um gole de seu vinho logo pela manhã ── Já que não existia horário para se degustar um bom vinho ── Limpou a garganta.

          ── Arthur. - Jina, a jovem princesa de Echiron, chamou a atenção do irmão mais velho, sinalizando com os olhos para o rei, que já notara a falta de atenção do príncipe.

          ── Ah... Sim pai, o senhor tem razão. - O rei Peter ergueu uma das sombracelhas na direção do jovem, desconfiado.

          ── Ao menos ouviu o que eu disse? - Arthur se manteve em silêncio.  ── Onde tem andado sua cabeça meu filho? Por um acaso tem bebido tanto vinho, que o álcool agora lhe afeta o raciocínio? - Entretanto, respirou fundo, enquanto Arthur se mantinha inabalável pelos comentários do pai, que já ouvira anos e anos a fio.  ── Precisa se concentrar, escolher uma rainha, se possível, a melhor delas. 

          ── Certo meu pai. - Ele suspirou.  ── Escolherei.

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Na floresta aos arredores da cidade, a fundo na mata, um portal invisível era camuflado por grandes cortinas de samambaia, uma passagem fechada para aqueles que não fossem como os que viviam por de trás. As terras extensas de Calen, eram preenchidas com matas de flores e árvores magicamente vívidas, as folhagens resplandecentes ao toque, denunciavam a posição de animais que por ali passavam, ainda que em segundos seguintes os rastros desaparecessem pelo apagar gradual das luzes azul-esverdeadas, às vezes roxas. 

Fora das florestas, próximo da civilização, um enorme castelo, que parecia feito como em diamante chamava a atenção mesmo ao longe por aquelas terras, a construção parecia brilhar ainda que durante a noite. Pequenas luzes amarelas rodeavam o castelo, enquanto as pequeninas asas batias quase inaudíveis, as pequenas borboletas exalavam mais da magia que circulava e respirava por todo o reino, enquanto que ao topo de uma das sacadas mais altas do palácio translucido, uma criatura de proporções humanas se colocava de pé. Observando de cima as luzes noturnas do centro, das casas, arquejou à medida que as orelhas pontudas se moviam com a presença que se aproximara.

          ── Princesa? - A garota teve a atenção tomada por aquela que surgira em seu quarto. Então espantada pelas luzes amarelas que flutuavam, a mulher se aproximou, e um pequeno riso foi audível de sua alteza. ── São tão mais incríveis de perto.

          ── Nunca havia visto os detalhes do castelo, não é mesmo? - A nova governanta; Araella. Também possuía orelhas de pontas, assim como todo habitante daquele reino, um reino composto por uma das raças mais antigas, mais repletas em conhecimento mágico e alquímico. A governanta possuía pele escura, olhos azul fundo do mar, um tom escuro e intenso ao olhar, os cabelos grandes cacheados, com o comprimento preto azulado e a raiz por completo sem qualquer sinal de melanina, naturalmente sem cor, mas não devido a idade, já que a elfa ainda se encontrava no auge da juventude. O corpo delineado em curvas extremamente perceptíveis, o busto farto e pernas grossas eram o motivo de potenciais encaradas por onde passasse.

          ── Jamais tão de perto, alteza. - A garota sorriu para a nova governanta, e sinalizou para que se aproximasse.

Se a beleza de qualquer mero cidadão de Calen poderia ser extraordinária aos olhos humanos, nada então se comparava a beleza de um membro da realeza, especialmente se tratando da princesa; Kaleen Sylzorwyn, princesa de Calen, possuía a pele branca como os montes nevados mais elevados já vistos, os olhos entre âmbar e verde oliva, sem nunca alguém conseguir afirmar, pois parecia oscilar sempre. Os cabelos louro claros em contraste com sobracelhas louro escuro, o corpo da princesa, mais magro em comparação ao da governanta, ainda que com as curvas mais belas do reino, já dizia-se por lugares a fora.

          ── Achava que apenas O Anar fosse tão precioso mas... Este reino é a coisa mais preciosa que temos. - A governanta afirmou encantada com a vista da sacada, e ao se voltar para a mulher de cabelos cacheados, Kaleen concordou.

          ── A coisa mais preciosa que possuímos, Araella, é nosso povo. - A governanta também concordou.

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Mais tarde naquele mesmo dia, Kaleen havia sido convocada a reunião do conselho, e não que realmente gostasse de comparecer a compromissos tão formais, mas sabia que era de extrema importância.

Todos naquela sala, inclusive os representantes das divisões mágicas, pareciam extremamente apreensivos com a proposta da princesa.

          ── Como todos aqui já sabem e estão cientes, meu pai, o rei de Calen, nos deixou recentemente. Minha irmã mais velha Ellarian desapareceu do palácio há dois dias, e as buscas nos levaram aos rastros que vão além do portal entre nós e Echiron, a terra humana. - Os elfos mantinham a atenção nas falas de sua princesa, que colocava-se de pé, com os olhos fixos no mapa enorme que cobria a mesa diante deles. O mapa representava as terras élficas, e os detalhes terminavam na marcação do portal entre os reinos élfico e humano. Além dele, apenas um extenso borrão negro cobria o mapa; As terras dominadas por humanos. Kaleen juntou as mãos acima do mapa, e ao abri-las, uma bola azul de energia passou a mover o mapa, aproximando a imagem do portal.  ── Eu vou até lá. - De imediato, todos se levantaram, hesitantes quanto a ideia.  ── Sou a mais forte entre nós e como sua princesa, como sua representante, irei até Echiron e trarei minha irmã de volta, trarei sua rainha, farei o que for preciso para isso.