Capítulo Único

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Gaara pegava seu quinto café em menos de uma hora, atraindo olhares desconfiados e preocupados dentro do jornal. Alguns cochichavam o estranho comportamento do colunista, outros já aconselhavam os amigos mais próximos a irem falar com ele e averiguar o que se passava ali.

Gaara trabalhava em um grande jornal, ocupava-se de fazer semanalmente uma coluna sobre o assunto que lhe interessasse. Contudo, já era notável a constância com a qual uma personagem, a quem ele não deu nome, aparecia em sua escrita. A cada nova coluna, Gaara entretinha-se em relatar o cotidiano, as aventuras de uma certa mulher, mulher esta que agora aguçava a curiosidade dos leitores.

Estaria Gaara apaixonado? Ou o colunista apenas dera asas a imaginação e criara uma personagem própria para o trabalho?

Gaara desconversava sutilmente quando perguntavam-lhe algo, driblava o assunto e sempre conseguia desviar o foco da zoação dos amigos.

Como toda quarta-feira, Gaara pegou seu notebook, saindo de sua sala e avisando que iria tirar sua tão merecida hora de almoço. A cafeteria que costumava frequentar ficava ao lado do prédio empresarial, Gaara olhou mais uma vez o relógio ao sentar-se e realizar o pedido a garçonete.

Abriu o notebook, correndo os olhos rapidamente pelo ambiente, tentando detectar a presença pela qual vinha esperando a semana inteira. Assim que a garçonete lhe serviu o café e o pedaço de bolo, Gaara ouviu o sino da porta anunciar o novo cliente.

E ali estava ela. Às quatorze horas e vinte minutos, como toda quarta-feira. Sozinha, andando sobre um salto, altiva e elegante.

Não poderia dizer que ela era sua nova paixão, infelizmente todas as provas depunham contra ele e gritavam ao seu ouvido que já não era só paixão. Que dramático... Quase ouviu seu consciente dizer: "Logo ela? Sem chance..."

A primeira vez que a viu foi no elevador. Ela não o olhara, não falara com ele, Gaara juraria que ela nem mesmo vira que dividia o elevador. Foi a situação mais bizarra que ele já havia presenciado. A mulher entrara no elevador enquanto calçava os dois saltos, posicionou-se de frente ao espelho e conseguiu trançar o cabelo longo da raiz às pontas, colocou um colar simples sem se atrapalhar com o fecho, maquiara-se do nono ao décimo andar, e, mesmo com aquela arrumação atrapalhada, corrida e feita em apenas cinco minutos, conseguira ser a mulher mais bela que ele já tinha visto.

Assim que o elevador parou no décimo primeiro andar, ele a viu descer e, para maior espanto, desceu junto só para averiguar o que desconfiava. Aquela mulher, ali? Não, alguém como ela pertenceria ao andar de moda, não ao departamento de política!

Coincidentemente, naquele mesmo dia, encontrou-a na cafeteria, na mesa do canto esquerdo onde ele costumava se sentar. Ela havia soltado os longos cabelos loiros, que agora caíam em seu rosto, impedindo-a de ler algum documento importante. Os lábios rosados contraíam-se, como se ela se recusasse a aceitar o que lia. Gaara, entretido demais, não comia, permanecendo sentado em uma mesa um pouco distante, observando-a apenas. Aos poucos, aprendeu a ser mais discreto, capturando-lhe peculiaridades, hábitos, rotinas, gostos. Não foi à toa que passou a comer bolo de chocolate no almoço, não é mesmo?

Apreciava observá-la, ela mexia com algo em sua mente (ou seja lá onde fosse). Impressionantemente, Gaara só conseguia escrever suas colunas após minutos e minutos de contemplação, e, por mais que tentasse, sua mão relutava, forçando-o a colocar aquela mulher, mesmo que indiretamente, em seus trabalhos. Ela era sua musa, no mínimo.

E era por isso que ele estava ali, sentado na mesma mesa, comendo a mesma coisa, apenas esperando por ela. Viu-a sentar e abriu o editor de textos do seu computador, esperando que a criatividade se convertesse em palavras.

Doce StalkerOnde histórias criam vida. Descubra agora