Na horizontal, o celular para de gravar quando Armin se sente seguro e satisfeito o suficiente com o seu trabalho. Pelas últimas anotações na pasta do projeto e o passar das semanas, foi capaz de criar o seu personagem, Erick.
Após ensaios, Armin gravou uma dramatização interpretando-o.
O roteiro é apenas um:
Erick mora no interior de São Paulo e perdeu os pais na infância, Clara e Gustavo, nas mãos de bandidos altos com sorrisos assustadores. Conseguiu fugir junto de sua irmã, Mikaela, e jurou matar cada um do grupo que destruiu metade de sua família. Mesmo na vida adulta, com emprego fixo em um estúdio de tatuagem e dinheiro investido, Erick ainda almeja alcançar sua ambição infantil.
Apesar da fachada rígida, ainda tem seu lado amável para quem é digno de sua confiança. Gosta de jogos online, pizza de frango com catupiry, shows de madrugada e tem o maior conhecimento da mixologia que você já viu. Aprecia desenhar, leva horas para ver uma série e curte eventos privados com amigos íntimos.
Sendo assim, Armin grava vários vídeos curtos de diversas situações e emoções que Erick poderia manifestar, posteriormente juntando-os em um só. Se afeta especialmente quando dramatiza a reação do personagem ao ter sua confiança quebrada. O controle dos últimos segundos de gravação se esvaem por entre os seus dedos. As lágrimas que Armin dá não são técnicas, mas ansiosas.
Aquilo é... Eren.
Aquilo é ele.
Cada vez que seu coração bate, dói. Sente as costelas quebrando e o pulmão queimar, mas não há água por perto. A culpa continua perfurando o além de sua turbulenta consciência, no entanto, está feito.
O projeto está pronto.
Estão há cinco meses se encontrando, e Armin olha para a câmera com culpa.
— É só um projeto... — sussurra para si mesmo, limpando o rosto levemente avermelhado. Se mentisse mais algumas vezes, talvez acreditasse.
O único detalhe é que Armin parou de atuar com Eren há muito tempo.
O aplicativo de vídeo ainda está aberto e pronto para gravar, mas ele só sabe olhar seu reflexo angustiado. O projeto está preparado para a entrega, contudo, Armin não tem força para o fazer. Ele não consegue.
Na mesma pasta, com o vídeo e scripts, também há o check-list de todas as coisas que planejou para chegar até aquele nível de intimidade com Eren. Todas suas mentiras escritas ao mais cru e nu egoísmo, enfileiradas e organizadas em bloco de notas aparentemente inofensivo.
Ler aquilo afunda ainda mais o seu conceito sobre si mesmo.
É inegável que, semanas após o aniversário de Bertholdt, Eren e Armin se encontraram com mais frequência e construíram uma amizade totalmente genuína. Dói saber que, ao passar do tempo, tudo que saia da boca de Armin foi real, as coisas que fazia para Eren são verdadeiras.
Estava certo de que tudo com Eren ruiria após a entrega do projeto, porém, a única certeza absoluta que ronda sua mente é que não consegue se afastar dele. Não ontem, agora ou semana que vem.
Armin poderia, mas não quer se afastar de Eren.
Talvez o problema não fosse uma "homenagem" do real transmutado em ficção, mas sim o fato de que se aproximou por puro interesse, mentindo por dias só para conseguir algo em troca. Entrou na vida dele, riu, comeu na casa de seus pais, dançou, jogou e por noites dormiram juntos em ligação depois de conversas que ficarão tatuadas na memória para sempre.
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Luz, Câmera, ERICK! (Eremin)
FanfictionArmin Arlert está publicamente desesperado e precisa de um personagem para o projeto semestral da faculdade de artes cênicas. O tatuador Eren Jaeger é detestável, mas perfeito para o serviço. Atravessando o orgulho, Armin deve desfazer a rivalidade...